A situação caótica no Instituto Dr. José Frota (IJF), maior hospital municipal da capital cearense, provocou uma visita de representantes do Conselho Municipal de Saúde de Fortaleza (CMSF) na manhã desta terça-feira (19). Nesta semana, o Diário do Nordeste denunciou carência de insumos básicos e até cancelamento de cirurgias na unidade, cujo atendimento tem piorado nos últimos meses, segundo profissionais e sindicatos.
Especializado no tratamento de traumas de alta complexidade, o IJF é mantido pela Prefeitura de Fortaleza. Nas últimas semanas, o Conselho afirma ter recebido diversas denúncias e entendeu que o Instituto está numa situação difícil para cobrir os buracos assistenciais.
“Agora a situação chegou a um total descalabro”, considera Cláudio Ferreira do Nascimento, membro do Conselho. “Você tem denúncias de acompanhantes com pacientes em péssimas condições, ou seja, sem acesso a medicamento ou insumos”.
Segundo Ferreira, o estabelecimento tem demandas históricas e recebe frequentes reclamações de trabalhadores da saúde sobre a falta de condições de trabalho por conta de carências e da defasagem do próprio quantitativo de profissionais.
“Há uma situação de adoecimento não apenas dos usuários do serviço, mas dos trabalhadores também: médicos, enfermeiros, técnicos, enfim, o conjunto dos trabalhadores que está aqui sofrendo com condições extremamente precarizadas de trabalho”, ressalta.
Além de Cláudio, mais quatro membros se reuniram com integrantes da gestão do equipamento. O objetivo foi colher informações e cobrar medidas imediatas para garantir as devidas condições de assistência, dentre as quais:
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construção de um plano de ação imediato que garanta a reposição de insumos e medicamentos;
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pagamento de trabalhadores e cooperativas;
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formação de comissão de acompanhamento das ações;
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transparência orçamentária.
Também integrante do Conselho, Regina Claudia conclui que o modelo de gestão de recursos adotado pela Prefeitura de Fortaleza retirou a autonomia do IJF. Hoje, essa alocação é definida pelo Comitê Municipal de Gestão por Resultados e Gestão Fiscal de Fortaleza (Cogerffor), ligado à Secretaria Municipal de Governo (Segov). “O IJF precisa de orçamento e finança, e só quem pode dar é o Cogerffor”, explica.
Os conselheiros também querem entender qual é o gargalo que levou à situação precária da unidade, se pela falta de repasses financeiros ou por problemas de gestão deles, para atribuir efetivamente as responsabilidades de cada ente. Uma nova visita à unidade foi marcada para a próxima segunda-feira (25) para conversar com pacientes.
Medida judicial
Também na frente de responsabilização, no último dia 7 de novembro, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) ingressou com uma Ação Civil Pública (ACP) após a constatação dos problemas de abastecimento de remédios e insumos na unidade.
Caso seja acatado pela Justiça, o processo pode bloquear R$20 milhões da Prefeitura de Fortaleza e tornar réus tanto o prefeito José Sarto quanto o secretário municipal de saúde, Galeno Taumaturgo, e o superintendente do hospital, José Maria Sampaio Menezes Júnior.
Relatos dos profissionais que trabalham na unidade também complicam o cenário, segundo Plácido Filho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço de Saúde de Fortaleza (Sintsaf). A lista de reclamações inclui:
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alimentação insuficiente e de má qualidade
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falta de medicamentos (remédios para dor e pressão alta, anti-inflamatórios, anticoagulantes)
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equipamentos quebrados ou sem manutenção
“O maior hospital de urgência e emergência de Fortaleza está agonizando, pedindo socorro. Tem que ser feita alguma coisa”, conclama.
Pacientes afetados
A atendente de loja Maria Jusciele Pereira, 29, sofreu queimadura de segundo grau por óleo quente e precisou esperar uma semana por atendimento no IJF. Nesse período, a jovem diz que faltou o básico: material para cirurgia e remédio para dor. “Foi um pouco burocrático. Quase não dava”, relata.
No fim de outubro, a avó de 89 anos da dona de casa Raquel Lima caiu e quebrou o braço. Desde então, a idosa, que tem Alzheimer, ainda aguarda uma cirurgia porque não há traumatologista disponível na unidade. Em paralelo, a família já precisou desembolsar mais de R$ 700 em medicamentos, também em falta.
“Não tem nada. Eu compro do algodão ao antialérgico que ela pegou por causa do ar-condicionado sujo. A alimentação dela vem tarde demais, 13h30. Para acompanhante, só 14h30”, revolta-se. “A gente fica no chão, no papelão. Não tem lençol, não tem nada”.