A quantidade de óbitos por decorrência de picadas de abelha, no Ceará, cresceu em 2022, chegando a cinco mortes. O quantitativo registrado nos primeiros oito meses deste ano já é mais que o dobro de todas as mortes registradas em 2020 (dois) e, superior, também, ao acumulado no ano passado (4). Os dados foram levantados pela Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado a pedido do Diário do Nordeste.
A última morte registrada neste ano aconteceu em agosto passado. Antônio dos Santos Mota, de 52 anos, pilotava uma motocicleta quando foi picado por abelhas, na zona rural de Parambu. Ele era alérgico. Morreu a caminho do hospital. No ano passado foram 4 óbitos e, em 2020, duas pessoas morreram por decorrência da picada deste inseto. Setembro marca a temporada em que aumentam os riscos aos ataques de abelha.
A quantidade de ocorrências que não decorreram em morte também está em alta. Conforme levantamento do Corpo de Bombeiros, o ano de 2022 já acumula 3.150 casos, quase se equiparando a todo o ano de 2021, quando foram registradas 3.866 ocorrências.
- 2019: 3.799 picadas de abelha
- 2020: 4.287
- 2021: 3.866
- 2022 (até agosto): 3.150
Embora alto, a tendência é de que este número sofra ainda mais majoração nos próximos meses devido à época da florada - período correspondente entre os meses de setembro a novembro. Conforme explica o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Giuliano Rocha, neste período, as abelhas tendem a migrar em busca de outros locais para fazer suas colmeias.
Esse processo migratório acaba se tornado "um risco" uma vez que alguns enxames de abelhas podem entrar em residências ou comércios. "Nesses casos, o recomendado é que a área seja inutilizada. Se possível, fechar o local e evitar ruído. Abelhas costumam ficar agitadas quando há grandes barulhos", detalha Giuliano. Uma única colmeia pode ter até 80 mil abelhas.
Cuidados
Diante de um ataque iminente de abelha, o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Giuliano Rocha, recomenda que o rosto seja protegido, por ser a parte mais sensível do corpo. "Quando há picada de abelha, aquele ferrão solta um feromônio o que atrai outras abelhas. Portanto o conselho é de que a vítima corra e procure abrigo", detalha.
O ataque aos alérgicos demanda a maior atenção. Esse grupo de pessoas é o que apresenta maior vulnerabilidade e, por conseguinte, chances de complicações diante do ataque. "Quem tem alergia poderá ter uma endemia de glote, insuficiência respiratória e poderá morrer. O ideal é tomar imediatamente um antialérgico e ir ao hospital", acrescenta Giuliano.
Mas, essa ação rápida nem sempre é possível. Seja pela ausência do medicamento naquele momento, seja pela distância até uma unidade de saúde - uma vez que muitos ataques ocorrem em zonas rurais - ou, seja até mesmo pelo desconhecimento da alergia.
Mas, essa ação rápida recomendada pelo oficial nem sempre é possível. Seja pelo desconhecimento da alergia, seja pela distância até uma unidade de saúde - uma vez que muitos ataques ocorrem em zonas rurais - ou, seja até mesmo pela ausência do medicamento naquele momento
Este último cenário custou a vida do educador física Damião Júnior Batista dos Santos, de 37 anos. No dia 7 de dezembro de 2017 ele morreu ao ser picado por abelhas quando se dirigia ao seu trabalho, na cidade de Jucás. "Era bem cedo, ele saiu de casa [em Iguatu, cidade vizinha á Jucás] para trabalhar e, no caminho, foi picado", relembra a então esposa Sidneia Braga de Sousa.
Quando ele foi socorrido, ainda na estrada, ele relatou ser alérgico. Mas, naquele dia, ele não tinha o remédio na bolsa, o que era habitual, já que ele já tinha sido picado outras vezes. Por isso considero ter sido uma fatalidade.
Sem o medicamento, Damião sofreu edema de glote, faltou oxigênio no cérebro e, em seguida, teve morte cerebral diagnosticada ao chegar ao hospital de Juazeiro do Norte - maior cidade do Sul do Estado, cuja rede hospitalar atende casos graves de toda região. Seus órgãos foram doados pela família.
"Depois dessa fatalidade, levei nosso filho para fazer testes. Ele também foi diagnóstico com alergia. Hoje, para qualquer lugar que vá, ele levar o antialérgico. O ataque é muito rápido. Em segundos tudo pode mudar, ter o remédio pode salvar a vida", relata.
A médica Luana Barbosa ressalta, no entanto, que os cuidados a serem adotados após o ataque devem ser realizados o mais rapidamente possível seja a vítima alérgica ou não.
"O alérgico tem mais chances de complicações, principalmente respiratórias, que podem levar à morte. Mas quem não sofre de nenhuma alergia relacionada ao inseto, pode ter intoxicação no organismo comprometendo, por exemplo, os rins", detalha.
"Atendimento especializado no hospital é a principal e mais importante recomendação. Para o alérgico, a condução é uma, para quem não é, ele passará por um processo de desintoxição. Em todos os casos, a depender da quantidade de ferroadas, pode sim haver óbito", conclui a médica.