Na Universidade Estadual do Ceará (Uece), um paralelo: o primeiro dia de aulas dos novatos do Centro de Humanidades acontece em meio à manifestação de quem já não aguenta a falta de infraestrutura da unidade, nesta segunda-feira (27). Salas de aulas, auditório, biblioteca e quadra esportiva estão com o uso comprometido.
O Diário do Nordeste percorreu os corredores do Campus da Uece, no Bairro de Fátima, nesta segunda-feira (27), onde acontecem aulas da graduação e pós-graduação em Letras e Filosofia. Lá, parte do teto cedeu e os entulhos, que poderiam ter machucado estudantes e professores, ainda permanecem. Uma revindicação marca a agenda da Reitoria, no Itaperi.
As salas de aula estão com a climatização comprometida, espaços de reuniões e de estudos estão interditados devido às goteiras e ao forte cheiro de mofo. As cadeiras para leituras são de plástico, sem conforto, e as mesas estão cobertas por água da chuva.
Sem restaurante universitário, os alunos almoçavam marmitas distribuídas pela instituição na quadra esportiva, mas deixaram o espaço depois de parte da coberta cair com as chuvas no início deste ano – as refeições são feitas nos corredores desde então.
A biblioteca da instituição está fechada, com lonas cobrindo o acervo para proteger da umidade que já causou a perda de cerca de 1.000 livros. A ventilação do local acontece por janelas. O elevador de acesso para pessoas com deficiência e professores idosos não funciona.
Nesse contexto, os estudantes se reúnem após uma série de cobranças por adequação na estrutura do espaço. Eles contam que não há uma data para a reforma que há mais de um ano está como promessa.
Essa falta de manutenção é motivo de reivindicação há cerca de 10 anos, conforme contextualiza Emanuelle Pereira, presidenta do Centro Acadêmico de Filosofia da Uece.
“Com a volta do presencial, nos deparamos com a infraestrutura defasada, colunas com o ferro completamente exposto e, a qualquer momento, os alunos podem sofrer um acidente”, frisa a representante.
“Como a gente vai conseguir ter algum rendimento acadêmico sem uma estrutura básica?”, questiona Emanuelle. Ela e outros alunos foram à administração da Universidade onde, de braços dados, ouviram o reitor falar sobre o assunto.
O reitor da Uece, Hidelbrando dos Santos Soares, que atua na gestão desde 2012, informou sobre a tentativa de conseguir autorizações para as reformas nos campi de Fátima e do Itaperi em março.
"Desde o ano passado, nós temos tratativas com o Governo do Estado do Ceará sobre as manutenções na Universidade Estadual. Negociamos de manutenção predial, algo em torno de R$ 10 milhões. É muito dinheiro? Não, não dá conta de tudo que a gente precisa", pondera o reitor.
Estamos demandando ao Governo a autorização da ordem de serviço, porque no Estado não basta ter contrato assinado e publicado no Diário Oficial. Isso é 90%, mas está faltando a autorização. Quem dá data é o Governo
A situação do Centro de Humanidades está entre as prioridades da Uece, conforme Hidelbrando. “Nós assinamos um contrato com uma empresa para fazer as obras emergenciais do Campus de Fátima orçadas em quase R$ 1,2 milhão”, completa.
A Uece informou que dois contratos foram assinados e publicados no Diário Oficial do Estado no início de fevereiro para as reformas nos dois campi.
"Para a manutenção predial do Campus Fátima do Centro de Humanidades será destinado mais de R$ 1 milhão e a Reitoria está solicitando a SOP (Secretaria de Obras Públicas) a liberação das ordens de serviços", complementou a Uece.
"A reitoria da Uece reitera seu compromisso com a educação pública, gratuita e de qualidade e vem buscando diálogo com o Governo do Estado a fim de superar os desafios de infraestrutura existentes", frisa a Uece.
Prejuízos para a formação
Os estudantes contam que a falta de estrutura prejudica a concentração nas aulas e a produção acadêmica pela falta, por exemplo, do acesso ao acervo da biblioteca. Quase concluindo os estudos na Uece, Arthur Cardoso, de 24 anos, reflete sobre os colegas que estão entrando.
“Eu imagino que bate um desânimo grande, porque chegam num Campus com o reboco caindo, infiltração por todo canto, cheio de goteiras, sem sala de leitura e quadra, sem restaurante universitário”, completa.
Larissa Folco, de 22 anos, completa que o Campus de Fátima tem um terreno sem uso onde há acúmulo de lixo, vegetação e há proliferação de mosquitos. Junto com Arthur, ela faz parte do movimento estudantil.
“A resposta é sempre a mesma, que só tem um engenheiro para o Estado todo. Enquanto isso, a gente vai ficar debaixo d’água? Vamos esperar o campus desmoronar e cair em cima de alguém para melhorar?”, questiona.