O Ceará tem 26,4% da população quilombola com 15 anos ou mais sem saber ler ou escrever – o 4º maior índice do País, como revelam os dados do Censo Demográfico 2022, publicados nesta sexta-feira (19). Os estados do Nordeste concentram os maiores percentuais de quilombolas analfabetos.
Alagoas (29,8%), Piauí (28,8%) e Paraíba (26,9%) lideram o ranking nacional em relação ao analfabetismo entre quilombolas. Pernambuco (25,9%) e Rio Grande do Norte (24,1%) aparecem após o Ceará na lista.
No País, essa situação afeta mais os idosos com 65 anos ou mais (53,9%). Os homens também aparecem na frente (21,3%), mas com pouca diferença em relação às mulheres (18%).
Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que avaliou pela primeira vez os dados referentes à população quilombola. A divulgação mostra os resultados de alfabetização e características dos domicílios.
As comunidades quilombolas são grupos étnicos, na maioria formadas por pessoas negras, que se autodefinem a partir das relações específicas com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias.
No Ceará, 23.955 pessoas são quilombolas em 153 localidades, como identificou o Censo.
Entre as cidades cearenses, Potengi, na Região do Cariri, tem praticamente metade da população quilombola analfabeta, com 44,5% nessa situação. Em Ipueiras, no Sertão de Crateús, foi identificado 38,3% do grupo sem saber ler ou escrever.
A alfabetização ainda é um desafio nacional e uma parcela importante da sociedade não possui essa habilidade básica do cotidiano, mas ao analisar a situação dos quilombolas a situação é ainda mais delicada. Enquanto a população total cearense é formada por 14,1% de pessoas não alfabetizadas, entre os quilombolas a taxa praticamente dobra: 26,4%.
O que é considerado como alfabetizado?
O IBGE considera como alfabetizada a pessoa de 5 anos ou mais que sabe ler e escrever pelo menos um bilhete simples ou uma lista de compras, por exemplo. Também são considerados os indivíduos que tinham essa habilidade, mas se tornaram física ou mentalmente incapacitados.
O Censo Demográfico leva em consideração as pessoas que utilizam o Sistema Braille (sistema tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão).
Por outro lado, as pessoas que sabem apenas assinar ou que não conseguiram aprender a decodificar as letras devido ao ensino precário são consideradas analfabetas.
Quilombolas no Ceará
O Censo Demográfico mais recente traz de forma inédita dados sobre a população quilombola que, no Ceará, é formada por mais de 23 mil pessoas. Desse quantitativo, 19,2% da população quilombola reside em Territórios Quilombolas oficialmente delimitados. A cidade do Estado que concentra a maior quantidade de pessoas quilombolas é Caucaia, que detém um terço do total.
Em 2022, 49% da população quilombola, correspondia ao grupo etário abaixo de 29 anos de idade. A idade mediana do grupo populacional quilombola no Estado do Ceará é de 30 anos de idade.
Os dados do IBGE, de um modo geral, contribuem para a criação de políticas públicas com base nos dados sobre a população. Essa espécie de "Raio-X" dos brasileiros ajuda a entender as reais necessidades e desafios urbanos que devem ser enfrentados nos próximos anos.