Casas afetadas por cratera após chuva em Fortaleza estão rachadas e 10 famílias esperam laudos

As pessoas prejudicadas foram levadas para um hotel no Centro e ainda não têm previsão de retorno para as casas

Dez famílias impactadas por uma cratera aberta numa rua do bairro Moura Brasil, devido às fortes chuvas no último sábado (10), ainda não têm previsão de retorno para as casas. Os moradores foram removidos do local pelo risco de desabamento, porque a via tem muitas rachaduras e passa por obras de contenção. Elas aguardam análises técnicas para saber se será possível voltar a habitá-las.

As residências ficam na Rua Adarias de Lima, vizinha à construção da Linha Leste do Metrô de Fortaleza. Segundo o morador Adriano do Vale Costa, que deixou a própria casa, a expectativa inicial era de que eles retornassem nesta quarta-feira (14), mas ainda não houve essa sinalização.

“Até agora a gente não tem previsão de voltar. A gente está esperando a Defesa Civil. Fora que não tem como, as casas ainda estão com rachaduras. A rua em si, total, está afundando”, explica o empresário. “Não tem a mínima condição de a gente voltar sem que façam a contenção da rua todinha”.

Enquanto aguardam uma resolução técnica, as famílias foram deslocadas para um hotel no Centro de Fortaleza. Nessa situação, precisam arcar com gastos extras não-programados, mas, segundo Adriano, sem apoio do poder público.

“Agora vou ter que gastar mais combustível pra trabalhar, pra levar minha sobrinha no colégio, fora as outras pessoas que têm outras crianças que estudam. Não tem transporte pra levar pra casa”, lamenta.

Adriano lembra que uma ocorrência semelhante ocorreu há 3 anos, também demandando que eles se abrigassem num hotel, mas não de forma tão grave. À época, a promessa foi de que a situação seria resolvida definitivamente com a inserção de cimento no solo. Contudo, afirma que nada foi feito para prevenir a nova cratera.

O líder comunitário do Moura Brasil, Pedro André, confirma que os moradores só devem saber seu destino após uma reunião com o consórcio responsável pelo Metrô. Ele reclama da falta de assistência aos deslocados.

“As pessoas saíram às pressas de casa, só com a roupa do corpo. Essa semana vamos ver como vai ficar, como as crianças vão pra aula. É longe do Moura Brasil, não dá para ir a pé”, considera.

Além disso, Pedro afirma que o consórcio forneceu apenas um carro para dar suporte aos que precisam voltar ao bairro para buscar algum pertence, “mas não tem condição de atender a todos”. Muitos trabalham, tem que sair de um local totalmente diferente. 

O desejo não é retirar as famílias dali, eles querem continuar no local. São pessoas que moram ali há 30, 40 anos. Quando deu o problema da primeira vez, disseram que não ia acontecer nada. Agora, se chover mais, vai abrir tudo
Pedro André
Líder comunitário

Adriano também solicita que algum representante da obra entre em contato direto com as famílias para esclarecer o andamento dos reparos e que tipo de assistência pode ser dada a elas.

Em nota enviada à reportagem na noite de quarta-feira, a Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra) informou que já encaminhou um laudo detalhado para a Defesa Civil do Ceará comunicando ao órgão que as casas atingidas já estão aptas a receberem as famílias de volta.

O laudo foi elaborado pela Secretaria por meio do Consórcio FTS, responsável pela obra da Linha Leste do Metrô de Fortaleza. Após removidas, as famílias haviam sido alocadas nos hotéis Mar Aberto e Centro Fashion, no Centro. "A ocorrência foi sanada em menos de 24horas, com o apoio das Defesas Civis do Estado e Município, além da Cagece e da Polícia Militar", complementa o comunicado.

Sobre as medidas adotadas pela Seinfra, por meio do consórcio construtor, a Pasta cita: "a urgência na remoção dos moradores, para evitar danos à população e às residências próximas ao local atingido pelas fortes chuvas; montagem de força tarefa em conjunto com os órgãos de apoio, para realização da operação dos reparos, com aterramento e concretagem no local atingido".

Prejuízos com as chuvas

Segundo a Defesa Civil de Fortaleza, foram registradas 104 ocorrências de sábado (10) a terça-feira (13), entre riscos de desabamento, desabamentos, alagamentos e inundações na capital cearense. Não houve nenhuma notificação de vítimas com maior gravidade no período.

No sábado de Carnaval (10), no entanto, o acumulado de precipitação foi o maior em 20 anos: 215 milímetros (mm) em 24h. Entre o domingo (11) e a segunda-feira (12), Fortaleza teve mais um dia de chuvas intensas com 112 mm, segundo monitoramento da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

Ainda na metade deste mês, o número de ocorrências já se aproxima do total de fevereiro de 2023, quando 124 casos foram atendidos pela Defesa Civil municipal. Em março do ano passado, com chuvas acima da média, houve 203 ocorrências.