Ceará tem quase 50 mil casos a mais de ‘virose da mosca’ do que em 2023; saiba como se prevenir

Segundo dados da Secretaria da Saúde, número atual é o maior em 5 anos

Com a quadra chuvosa e um ambiente mais úmido no início do ano, o Ceará tem aumento de diversas enfermidades; entre elas, as doenças diarreicas agudas (DDA) - popularmente chamadas de “virose da mosca” -, que acometem o sistema gastrointestinal. Porém, neste ano, o Estado teve um aumento de 50% nos registros em relação ao mesmo período do ano passado, com quase 50 mil casos a mais.

Conforme a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), entre as semanas epidemiológicas 1 e 15 deste ano (até o dia 13 de abril), foram notificados 137.853 casos. Em igual intervalo de 2022 e 2023, foram cerca de 90 mil, cada. O número também é o maior desde 2020, conforme dados disponibilizados pela Pasta a pedido do Diário do Nordeste.

Neste ano, também houve crescimento de surtos - quando há um aumento súbito e localizado do número de casos de uma doença -, passando de 7 para 11 ocorrências.

Apesar do crescimento, os registros atuais ficam abaixo daqueles até 2019, período anterior à pandemia da Covid-19. Naquele ano, foram quase 150 mil casos. Contudo, valor ainda abaixo das 15 primeiras semanas de 2016, que acumularam mais de 170 mil casos.

As DDA são doenças infecciosas gastrointestinais em que há ocorrência de no mínimo três episódios de diarreia aguda em 24 horas, de acordo com o Ministério da Saúde. Esse quadro pode ser acompanhado de náusea, vômito, febre e dor abdominal, mas é autolimitado e tem duração de até 14 dias.

Segundo a médica Vanuza Chagas, no período chuvoso, os maus hábitos de higiene e as condições sanitárias precárias se somam a aglomerações de pessoas para criar um cenário propício à transmissão dessas doenças.

“Em locais com ar condicionado em que muita gente circula, vírus e bactérias também estão circulando e contaminando pelo rápido contato próximo, por gotículas de saliva ou se a pessoa pega num objeto contaminado por alguém”, afirma.

Além disso, ressalta a especialista, pela grande quantidade de vírus circulando, é possível ter quadros diarreicos sucessivos ocasionados por agentes distintos.

“Pode acontecer de você ser acometido por vírus diferentes em períodos curtos, até pelo próprio comprometimento do sistema imunológico, que vai ficando mais debilitado a cada doença que se tem”, explica.

Transmissão da virose da mosca

As doenças diarreicas agudas podem ser provocadas por diferentes microrganismos infecciosos (bactérias, vírus e outros parasitas, como protozoários) que inflamam o trato gastrointestinal. Geralmente, são causadas pelo consumo de água, alimentos, objetos e outras pessoas contaminadas.

Alguns fatores podem colocar as pessoas em risco e facilitar a contaminação, como:

  • Ingestão de água sem tratamento adequado;
  • Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, do preparo e armazenamento;
  • Consumo de leite in natura sem ferver ou pasteurizar e seus derivados;
  • Consumo de carnes, pescados e mariscos crus ou mal cozidos;
  • Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada;
  • Condições de saneamento e higiene precárias;
  • Falta de higiene pessoal.

Sintomas da diarreia

O paciente precisa ficar atento à diminuição da consistência das fezes – líquidas ou amolecidas – e aumento do número de evacuações, podendo ser acompanhadas de:

  • Cólicas ou dores abdominais
  • Febre
  • Sangue ou muco nas fezes
  • Náusea
  • Vômitos

A principal complicação é a desidratação, especialmente em crianças e idosos, o que pode levar a quadros mais graves. Nestes casos, a procura pelo serviço de saúde deve ser realizada em caráter de urgência.

Tratamento da virose da mosca

O tratamento das doenças diarreicas agudas se baseia na prevenção e na rápida correção da desidratação do paciente, normalmente por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral, e a ingestão de alimentos leves e naturais.

A médica Vanuza Chagas alerta que, como a maioria dos processos diarreicos é causada por vírus, não há indicação para o uso de antibióticos, “principalmente sem orientação médica”. 

“Esse uso indiscriminado de antibióticos tem levado à maior resistência bacteriana. Além disso, uma situação de quadro viral em que se vai iniciar antibiótico pode até acentuar o processo de diarreia. Realmente, precisa de indicação médica”, reforça.

A prescrição de antibióticos depende de casos mais severos, com diarreias intensas, presença de febre elevada e comprometimento do paciente - contudo, também precisa de avaliação médica.