O reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Custódio Luís Silva de Almeida, decidiu convocar o Conselho Universitário (Consuni) para discutir novamente e deliberar sobre a denominação da Concha Acústica, menos de 15 dias após a instituição resolver homenagear o equipamento com o nome de um ex-aluno. A sessão extraordinária ocorrerá na próxima segunda-feira (18).
No dia 1º de novembro, o Consuni havia aprovado a denominação “Concha Acústica Bergson Gurjão Farias”, um estudante do curso de Química morto pelo regime militar na região do Araguaia. A decisão, no entanto, gerou repercussões na esfera pública.
Contudo, em nota nesta quinta-feira (14), a UFC afirmou que somente após a escolha do nome do ex-aluno - que até àquela ocasião a informação da universidade era de que a Concha Acústica não tinha nome oficial - foi identificada uma ata do Consuni, datada de 29 de agosto de 1959, solicitando que o nome do então reitor, Antônio Martins Filho, fosse dado ao Auditório da Concha Acústica, o que foi aprovado à época.
"Essa ata não foi encontrada antes da 138ª Sessão Ordinária do Consuni porque a busca havia sido feita apenas no acervo que reunia portarias da Reitoria e resoluções dos conselhos, sem que tivesse sido encontrada nenhuma norma que nomeasse nem a Concha Acústica, nem seu auditório", declarou a universidade.
O Memorial da UFC, entretanto, ao continuar a pesquisa no último dia 13 de novembro, identificou essa ata "que registra a deliberação sobre a denominação do Auditório da Concha Acústica como Auditório Martins Filho", informou a universidade em nota.
Anteriormente, em nota enviada ao Diário do Nordeste, a UFC declarou que a homenagem não seria uma alteração de nome oficial do espaço, pois até então, a Concha Acústica nunca havia sido formalmente nomeada.
“Em 1959, foi afixada uma placa informal em homenagem ao fundador e primeiro reitor da UFC, Antônio Martins Filho, mas tal denominação nunca ocorreu no âmbito do Consuni, órgão máximo da UFC e a quem cabe legislar sobre esse tipo de matéria”.
O auditório do prédio da Reitoria já é denominado Auditório Prof. Antônio Martins Filho desde 2018, prestando essa homenagem ao primeiro reitor da instituição.
Repercussão do novo nome
Nas redes sociais, o ex-prefeito de Fortaleza e filho de ex-reitor, Roberto Cláudio, criticou a decisão da UFC. Segundo ele, o espaço já tinha o nome do professor Antônio Martins Filho, primeiro reitor e fundador da instituição. “O professor Martins Filho, junto com outros homens e mulheres, ajudou não só a fundar a UFC, mas a mudar a história do Ceará”, disse. Ele ainda pediu para a direção da UFC repensar a decisão, para não apagarem o “principal capítulo” da universidade.
Na última terça-feira (12), o deputado Queiroz Filho (PDT) debateu o assunto durante uma sessão da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). Assim como Roberto Cláudio, ele acreditava que o espaço já carregava o nome de Antônio Martins Filho e seria modificado. Por isso, argumentou sobre a importância da manutenção do nome, destacando a relevância histórica do primeiro reitor da UFC para o Estado.
"Nada contra a homenagem ao estudante, mas terrenos doados pelo Governo do Estado poderiam levar o nome do estudante”, afirmou. O deputado Sargento Reginauro (União) também concordou, declarando que a iniciativa da UFC era "lamentável".
Em contrapartida, sem ter a informação de nova nota da UFC, o deputado De Assis Diniz (PT) enfatizou que o espaço ainda não tinha sido formalmente nominado com registro em ata. “Não se trata de tirar o nome de um e alterar para o outro. O Bergson era estudante da UFC com uma história de vida, e o ex-reitor já tem seu espaço”, declarou, citando que o nome do ex-reitor já está presente em outros espaços da instituição. Na mesma data, o deputado Renato Roseno (Psol) também defendeu a homenagem.
O atual reitor Custódio Almeida afirmou, no último dia 6 de novembro, que a iniciativa se dá "diante da justa e necessária reparação e reconhecimento históricos a Bergson Gurjão Farias e da necessária reconciliação da Universidade Federal do Ceará com a democracia e com os direitos humanos", disse, se referindo ao Termo de Reconciliação Histórica com a Democracia e os Direitos Humanos, aprovado também na 138ª do Consuni.
O ex-reitor da universidade, Cândido Albuquerque também se posicionou sobre a possível renomeação do espaço público. Em publicação nas redes sociais, ele afirmou ter recebido a notícia "com surpresa", apesar de "não entrar no mérito das preferências ideológicas", citando Bergson Gurjão como uma figura que "lutava para a implantação de um regime socialista no Brasil".
"O que me assusta é a retirada do nome do autor da obra para colocar o nome de um ex-aluno, morto quando lutava por suas ideias. Penso que outro espaço acadêmico poderia receber o nome de Bergson, respeitando-se a memória e a história do nosso primeiro e maior Reitor", escreveu.
O advogado defendeu que para uma "mudança dessa ordem ser democrática e legítima", deveria passar por "uma consulta à sociedade na qual está inserida a Universidade" e que "os que hoje mudam a história da UFC nem mesmo faziam parte do universo acadêmico naqueles tempos", argumentou.