Estudantes da rede municipal de ensino de Acopiara, cidade da região Centro-Sul a 345 km de Fortaleza, estão sem aulas há 10 dias após a publicação de um decreto do prefeito da cidade, Antônio Almeida, que suspendeu as atividades escolares até o dia 28 de abril. A medida gerou reações negativas de pais e responsáveis.
Segundo postagem nas redes sociais oficiais da Prefeitura, no dia 2 de abril, o ato é justificado pelas “fortes chuvas que deixaram as estradas intransitáveis na zona rural, bem como a falta de merenda e de transporte escolar, não sendo possível o devido contrato sem o devido processo licitatório”.
No dia 5 de abril, pais de alunos de Acopiara realizaram uma manifestação durante audiência pública na Câmara Municipal, três dias após o anúncio do decreto. Eles levaram cartazes que diziam “Educação não é gasto” e “#VoltaÀsAulasJá”.
A Câmara Municipal de Acopiara apresentou, nesta semana, um requerimento para solicitar a convocação dos secretários municipais da Infraestrutura e da Educação a fim de prestarem mais informações acerca do decreto.
O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) também acompanha a situação. “Foi instaurado Procedimento Administrativo pela 3ª Promotoria de Justiça de Acopiara e foi requisitado informações à prefeitura municipal. O MPCE ainda aguarda retorno”, informou em nota.
Prejuízos para a educação
O Diário do Nordeste conversou com familiares de estudantes matriculados na cidade. Eles narram a indignação da população e a apatia da gestão pública em abrir um canal de diálogo.
Segundo a mãe de duas alunas (identidade preservada), uma de 5 e outra de 8 anos, explica que está “todo mundo muito revoltado”, mas que os protestos não são ouvidos porque, desde a divulgação do decreto, a Prefeitura não dá nenhuma manifestação.
“Está sendo muito difícil, principalmente para as crianças. Eu trabalho, então a vó delas tem que ficar mais tempo com elas. Elas reclamam muito”, conta.
Elas veem as crianças que estudam na particular e acham que eu não quero levar. Todo dia minha filha menor pede pra passar em frente à escola pra ver se não tem ninguém mesmo.
A tia de outros estudantes, que também preferiu não se identificar, relata ainda que usar a chuva como argumento não justifica a decisão.
“Tá chovendo sim, mas não tanto igual antes. Entendo que teve vários lugares onde realmente não passava ônibus, mas suspender as aulas para todas as crianças foi exagero. Tem muita criança não só nas roças, mas as da cidade também ficaram sem aula - e as chuvas destruíram mais a área urbana”, percebe.
A reportagem pediu, por dois dias, um posicionamento à assessoria de comunicação da Prefeitura de Acopiara sobre os motivos para a suspensão das aulas, bem como o calendário de reposição das atividades escolares, mas não foi respondida até a publicação desta matéria.