Após um início de ano apreensivo pelo aumento rápido de casos de Covid-19, o Ceará agora vivencia um momento de queda expressiva nas infecções pela doença. O “rastro” deixado pela variante Ômicron evidencia uma terceira onda mais curta, mas muito mais contagiosa do que os dois momentos anteriores.
O Diário do Nordeste analisou dados da plataforma IntegraSUS, alimentada pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), para comparar os três intervalos.
As quatro primeiras semanas de 2022 registraram 202 mil casos de Covid-19, variando de 33 mil a quase 67 mil casos a cada sete dias. Esse último dado é o recorde semanal de toda a pandemia. Na quinta semana, houve queda brusca para 15 mil casos, menos da metade da semana anterior.
Em 2020, quando a doença foi introduzida no Estado, a primeira onda teve 11 semanas consecutivas de alta infecção - entre o fim de abril e início de julho -, variando de 13 mil a 17 mil contaminações. O período acumulou cerca de 162 mil casos.
Já na segunda onda, em 2021, o Estado registrou 13 semanas indo de 25 mil a 36 mil casos. Entre o fim de fevereiro e o início de junho, a predominância da variante Gama, oriunda de Manaus, levou a quase 393 mil infecções.
Ou seja, em quatro semanas, a terceira onda contabilizou 25% a mais de casos que as 11 semanas da primeira, e 51% do acumulado nas 13 semanas da segunda.
O médico infectologista Keny Colares, consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), atribui esse aumento em 2022 à alta competência de transmissão da variante Ômicron, que foi identificada pouco antes das festas de fim de ano de 2021.
Assim, a alta transmissibilidade da mutação - sendo capaz até mesmo de escapar à vacinação - combinada com as reuniões festivas contribuíram para a maior disseminação verificada nas semanas seguintes.
Essa variante causou uma subida muito rápida no número de casos. Como ela infecta todo mundo, logo vai ter menos gente para ser infectada, o que se chama de ‘esgotamento de suscetíveis’. Então, é uma onda que sobe muito rápido, mas cai mais cedo e mais rápido do que as outras que enfrentamos.
Para o especialista, a tendência é que até o início de março a curva de casos e óbitos por Covid-19 continue decaindo, mas “isso não quer dizer que a Ômicron vai desaparecer para sempre ou que não vá surgir outra variante”.
Colares alerta que o que vai acontecer nos próximos meses “é uma grande interrogação”. Ele, por exemplo, classifica como “otimista” as previsões indicando que a quantidade de casos vai se estabilizar e a doença se tornará endêmica, ou seja, se tornará comum, mas com menor força.
“Creio que, até o fim do ano, ainda possamos ter outras ondas. Tudo depende do comportamento das pessoas. Se houver aglomerações no Carnaval, podemos ter outro aumento da curva por causa do relaxamento. É muito importante esperar a curva se estabilizar e não se descuidar para não ter piora da epidemia novamente”, recomenda.
Reflexo na rede de saúde
Além do impacto na saúde individual da população, as três ondas também mexeram com o planejamento de atendimentos das redes de saúde. Contudo, de diferentes formas, como sugerem as normativas da Sesa sobre a realização de cirurgias eletivas na rede estadual.
Na primeira onda, os procedimentos ficaram suspensos de março a julho de 2020, por cerca de quatro meses. Em 2021, houve adição de mais um mês: a interrupção valeu de fevereiro a julho.
Já em 2022, a Sesa anunciou a suspensão das cirurgias no dia 6 de janeiro. Porém, retomou gradualmente as atividades desde a última segunda-feira (14), pouco mais de um mês após a primeira decisão.
Segundo o secretário de saúde do Ceará, Marcos Gadelha, a decisão foi tomada em virtude da melhora do cenário epidemiológico, tanto na redução da positividade de exames quanto da menor procura por atendimentos em unidades básicas, e do avanço da vacinação.