Único no mundo, Museu do Caju atrai visitantes a Caucaia para exaltar a riqueza regional

Localizado em uma chácara com clima de interior, espaço reúne obras de arte, áreas de convivência, lojinha e até um fusca inteiramente personalizado com a temática do caju

Da próxima vez que comer caju, lembre que há um recanto no Ceará inteiramente dedicado a essa delícia. E que esse lugar é capaz de encantar por vários motivos. Localizado em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza, o Museu do Caju está de portas abertas para quem deseja saborear o tema de todas as formas possíveis.

Todas mesmo. Do portão de entrada aos aposentos, o equipamento cumpre bem a missão de nos fazer mergulhar no belo, rico e multifacetado universo do pseudofruto. Por onde se olha, há imagens, referências e o próprio caju e derivados à disposição. É inevitável não estender a mão, apanhar e degustar ali mesmo. “Fiquem à vontade”, diz Gerson Linhares.

Idealizador e principal mantenedor da casa, o educador, turismólogo e pesquisador é quem guia os visitantes a uma verdadeira odisseia pela diversidade cajueira. São 220 obras de diferentes artistas e linguagens espalhadas por sete cômodos. O propósito fica claro a cada passo: disseminar a importância e exuberância do alimento homenageado.

Tudo isso costurado por uma ambientação na qual se sobressai a simplicidade. O museu está instalado em uma chácara de 5 mil m² – uma das últimas da Grande Jurema, com mais de 80 anos de idade – fato suficiente para atrair e promover bem-estar a quem visita. “As pessoas gostam porque lembra muito um lugar do interior”, percebe Gerson.

“Nosso museu, na verdade, é coletivo. A gente busca parcerias com várias famílias. Hoje temos ligação, ao todo, com 150 delas, oriundas de 20 municípios produtores de caju – incluindo parceiros em Fortaleza”. É o que justifica as variadas maneiras de exaltar o redondinho laranja. Entre elas, Literatura, Gastronomia, Artes Visuais e Dança.

Fora da casa principal, uma ampla área convida o público – sobretudo as crianças – a desbravar. Parquinho, árvores frutíferas, área de convivência e palco para apresentações deixam tudo bastante especial, embora longe de formalidades. O que impera mesmo no Museu do Caju é a vontade de suspender o tempo e, por algumas horas, permitir a magia.

Como tudo começou

Pesquisas sobre o tema iniciaram em 1995, pouco depois de Gerson Linhares concluir a faculdade de Turismo. À época, ele e a mãe, a educadora Rita Miranda Linhares, empreenderam o projeto de modo a dar uma repaginada no turismo de Caucaia. 

Deu certo. Em 2007, eles deram pontapé no local mediante doação da chácara e viram, pouco a pouco, a população se achegar. O primeiro foco recaiu na Gastronomia, a partir da feitura, venda e degustação de pratos provenientes do caju. 

Depois, à medida que artesãos do barro, cerâmica, escultura e madeira começaram a produzir peças específicas sobre a iguaria natural para incorporar ao museu – incentivo, claro, de Gerson e dona Rita – o acervo da casa foi aumentando e criando contorno.

A ideia sempre foi manter a estrutura original da residência – valorizando o charme e a relevância dela – bem como investir pesado na criatividade. Hoje, por exemplo, existe uma ala destinada somente ao Artesanato; outra apenas à etnia indígena Tapeba; e outra, bem no miolo da casa, com foco em apresentar exposições temporárias.

Cozinha e sala de jantar tornaram-se o espaço da Gastronomia e, onde antes era a lavanderia, agora estão reunidas obras de artistas de Caucaia. Isso porque uma das intenções do museu, composto por equipe multidisciplinar – o que justifica a pluralidade do espaço – é estimular a cultura no município-sede.

Completando o cenário, ainda está uma capelinha, onde será aberta uma nova exposição até o fim deste ano. Intitulada “Cajueiro Santo”, terá mais de 100 imagens de santos mesclados à temática do caju – extensão do que já é possível encontrar pelos cômodos da casa. Na ala de exposições temporárias, por exemplo, há uma Nossa Senhora com um cajuzinho na mão.

Técnicas de colagem, eco arte, pintura, xilogravura, areia colorida e até um caju gigante, todo feito de ferro e sucata, podem ser encontrados por lá. Além disso, devido às itinerâncias do Fuscaju – um fusca vermelho personalizado especialmente para o projeto – itens como câmeras fotográficas analógicas, telefones antigos, LPs e outros podem ser vistos por lá após doação de admiradores. Verdadeira viagem pelo tempo e pela graça.

Sobre o futuro e os desafios

Sob coordenação do Instituto Ceará Cultura – também responsável pelo Museu do Bode Ioiô, em Fortaleza – o Museu do Caju não tem apoio institucional. Apesar do reconhecimento federal, capaz de viabilizar inclusive prêmios para o projeto, a casa resiste por meio do pagamento simbólico de visitas escolares, venda de produtos na lojinha e apoios esporádicos.

“Às vezes sobra renda para nossas atividades pedagógicas e patrimoniais”, resume Gerson. “É lamentável não termos como mantenedores – ou mesmo a título de reconhecimento – o Estado ou a Prefeitura. Devido ao caráter plural do museu, é possível dialogar com várias secretarias (Cultura, Turismo, Meio Ambiente). Mas até agora nada, e há 17 anos é assim”.

Segundo ele, o Ceará é o maior produtor de caju do mundo e, mesmo assim, inexiste política pública capaz de dar real dimensão ao fato. É o que acumula entraves. “O principal desafio do museu é a manutenção diária. Estamos numa chácara, num museu diferenciado dos outros. São muitos custos – poda de árvores, limpeza e até a própria casa, sem climatização. A Prefeitura de Caucaia e o Governo do Ceará poderiam fechar um convênio com a gente. Um valor mensal, com o qual pudéssemos trabalhar as atividades”.

Até lá, a saída é investir cada vez mais nas já citadas iniciativas pedagógicas e de educação patrimonial, dois dos maiores focos do museu. Contação de histórias, teatro infantil, Feira da Cajucultura e celebração especial pelo Dia do Caju, em 12 de novembro, são alguns dos passos dados pela casa. Para o futuro, a coisa pretende se agigantar.

Por meio de parceria com o Sesc, pretende-se abrir um restaurante na chácara, e Gerson está pleiteando a Estação Caju, referente à estação de metrô presente em Caucaia. O turismólogo quer transformá-la na primeira estação turística ferroviária do Estado do Ceará, convocando o público a também conhecer o museu.

São movimentos de quem, mais do que profissional, é apaixonado por caju. Um poema foi responsável por fazer nascer e crescer o amor pelo pseudofruto no coração de Gerson. Desde lá, consome sobretudo mel do caju e assa castanha no tacho no próprio espaço do museu. Nada supera, contudo, a experiência de consumir a delícia direto do pé.

“Enquanto museu, queremos ter um lugar ao sol para levar nossa mensagem a todos os rincões do Brasil”, afirma o pesquisador, copo na mão a oferecer cajuína. “Já temos uma exposição montada, ‘Meu Caju Cajueiro’, para ser itinerante nas capitais brasileiras. Se isso acontecer, já ficarei muito feliz”.


Serviço
Museu do Caju
Localizado na Rua Mário Cordulino de Brito, 332 - Parque Guadalajara (Jurema), Caucaia. Visitas mediante agendamento pelo número (85) 98835-9915. Elas acontecem de segunda a sábado, pela manhã ou à tarde. Escolas públicas não pagam; visitas particulares: R$5 por pessoa. Aos domingos, a entrada é gratuita. Mais informações nas redes sociais do museu