Mais de 100 vidas já tiveram o fim abreviado pelas enxurradas e deslizamentos que assolam localidades do Grande Recife, em Pernambuco. Nessa terça-feira (31), 7 agentes e 4 cães do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) foram enviados ao estado para auxiliar nas buscas.
Um dos homens, o capitão Eliomar Alves, 30, descreveu ao Diário do Nordeste o cenário que tem presenciado na cidade de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, onde os profissionais cearenses tem atuado desde a manhã desta quarta (1º).
Os bombeiros e cães cearenses – incluindo Nala, cadela-companheira de Eliomar – viajaram a Pernambuco para facilitar o trabalho de revezamento das equipes, já que tanto os agentes como os animais sofrem de estafa devido à intensidade da operação.
“Os turnos são de 12 horas, o nosso de hoje deve terminar lá pelas 19h. Caso as vítimas não sejam localizadas, outra equipe continua o trabalho”, descreve. Em Camaragibe, resta ser encontrada uma vítima – cuja história, segundo Eliomar, foi a que mais o tocou.
Já foi encontrado o corpo da irmã dessa moça, mas ela mesma ainda não foi localizada. A família está aguardando isso para fazer o enterro das duas irmãs juntas. Isso nos toca bastante e motiva a continuar.
A vítima que permanece soterrada é a doméstica Mércia do Nascimento, de 43 anos, irmã de Rute Soares, de 49, dona de casa cujo corpo foi encontrado na segunda-feira (30), segundo relata Renan Rubens, 25, sobrinho delas.
“Eram 3 casas coligadas: quando a barragem desceu, jogou tudo pra baixo. A filha da Mércia ficou soterrada até a cintura, e foi ajudada por um vizinho. Mas ela, que tava dormindo no quarto, ainda não encontramos”, diz Renan.
As irmãs deixaram, cada uma, três filhos. O corpo de Rute foi congelado pela família, que aguarda a retirada de Mércia para que sejam veladas e sepultadas juntas.
Uma das maiores dificuldades das buscas e resgates de corpos, segundo o capitão, é a densidade da lama que resulta dos deslizamentos – e a impossibilidade de prever onde as vítimas foram parar.
“Não tem um padrão: não é porque a casa veio parar neste ponto que a vítima estará aqui. Não tem isso. É preciso preparar o cenário com calma pra passagem dos cães, pra que eles localizem os corpos e a família tenha um alento”, resume Eliomar. “Quando os cães passam, é um sopro de esperança.”
Bombeiro atuou no desabamento do Edifício Andréa
Ao descrever a tristeza de ver um cenário de destruição num estado-irmão do Ceará como é Pernambuco, Eliomar Alves relembra outras operações marcantes das quais participou, nos 6 anos de carreira como agente do CBMCE. Uma delas foi o desabamento do Edifício Andréa.
“Cada operação teve algo peculiar, mas o Andréa foi em casa, né? Teve um clamor da população. Fomos acionados assim que aconteceu, e trabalhei no resgate do Davi. Depois dele, entramos com os cães e passei quase 24 horas seguidas lá. Fui até o final”, narra.
O capitão também integrou operações importantes das quais os agentes cearenses participaram, como as buscas de vítimas após o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais; e os resgates durante as enchentes em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
“Já temos uma certa experiência, sabemos que somos esperança não só pras famílias, mas pros próprios colegas bombeiros pernambucanos. Quando a gente chega, junto dos cães, dá uma esperança coletiva. Nosso intuito é voltar ao Ceará quando todas as vítimas forem localizadas”, conclui Eliomar.