Figurinhas da Copa geram corrida por álbuns e tiram bancas de jornais do esquecimento em Fortaleza

Movimentação atípica gera mais renda para os estabelecimentos e cria momentos de socialização entre famílias e amigos

O lançamento do álbum oficial de figurinhas da Copa do Mundo de Futebol 2022 tem levado a uma corrida às bancas de jornais e revistas de Fortaleza, pontos mais conhecidos de venda, desde o dia 15 de agosto. Só no dia da estreia, uma delas chegou a vender 12 mil pacotinhos.

A novidade, que já teve muito engajamento em anos passados de Copa do Mundo, tem dado um renascimento a bancas de jornal, com movimentação intensa e crescente. Esquinas, praças e calçadas de Fortaleza com bancas têm chamado a atenção e virado ponto de parada de quem busca completar seus álbuns. 

Comerciantes e funcionários dos estabelecimentos comemoram o sucesso da “brincadeira” que está aquecendo o faturamento nas últimas duas semanas. Prova disso é que já faltam álbuns e as figurinhas estão escassas em várias unidades.

Para completar o álbum, o colecionador precisa de 670 figurinhas. Só o livro custa entre R$12 e R$44,90, dependendo do modelo. Cada envelope com cinco cards é vendido por R$4 (no último Mundial, custava R$2).

Ivanildo Júnior, dono da banca Avenida Show, no Cocó, garante que as vendas de figurinhas “explodiram” - em um dia apenas, ele chegou a vender mais de mil pacotes. “O movimento está um espetáculo”, resume.

Segundo ele, também se formou um “clube” que se reúne na banca para a troca de figurinhas, de crianças a adultos, incluindo taxistas, motoristas e autônomos. As noites costumam ser agitadas no entorno do local.

Ele ainda se considera pé quente: “aqui, três ou quatro pessoas já conseguiram o Neymar dourado”, em uma referência à figurinha rara que chega a ser vendida por R$9 mil na internet.

Assim como diversos gestores de bancas ouvidos pela reportagem, Ivanildo aguarda novos repasses da empresa distribuidora dos álbuns e pacotes porque o movimento tem sido considerado atípico.

Entre as apostas ouvidas, está que a comunicação pela internet se aperfeiçoou desde a Copa passada, ajudando na disseminação das informações, e que a Seleção Brasileira, neste ano, tem condições de se tornar hexacampeã. A saber em dezembro.

'Já gastaram R$600 de uma vez'

Na Praça do Carmo, no Centro de Fortaleza, os álbuns já esgotaram e as figurinhas são compradas num ritmo “chegou, saiu”. Os poucos envelopes que sobravam na Banca dos Concursos cabiam na mão da vendedora Elizangela Costa. “Tem cliente que compra de 50 pacotes”, revela.

Segundo ela, há até mesmo quem deixe novas compras já pagas e aguarde a comunicação da chegada para ir buscar.

“Nosso principal público são alunos das escolas daqui do Centro, mas também tem adulto e idoso”, explica.

Enquanto a reportagem esteve no local, uma mulher esteve com o filho pequeno procurando o álbum, mas se deparou com a falta. Ficou de voltar outro dia.

Na Banca Taciana, no Meireles, Victor França confirma que recebeu clientes que rodaram por toda a cidade e não encontraram mais álbuns disponíveis. “Chega a ser um movimento absurdo”, considera em relação à banca, que funciona há 30 anos.

De acordo com o vendedor, o perfil dos compradores é de jovens de 8 a 25 anos de idade, mas pertencentes às classes de classe média para alta, “disposta a gastar com isso”. Mesmo assim, “aquela família que há alguns anos comprava um álbum para cada filho, agora só compra um”, observa. 

R$536
é o valor mínimo que o fã precisa desembolsar para completar o álbum se não tirar nenhuma figurinha repetida. Porém, a estimativa de colecionadores profissionais é de que, na prática, cada pessoa gaste cerca de R$3 mil.

Entre os clientes que mais chamaram a atenção de Victor, estão um homem que comprou três pacotes com 50 envelopes cada, desembolsando R$600 de uma única vez. Outro estava disposto a pagar R$4 mil em uma caixa de álbuns.

Embora tenha realizado um novo pedido para a reposição, o vendedor nem consegue arriscar quando os materiais devem chegar. “Infelizmente, a gente faz pré-venda só do que sabe que vai ter, e não temos previsão”, diz.

Francisco Edson, que toca uma banca na Avenida Santos Dumont, também enfrenta o dilema da falta de álbuns.

“Se não tem o álbum, ninguém vende figurinha. Vou mandar é fabricar um”, brinca.

Mesmo sem o item, na tarde desta quarta (31), ele só tinha o “restinho” de um pacote.

Socialização facilitada

Quem garantiu 10 pacotes no local foi a cabeleireira Cíntia Santos, como mimo para o filho José Guilherme, de 13 anos, que já completou cerca de um terço do álbum. “Todo dia ele pede figurinha, e pelo menos 10. Tenho que me virar nos 30 e puxar muito cabelo”, ri. 

No entanto, para ela, a coleção vai além: José participa de grupos de troca e roda shoppings da cidade em busca de trocar as repetidas, junto com o irmão mais velho. Além disso, com a brincadeira do momento, o jovem “esqueceu até mais do celular”.

O comerciante Ivanildo Júnior arrisca até mesmo uma análise sociológica do fenômeno, que vai da nostalgia à construção de novos laços.

“Tem pessoas com memórias dos álbuns de quando eram crianças e hoje estão fazendo com os filhos. Então, pegam uma água de coco e ficam naquele momento de descontração, lúdico, que aproxima o pai do filho. Outros trocam com amigos da escola, ajudando na socialização, e até a pessoa tímida combate a timidez”, analisa.