Brasileiros deportados chegaram a Fortaleza 'acorrentados, com algemas' e 'machucados emocionalmente', diz secretária
Socorro França, titular dos Direitos Humanos do Ceará, afirmou que os brasileiros repatriados foram atendidos por psicólogo e assistente social

A secretária dos Direitos Humanos do Ceará, Socorro França, declarou, em coletiva após a chegada dos brasileiros deportados do Estados Unidos no Aeroporto de Fortaleza, que os repatriados chegaram ao Brasil “acorrentados, com algemas”, e muitos estavam “machucados emocionalmente”. Sem informar os números exatos, ela afirmou que havia “muitas crianças” no voo.
“Pelo relato que foi dito, através de todos eles que estavam nesse voo, é de que sofreram muito. Eles que estavam presos, quase sem alimentos, e aqui o Governo do Estado oportunizou que, assim que eles descessem sem algemas, sem corrente nos pés, eles recebessem alimento, água, kit de higiene, um tratamento humanizado”, disse a secretária, em entrevista.
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De acordo com a titular da Secretaria dos Direitos Humanos do Ceará (Sedih), os repatriados foram atendidos por psicólogos e assistente social. “Todos foram atendidos, alguns já estão no avião da FAB (Força Aérea Brasileira), voltando para o aeroporto de Confins”, complementou.
O defensor público federal Edilson Santana, afirmou que a Defensoria Pública “vê com preocupação” as condições em que as pessoas foram conduzidas dos Estados Unidos para o Brasil. Ele confirmou, ainda, que as crianças e seus acompanhantes não vieram algemados durante o voo.
“A Defensoria Pública está atenta a eventuais violações de direitos humanos que possam ter ocorrido e estamos à disposição, individualmente, de cada pessoa que chegou, mas também através da nossa atuação coletiva para que posamos prestar assistência jurídica”, afirmou o defensor público.
Socorro França afirmou que não foram identificados cearenses no voo, e que apenas uma família de Belém do Pará resolveu ficar em Fortaleza. Porém, havia familiares de cearenses aguardando no saguão do Aeroporto. Uma mãe, entrevistadas pelo Diário do Nordeste, confirmou a chegada do filho, que ligou para ela após o desembarque.
“O que identificamos é que são pessoas do Espírito Santo, essa família que está indo para o Pará e o restante todo de Minas Gerais”, disse.
Segundo Mitchelle Meira, secretária da Diversidade do Ceará, no voo havia brasileiros que passaram 12 horas sem se alimentar. “Eles estão saindo daqui sabendo que estão sendo repatriado e com o Governo totalmente disposto a recebê-los da melhor forma”, afirmou.
Em coletiva, Janine Mello, secretária-executiva o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, afirmou que “deu tudo certo” na operação. Ela informou que parte dos 111 passageiros já foram realocados para o voo que segue para Confins, no avião da FAB, e a outra parte decidiu ficar no Aeroporto de Fortaleza para, daqui, seguir para o local de residência.
“A prioridade do governo federal junto com o governo estadual, que nos deu apoio em toda essa ação, é que a gente consiga garantir que os cidadãos brasileiros que hoje voltam para o Brasil, que é a sua casa, consigam chegar com segurança no seu local de residência para reencontrar suas famílias e conseguir reconstruir as suas vidas”, afirmou.
Deportação em massa
O avião com 111 brasileiros repatriados pousou em Fortaleza pouco depois das 16 horas desta sexta-feira (7). O voo partiu do Aeroporto Internacional Rafael Hernández, em Aguadilla, Porto Rico, e a capital cearense foi escolhida para a recepção para evitar o uso prolongado de algemas pelos passageiros em território nacional.
Esse é o segundo voo que chega ao País. Na primeira leva, um avião pousou em Manaus no dia 24 de janeiro com 88 brasileiros que foram mantidos aprisionados. O Ministério da Justiça e Segurança Pública classificou o caso como “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”.
As operações de deportação em massa começaram poucos dias após a posse de Donald Trump como presente dos Estados Unidos. Ao longo da campanha presidencial, ele prometeu conter a imigração ilegal nos EUA. Logo no primeiro dia de governo ele assinou ordens destinadas a impedir a entrada de imigrantes ilegais.
Durante a espera pela chegada do avião, uma mãe que estava no saguão do Aeroporto conversou com o Diário do Nordeste. Cearense, o filho dela, João (nome fictício), saiu do Brasil para morar no Canadá, mas há três anos morava nos Estados Unidos.
No dia 2 de janeiro, ele avisou para a mãe que tinha sido detido. Ao longo dos últimos anos, ele viveu em New Jersey e na Flórida, foi motorista e atuou na construção civil. Era um “faz-tudo”, conta. “Meu filho não é bandido”, disse a mãe. “Ele tinha vontade de morar fora, aqui a pessoa é muito desvalorizada. Era o sonho dele”.
Como a maior parte dos deportados é de Minas Gerais, são mineiros, o plano inicial do Governo Federal era de que o avião aterrissasse em Belo Horizonte, Minas Gerais, assim como ocorreu no primeiro voo, no último 24 de janeiro, que teve 88 pessoas deportadas.
Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) está de prontidão para o deslocamento de Fortaleza a Belo Horizonte. No entanto, não se sabe ainda como o restante do grupo será levado aos seus estados de origem.