Entre o fingir e o orgasmo múltiplo: saiba os benefícios do prazer sexual para mulheres e homens

No Dia Mundial do Orgasmo, comemorado nesta quarta-feira (31), especialistas apontam que o momento está relacionado à melhora do sono, humor, dores e qualidade de vida

orgasmo é o ápice do prazer sexual. Seja sozinho ou sozinha, ou com um parceiro ou parceira, o momento traz um imediato alívio de tensões, mas também gera outros benefícios ao corpo e à mente que podem ser mais duradouros.

Neste 31 de julho, quando se celebra o Dia do Orgasmo, o Diário do Nordeste ouviu dois especialistas para tirar dúvidas sobre as peculiaridades da excitação tanto em homens quanto em mulheres. Mais do que quebrar tabus, eles defendem naturalizar a discussão e debater a saúde integral.

O urologista e andrologista Eduardo Miranda explica que o orgasmo é um processo cerebral que ativa diversos núcleos com a liberação de substâncias ligadas ao prazer (como noradrenalina e dopamina), decorrente de um aumento progressivo de excitação.

“É uma biologia complexa que ainda não foi totalmente desvendada porque existem várias pessoas que se estimulam com partes diferentes do cérebro”, afirma.

No caso do homem, de forma reflexa, existe uma contração muscular pélvica que contrai a próstata e as vesículas seminais e funciona como um bombeamento de sêmen. No entanto, nem sempre essa equação gera o gozo.

“Nas pessoas normais, o orgasmo e a ejaculação acontecem juntos. Mas pode haver orgasmo sem ejaculação, ejaculação sem prazer e uma série de combinações possíveis”, diferencia.

Além do alívio rápido de tensões, aponta Eduardo, o orgasmo pode ser associado a uma maior longevidade. “Quem é sexualmente ativo tem que estar bem com seu corpo e bem com o relacionamento, então é uma forma de ligação, de conexão, de bem estar físico. Quem transa mais vive mais e tem mais índices de felicidade”, ressalta.

Mulheres ainda fingem orgasmo?

Enquanto nos homens a associação entre orgasmo e ejaculação é mais clara, parte das mulheres sequer sabe o que é um orgasmo. A ginecologista e sexóloga Rayanne Pinheiro lamenta que muitas pacientes chegam ao consultório sem essas informações já que, historicamente, o homem sempre foi mais estimulado a se masturbar.

“Percebo com frequência que muitas já chegaram ao orgasmo e não sabem. Elas acham que é uma sensação muito mais forte e impactante do que realmente é. Acham que é mais demorado, mais prolongado, enquanto a gente sabe que dura poucos segundos”, relata.

Sem esse autoconhecimento, algumas continuam fingindo orgasmos. Segundo Rayanne, parte delas porque estão desconfortáveis com o ato sexual e querem finalizá-lo logo. Outras, para agradar ao parceiro e dar algum conforto a si mesmas.

“Naquele momento, aquilo valida ela como mulher, porque ela acredita que é o comportamento esperado para uma mulher ‘normal’. Quando ela finge ter, ela se valida na frente do parceiro como uma mulher capaz”, alerta.

No entanto, explica a sexóloga, esse fingimento reforça a crença de que a mulher deve sempre ser gentil e abdicar do próprio prazer, além de atrapalhar a evolução dos relacionamentos.

“Se a performance não agradou e mesmo assim você valida, a pessoa acha que está no caminho certo. Isso retroalimenta uma relação que não está sendo positiva”, defende. “Quando você para de fingir, você coloca o outro no desconforto. Ele vai ter que fazer um exercício para entender melhor  e se propor a trabalhar melhor para o seu prazer”.

Quanto tempo dura um orgasmo?

Nas mulheres, o orgasmo tem intensidades diferentes em cada relação sexual. Geralmente, segundo a ginecologista, a sensação dura de 4 a 6 segundos, podendo variar até 9 segundos dependendo do nível de envolvimento e excitação no ato.

No entanto, existe uma condição mais rara, chamada de “status orgasmus”, em que a mulher pode passar de 20 a 60 segundos tendo a sensação orgástica. 

“É um superorgasmo que não é comum, mas pode acontecer decorrente de vários orgasmos em sequência, porque a mulher é multiorgásmica. É uma sequência com intervalos tão pequenos que não são identificáveis”, define Rayanne.

Independente da duração, ela garante que o orgasmo pode gerar:

  • melhora do humor
  • diminuição do estresse
  • melhora do sono
  • alívio de dores
  • retroalimentação do desejo sexual.

Homem que não goza

Eduardo Miranda informa que alguns homens podem ter orgasmo retardado ou “anorgasmia”, condição em que não consegue gozar ou quando demora mais de 25 minutos em pelo menos 75% das tentativas.

O fenômeno é multifatorial e pede a investigação das causas, pois “não existe tratamento direto nem remédio capaz de induzir o orgasmo”. Os motivos podem incluir:

  • masturbação excessiva com ou sem consumo de pornografia;
  • uso de medicamentos antidepressivos, antipsicóticos ou calmantes, que podem bloquear o balanço de neurotransmissores;
  • diminuição da sensibilidade peniana, a exemplo de pacientes com deficiência ou diabéticos;
  • questões psicológicas, “como transar por obrigação porque não sente mais prazer com aquela pessoa”;
  • alterações hormonais, como testosterona baixa.

A demora para o ápice, inclusive, pode ser dolorosa. Existe uma condição chamada de blue balls, ou “síndrome das bolas azuis”, decorrente do aumento da pressão testicular. 

Segundo o andrologista, quando o homem se estimula sexualmente, existe um aumento da produção do sêmen, seguida de uma contração dos dutos testiculares para facilitar a transmissão do plasma seminal. Porém, quando não ocorre o gozo, há um aumento de pressão nesses dutos. 

Isso pode levar a uma dor “semelhante a um chute no saco”, ilustra. O fenômeno é temporário e pode se resolver tanto pela ejaculação como pela espera, quando a pressão volta ao normal.

No caso oposto, da ejaculação precoce, é possível a prescrição de remédios que mexam com os neurotransmissores e façam com que o paciente dure mais.

Vício em pornografia

Já mencionada pelo médico, a “síndrome do punho de ferro” descreve o hábito masturbatório compulsivo, geralmente durante o consumo de vídeos adultos. O especialista nota, hoje, uma busca incessante por prazer imediato e alívio de tensões que, em muitos casos, só é satisfeita por meio da pornografia.

“Isso pode gerar um ciclo vicioso se o homem buscar várias vezes ao dia”, alerta. “Torna-se um padrão disfuncional pelo poder viciante do orgasmo. Com as redes sociais, com a internet, você tem acesso a um conteúdo infinito. Como nossa vida é cheia de frustrações, as pessoas acabam recorrendo a esse tipo de situação para buscar o alívio”.

Miranda destaca que essa busca pelo orgasmo repetidas vezes - “porque é difícil o cara gozar 3 ou 4 vezes por dia com a mesma parceria ou várias parcerias” - pode começar a atrapalhar a rotina do indivíduo e levar de transtornos compulsivos a problemas de relacionamento.

Primeiro, porque “os caras de hoje que são modelos de sexualidade são da pornografia, que é uma coisa irreal. Se o cara não consegue reproduzir o vídeo, que é editado, ele fica frustrado. E, quanto mais preocupado, pior é a sensação orgásmica dele”. 

Segundo: há o risco de que, numa relação habitual, ele não consiga ter os mesmos estímulos provocados pelas imagens e não se excite mais.

Benefícios do orgasmo feminino

Rayanne Pinheiro ressalta: por questões anatômicas, a penetração vaginal não é o mecanismo mais eficiente para levar as mulheres ao orgasmo. Afinal, o clitóris, ponto onde elas sentem maior estímulo, está fora da vagina.

Em muitas relações, lembra ela, “o estímulo direto sobre o clitóris, ao mesmo tempo em que se recebe a penetração, é encarado como se ela estivesse burlando ou roubando para chegar ao orgasmo”. Por isso, a especialista defende que elas conheçam o próprio corpo e comuniquem suas preferências aos parceiros.

20%-30%
Esse é o percentual de mulheres que gozam com penetração. Isso também depende do nível de excitação e fantasia do ato sexual.

“As condições mais frequentes à dificuldade de ter orgasmo são os tabus religiosos e a criação castrativa. Isso bloqueia as mulheres de uma forma muito potente”, analisa. “É a masturbação que vai gerar conhecimento, baseada numa repetição mesmo, de descobrir como se tocar, com que intensidade, com que velocidade. É esse caminho que as mulheres precisam encontrar”.

Contudo, a médica ressalta que o uso de drogas e medicações, principalmente psiquiátricas, pode aumentar o hiato de tempo necessário de estimulação para chegar ao orgasmo ou até abolir a capacidade de senti-lo. Mulheres que usam esses remédios precisam ficar atentas a esses prejuízos e buscar ajuda para tratamento.

Dicas para o orgasmo feminino

A ginecologista Rayanne Pinheiro pensa ainda que o orgasmo é o maior estimulador do desejo sexual feminino, especialmente “num momento em que temos muitas mulheres com diminuição do desejo sexual, principalmente em relacionamentos prolongados”.

Para ela, o principal conselho é ser egoísta. “Não há nada de errado em você pensar no seu prazer primeiro. Acabe com a ideia de que está ali para servir. Muitos homens tentam validar a capacidade de dar prazer à mulher, então quando você tem orgasmo e sente prazer, o outro também sente prazer. No final, todo mundo ganha”, acredita.

Entre os fatores ideais para um bom orgasmo feminino, ela cita:

  • saber de antemão que posições e fricções dão prazer pessoal;
  • ter um parceiro que tenha um bom jogo sexual e esteja atento aos sinais que você dá;
  • não ficar refém do parceiro para chegar ao orgasmo e aliar o melhor dos dois.

“Quando a mulher cria essa autonomia e consegue encontrar as formas com que sente prazer, o jogo vira e ela consegue ter relações muito mais prazerosas, desejo e uma vida sexual plena”, conclui.

Dicas para o orgasmo masculino

O médico Eduardo Miranda também recomenda que os homens não fiquem muito preocupados com o próprio prazer.

“Vá para a relação de peito aberto e foque em contemplar o momento presente. Muitas pessoas se preocupam com performance, mas isso gera ansiedade, que gera adrenalina, e ela é um dos principais bloqueadores do orgasmo”, avalia.

Para acumular boas experiências, o homem deve manter uma boa saúde sexual, com desejo em dia, boa rigidez e controle peniano e boas conexões de relacionamento, além de trabalhar preliminares e fazer “a coisa mais natural possível”.

Além disso, sugere exercícios pélvicos para melhorar o controle orgásmico, já que o ideal é o homem estar com a musculatura relaxada para sentir melhor a intensidade do prazer.

“As pessoas hoje vivem muito tensas e isso leva a contratura dessa região, que pode trazer dificuldades sexuais e miccionais. O cara que trabalha melhor essa região vai conseguir ter melhor performance, melhor ereção e maior volume ejaculatório”, finaliza.