Quatro anos após o anúncio, o Ceará ainda aguarda a implantação de uma biofábrica para a replicação de um método incomum contra o mosquito Aedes aegypti, transmissor de dengue, zika, chikungunya e febre amarela, através da criação de “mosquitos do bem”. Atualmente, o Brasil enfrenta uma grande onda de casos da dengue, sobretudo em Estados do Sudeste e Centro-Oeste.
O método em questão é o uso da Wolbachia, bactéria que impede os vírus de se desenvolverem dentro dos mosquitos. Em laboratório, os insetos são colonizados com a bactéria, que compete com os agentes infecciosos e impede que eles se fixem nas glândulas salivares dos insetos.
O objetivo é liberar os Aedes com Wolbachia nos territórios para que eles se reproduzam com os mosquitos locais e ajudem a criar uma nova população de insetos, todos portando a bactéria e não transmitindo as doenças.
As pesquisas no Brasil são coordenadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e têm apoio do Ministério da Saúde. Atualmente, elas já estão em ação no Rio de Janeiro e Niterói (RJ), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS) e Petrolina (PE). Embora haja expectativa para que o projeto chegue ao Ceará, ainda não há um prazo oficial.
“Ainda não temos nenhuma previsão de implantação da fábrica. Continuamos em negociação e aguardando estudos e acordos para a definição. Assim que tivermos a confirmação, divulgaremos”, confirmou a Fiocruz Ceará ao Diário do Nordeste. A fábrica poderá ser alocada no Polo Industrial e Tecnológico de Saúde da entidade, no Eusébio.
O projeto foi anunciado em dezembro de 2019, pelo então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Na projeção original, o Wolbachia seria testado em Fortaleza e outras cidades da Região Metropolitana. Além disso, a ampliação estava programada para Foz do Iguaçu (PR) e Manaus (AM).
Como funciona o método?
A Wolbachia é um micro-organismo presente em cerca de 60% dos insetos na natureza, mas está ausente justamente no Aedes aegypti. Ele foi inserido em ovos desse mosquito pela primeira vez na Universidade de Monash, na Austrália, onde se identificou que a capacidade de transmissão das doenças fica reduzida. Hoje, o método está presente em 14 países.
Com a liberação dos mosquitos “colonizados” com a Wolbachia, a tendência é que eles se tornem predominantes e o número de casos das doenças diminua.
Isso porque a fêmea do mosquito que possui a Wolbachia em seu organismo é capaz de transmiti-la a todos os seus descendentes, mesmo que acasale com machos sem a bactéria.
Por outro lado, quando apenas o macho tem a Wolbachia, os óvulos fertilizados morrem. Segundo a Fiocruz, com as sucessivas gerações, o número de mosquitos machos e fêmeas com Wolbachia tende a aumentar até que a população inteira de mosquitos apresente a característica.
A bactéria utiliza os mesmos elementos da célula que o vírus da dengue precisa para se replicar e migrar até a glândula salivar. Na disputa, a Wolbachia costuma levar a melhor.
Segundo o World Mosquito Program (WMP), experimentos em laboratório identificaram que a bactéria não pode ser transmitida para humanos ou outros mamíferos.