“Isso aqui é um 100? Eu tirei 100 na redação?!” Esse foi o primeiro pensamento de Ana Alice Teixeira, 17, ao abrir o painel de resultados do Enem, na noite de ontem (8), e ver que atingiu a nota máxima na redação: o tão sonhado 1000.
A ansiedade com que aguardava o boletim, antecipado pelo Ministério da Educação (MEC), saiu inteira pela garganta. “Às 23h30, abri o site do Inep sem pretensão, e tava lá. Quando vi a nota, não tava acreditando. Foi um choque grande”, lembra a jovem, estudante do Master, escola privada de Fortaleza.
Moro com meus pais e meu irmão, já tava todo mundo dormindo. De súbito, dei um pulo, saí batendo as portas e comecei a gritar ‘mãe, tirei mil!’
Futura jornalista, Ana descreve uma rotina comum à maioria dos jovens na reta final dos estudos: “o 3º ano era integral, com aula de manhã e à tarde, e quando não tinha, eu ficava nas salas de estudo. Acho que o diferencial foi o laboratório de redação”, aposta.
Toda semana, desde o 1º ano do ensino médio, a adolescente escrevia pelo menos uma redação. O conhecimento de mundo, porém, vem de muito antes. “Tive uma construção cultural muito forte. Em casa, a gente sempre cultivou muito a criticidade, com muita leitura, música e notícias.”
Já tinha tentado outras duas vezes. Na primeira, tirei 840. Na segunda, 960. Tendo esse trabalho de formiguinha, eu consegui construir uma redação nota 1000.
O tema da redação de 2022 – “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil” – também ajudou.
“Me senti muito em casa, é um tema que eu tenho afinidade, sempre gostei de entender as minorias sociais. O tema tava muito fresco na minha memória. Eu me empolguei, escrevi muito, adorei o tema”, empolga-se, de novo.
‘Eu não me cobrava tanto’
As discussões em casa, as leituras e a escuta fiel de podcasts “construíram” o repertório para a redação nota 1000, mas não foram o centro do resultado. Para Ana, o cuidado com a saúde mental e emocional foi decisivo para alcançar a nota máxima.
A estudante reconhece que “tinha tudo” – insumos, instrumentos, preparação e estabilidade em casa –, mas faltava o principal: “meu maior bloqueio foi a autoconfiança, a autoestima. Me faltava confiar no meu potencial”. E como driblar isso?
O primeiro caminho foi a terapia, que comecei em 2021. Foi a melhor decisão que tomei. E no 3º ano eu decidi relaxar um pouco, porque foi meu primeiro ano presencial depois da pandemia, e me entendi como uma jovem de 16 anos vivendo um auge. Preferi dar atenção à minha saúde mental.
Provando que a autocobrança excessiva pode atuar contra o objetivo, Ana Alice relata que chegou a faltar aulas para… Dormir. “Em outubro, novembro, eu não me cobrava tanto. Tinha dias que eu não ia pra aula – ia pra academia treinar ou ficava dormindo”, diz.
“Esses momentos de ‘improdutividade’ foram produtivos pra minha saúde emocional, e isso fez toda a diferença”, compartilha a adolescente de fala fluida, madura e, sobretudo hoje, leve e feliz.