Teatro da Praia ganhará produção de livro e mini-documentário sobre a história do equipamento

Ameaçado de fechar as portas, o espaço, em parceria com o Instituto Iracema, da Prefeitura de Fortaleza, terá o rico legado contado ao público

Boas novidades para o Teatro da Praia, equipamento cultural localizado na Praia de Iracema. Ameaçado de fechar as portas devido à proposta de compra do espaço feita aos proprietários em fevereiro, a casa ganhará a publicação de um livro e um mini-documentário sobre a história dos 27 anos de irrestrita dedicação às Artes Cênicas. 

A iniciativa acontece em parceria com o Instituto Iracema, da Prefeitura de Fortaleza, e a previsão é de que, até novembro, ambos os produtos venham a público.

Conforme o ator e diretor teatral Carri Costa, fundador do equipamento, a importância do Teatro da Praia para Fortaleza e o Estado do Ceará é enorme, o que justifica esse mergulho. "Nada melhor que proporcionarmos um registro literário disso tudo para deixar, pra todos e todas, a narrativa de uma trajetória que é bastante relevante para a nossa cultura. Assim nasceu a ideia do livro", diz.

Por sua vez, a interligação com o audiovisual surge por conta do estreito diálogo entre as Artes Cênicas e produções em vídeo, estas com um alcance e acessibilidade ainda maiores. "Será algo rápido, criativo e que, de certa forma, mostrará, de maneira bem dinâmica, a história do Teatro", completa o artista.

Nesse pacote de ações, também está inclusa a publicação de seis pequenos vídeos que evidenciarão a conexão do espaço com a Praia de Iracema, em sintonia com o trabalho realizado pelo Instituto Iracema na região. Sendo assim, não faltarão detalhes sobre o intercâmbio do equipamento com a classe artística e também com os moradores do entorno e as próprias histórias do bairro.

Produção

Carri conta que a preparação de todo o material deve acontecer neste semestre. O pontapé nos trabalhos, inclusive, inicia hoje (17). O planejamento inicial é que os pequenos vídeos sejam elaborados a cada mês. "Vamos iniciar com a prospecção da pesquisa histórica e os debates com a estrutura do audiovisual - direção, arte, edição, enfim", detalha o realizador.

De certa forma, toda essa movimentação dá novo fôlego ao espaço e enfatiza a relevância de mantê-lo funcionando. O Teatro da Praia nasce de forma independente em setembro de 1993, quando Carri se deparou com um armazém localizado na antiga zona portuária de Fortaleza, precisamente na Rua Senador Almino, 227. 

Ali, o artista iniciou ações para que o equipamento viesse a ser o que é hoje, um símbolo de fruição, resistência e que, segundo o ator, reflete a falta de políticas públicas no Ceará que possibilitem a manutenção de palcos independentes.

"Nesses 27 anos, sempre foi uma briga grande para mantê-lo existindo. Mas se o teatro não tivesse uma competência de gestão não durava tanto tempo", situa Carri. "Sempre o administramos com muito idoneidade e independência, funcionando com altos e baixos, mas funcionando. E nesse tempo todo, estivemos buscando o poder público - porque acho que todo espaço cultural deve ser apoiado pelo Estado e o município, eles devem ter responsabilidade sobre isso - e foram raríssimas as vezes em que conseguimos dialogar e conseguir esse apoio".

Causa

No momento, o equipamento continua nas mãos da Cia. Cearense de Molecagem, que o administra, devido a várias iniciativas. Uma delas foi uma vaquinha online lançada no mês de março, que arrecadou pouco mais de R$ 3.600 e custeou algumas despesas, especialmente relacionadas ao aluguel da sede. Até quadros pintados pelo próprio Carri estão sendo vendidos para que o equipamento não feche as portas.

Segundo o artista, no segundo mês da pandemia do novo coronavírus, os proprietários do espaço pararam de pressionar o artista para entregar o imóvel exatamente porque, devido ao estado pandêmico, a pessoa interessada em comprar a sede recuou a vontade.

Ainda assim, continua a indefinição sobre até quando o Teatro resistirá. "Só sei que, até dezembro, estamos com essa parceria firmada com o Instituto Iracema, o que garante, por meio disso, pagar os aluguéis até aquele mês", diz. 

"Para mim, o melhor caminho para se manter um espaço cultural tão simbólico é mantê-lo como patrimônio da cidade. Então, seria muito interessante que o poder público adquirisse esse imóvel como um espaço que resistiu tanto, quase três décadas. Talvez em qualquer outro Estado do País a gente não tivesse sentindo tantas dores, tantas celeumas. Não que o poder público do resto do País seja sensível à causa teatral, mas eu fico pensando nisso às vezes", confessa.

O ator e diretor ainda reflete sobre a vasta quantidade de espaços culturais gerados de forma independente no Ceará, chamando a atenção para a necessidade de maiores investimentos por parte de autoridades públicas competentes.

"Não existir uma política pública de grande fomento à manutenção desses ambientes é terrível. Porque é exatamente isso que, de uma certa forma, essas políticas desejam, que esses espaços sejam de fruição democrática do pensamento, da ideia, do que pode ser mantido por meio da pesquisa de seus realizadores. É uma forma republicana de ver e estimular a cultura. E a ausência e carência disso é terrível", decreta.

"Quando um grupo de teatro tem a sua sede, lá é um espaço de convergência. Não só do grupo, mas dos seus pares e da cidade como um todo. A minha expectativa, então, é que a gente realmente consiga manter esse espaço que tem uma importância significativa para a cidade, que tenhamos mais anos de sobrevivência. Obedecendo ao protocolo que será lançado para funcionamento dos espaços, quando o cenário da pandemia já estiver melhor, a proposta é reabrir o Teatro. Fisicamente, ele está bem baqueado, mas, como sempre, dentro da nossa artesanalidade, a gente vai querer continuar existindo. Eu vou pro embate sempre, até o último momento, dentro de todas as minhas possibilidades e forças", conclui Carri.