Um clique é capaz de registrar histórias, pessoas e lugares, mas é o olhar do fotógrafo que estabelece essa relação entre as narrativas e o objeto fotografado. A partir de retratos, a comunidade do Poço da Draga ganhou uma nova forma de contar a sua história. Com o projeto "Dragaleria", o artista visual Luiz Santos ressignificou essa trajetória, fotografando mais de 120 moradores da região, o que deu origem a uma galeria virtual.
A galeria reúne 34 fotografias por lambe lambe, técnica centenária em que os fotógrafos utilizavam uma câmera-laboratório portátil. Embora tenha mais de 100 anos de existência, Luiz Santos afirma que o lambe lambe não é um estilo de fotografia antiga, mas sim contemporâneo.
“Eu não penso o lambe lambe como uma fotografia antiga, de jeito nenhum. É altamente contemporâneo. O que eu faço é fotografar com a minha cabeça de hoje, com meus propósitos de hoje e pensando na arte como algo do agora, a luz de tudo que eu conheço, de tudo que eu já li, tudo que eu já vivi”, diz.
O projeto teve início no segundo semestre de 2018, mas só ganhou espaço como galeria este ano por meio da Lei Aldir Blanc. A familiaridade de Santos com trabalhos direcionados a atividades educativas em comunidades periféricas o levou a escolher o Poço da Draga como objeto de sua residência artística.
“Eu vinha dessa experiência de residência e estava muito animado com isso. Vou fazer uma residência no Poço da Draga. Foi aí que eu procurei as lideranças e comecei a fazer retratos”, relembra.
A proposta inicial do artista visual era fotografar todos os moradores da comunidade do Poço da Draga, mas a ideia era ambiciosa e idealista demais, segundo ele, o que a tornou inviável. Retratar poucos moradores também não era uma tarefa fácil. Luiz relembra que as pessoas eram muito desconfiadas a princípio e não permitiam que fossem fotografadas.
Essa relação de desconfiança só chegou ao fim quando o fotógrafo produziu lambes - técnica de colagem - a partir das fotografias dos moradores, e os espalhou pela comunidade. “Ela (colagem) repercutiu muito bem na comunidade. Ela fez com que as pessoas que antes me olhavam com desconfiança ou recusassem se submeter ou posar para os retratos, passassem a tocar no meu ombro e dizer assim: ‘Quero meu retrato. Quando é que vai ser?’, conta.
Digital x Analógico
Luiz Santos conheceu a fotografia lambe-lambe em 2005, por meio de um amigo. Os dois começaram a trabalhar juntos utilizando a técnica, desenvolvendo uma parceria que durou até 2016, quando o artista visual decretou carreira solo. "Antes eu não fotografava, eu propunha as poses dos personagens, eu sugeria o retrato pra ele, a direção, mas eu não clicava, eu não era o cara que apertava o botão da câmera. Era ele que fazia”, narra.
A paixão pelo lambe lambe está relacionada à possibilidade de construir uma relação com aquele que está sendo fotografado, a qual, segundo Luiz, está se perdendo com a fotografia digital. Por ser uma técnica mais lenta, ele acredita que pode exercer a arte da escuta e do encontro.
“O lambe lambe não é uma coisa fortuita na minha vida. São 16 anos vivendo com isso. Tentando transformar, tentando fazer experiências com o lambe lambe, mas sempre tentando que isso proporcione às pessoas um sentido, uma vivência, uma experiência motivadora”, completa.
Confira algumas fotos pressentes na galeria virtual "Dragaleria":
Serviço
Dragaleria
Disponível no site.