Alunos são barrados em ônibus de Pacajus após prefeito anunciar exigência de 'trabalho voluntário'

Estudante afirmam que parte dos servidores que realizaram fiscalização impediram o embarque nos coletivos nesta segunda-feira (4)

Estudantes que utilizam o transporte universitário de Pacajus relataram que enfrentaram problemas nesta manhã de segunda-feira (4), chegando a ser impedidos de embarcar nos ônibus. O caso acontece um dia após o prefeito Bruno Figueiredo (PDT) anunciar que o serviço estará disponível, a partir do próximo dia 11, apenas para discentes que realizarem "trabalho voluntário"

Para usar os coletivos, semestralmente os alunos emitem um código, após realizar um cadastro no sistema da Prefeitura, e apresentam diariamente esse QR Code ao subir nos veículos. Nesta manhã, servidores fiscalizaram o embarque, no entanto, conforme os presentes, alguns equipamentos apresentaram defeito e não leram parte das chaves bidimensionais. 

No mínimo, 17 alunos não embarcaram, mesmo estando regularizados. Todos eram universitários, pacajuenses, estavam com o cadastro ok e foram barrados, simplesmente, por causa de erro no sistema da fiscal", detalhou um estudante, que preferiu não ter a identidade divulgada, ao Diário do Nordeste.

Ainda conforme a fonte, parte desses alunos, além de faltar aula, também foi forçada a não comparecer à aplicação de provas devido ao problema. 

"A moça [servidora] falou que 'quem não tiver lendo o QR code não vai embarcar', e isso foram várias pessoas prejudicadas pelo defeito", disse outra universitária, que também não terá a identidade revelada, e que conseguiu entrar no ônibus.

Operações de fiscalizações com a presença de servidores são rotineiras, segundo o relato, mas, nesta segunda-feira, contaram ainda com a presença de agentes da Guarda Civil Municipal.

"Não é a primeira vez, mas não é algo comum. A Guarda Municipal e os fiscais só vão lá quando é para barrar aluno de entrar em ônibus. [...] [A presença dos agentes de segurança] demonstra que a intenção é intimidar, eles não vão lá fazer nossa segurança", completou o estudante.  

Apesar do erro relatado no sistema, alguns alunos conseguiram embarcar, mas chegaram a sair de Pacajus após o horário de costume.

Em nota, o Município informou que está realizando um controle "melhor" nas rotas dos universitários, visando impedir o embarque de não estudantes

"Portanto, não houve nenhuma mudança, mas uma adequação melhor na gestão para efetivar realmente o acesso do transporte para os estudantes cadastrados de forma regular no sistema", diz o comunicado. 

Trabalho voluntário

Os dois estudantes ouvidos pela reportagem relataram que os servidores não detalharam como funcionará o esquema de trabalho voluntário. Nesse domingo, Bruno Figueiredo disse que o intuito da medida é "regularizar o transporte universitário", para não haver "prejuízo para o município de Pacajus". 

Segundo ele, os universitários teriam, então, esta semana para procurar secretarias ou órgãos municipais para iniciar o "trabalho voluntário".

Em seguida, conforme o político, o aluno deve "informar isso aqui na administração, que vai fazer a sua liberação no transporte universitário". A partir do dia 11, "só entrará no ônibus quem tiver autenticado e fazendo o trabalho voluntário", concluiu o prefeito. 

Entidades estudantis repudiam situação

Após a declaração do prefeito Bruno Figueiredo sobre a exigência de trabalho voluntário para ter acesso ao transporte público em Pacajus, alguns centro e diretórios acadêmicos ligados à Universidade Federal do Ceará (UFC) emitiram notas de repúdio contra a novidade. 

"Tal atitude fere constitucionalmente o direito do acesso à educação e o Decreto n.º 209 de 26 de junho de 2019 que todo universitário que tiver devidamente matriculado nas universidades tem o direito a transporte de forma gratuita", destaca o comunicado.