Professor cearense cria jogo de cartas sobre religiões de matrizes africanas

Para estimular a educação interativa sobre as religiões de matrizes africanas, Raphael Carmo criou o baralho ‘Erê - O jogo dos Orixás’ que está disponível gratuitamente na internet

Os jogos de baralho são uma tradição milenar que foram conquistando outras funções para além do entretenimento. Pesquisador da arte-educação, o professor Raphael Carmo criou “Erê - O jogo dos Orixás”, o recurso é inspirado nas religiões de matrizes africanas, com referência ao arquétipo dos Orixás do Candomblé. 

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Artes do IFCE (Instituto Federal do Ceará), foi numa disciplina do curso que a ideia surgiu. “Tínhamos que fazer uma atividade relacionada à cultura dos povos originários, aí pensei em fazer um jogo de cartas sobre os Orixás, porque já desenvolvi outros jogos educativos”. 

Para produzir o jogo, que é lançado dentro do programa de fomento com recursos da Lei Aldir Blanc, Raphael teve ajuda do amigo Graco Alves, praticante do Candomblé. “Sou só simpatizante, então ele me prestou uma consultoria pra entender melhor sobre as características de cada Orixá”. 

‘Falar das nossas culturas’  

A proposta da ferramenta, de acordo com o professor, é também descentralizar as temáticas dos jogos que já existem.

“Sou muito envolvido no hobby, mas também desenvolvo jogos de tabuleiro e percebo que há uma predominância de temáticas europeias, então foi uma ideia de falar sobre as nossas culturas, é nossa responsabilidade”, declara. 

Entendendo o jogo como uma ferramenta pedagógica, a criação de Raphael proporciona também uma vivência educacional e potente para desmistificar pré-concepções. “É uma experiência imersiva, ele pode facilmente divertir ao mesmo tempo que te introduz em temáticas. Além disso, geram essa parte da socialização que nos foi tirada por conta da pandemia em 2020”, explica. 

Para o professor, inclusive, essa é a responsabilidade de quem produz, já que são muitos os preconceitos que envolvem as religiões de matrizes africanas. “Vivemos num País majoritariamente católico, em que as religiões de matrizes africanas são desconhecidas, as pessoas têm medo, e isso tá enraizado. Precisamos entender que existe toda uma filosofia por trás dessas religiões, os ensinamentos são muito ricos”. 

As dinâmicas do jogo 

Criado inspirado na Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana para alunos do ensino fundamental ao médio, o jogo recebeu esse nome pois ‘Erê’ é uma palavra de origem Iorubá que tem como significado “brincar”. 

No jogo, que envolve de 2 a 4 participantes, cada Orixá tem uma habilidade que foi inspirada no que representam e os jogadores são iniciantes na religião e pedem auxílio das entidades para ajudar pessoas em necessidade e juntar axé. À medida que a dinâmica acontece, o jogador vai ganhando pontos, portanto, vence a partida aquele que tiver a maior pontuação e se torna um pai ou mãe de santo

A produção do jogo envolveu dois pilares: a temática e as mecânicas (regras), conforme explica Raphael. Para isso, o processo de desenvolvimento precisa de muito teste de forma a descobrir se as regras funcionam. 

A parte visual do projeto foi outro ponto do trabalho, já que precisava ser de fácil identificação e com boa estética. Para isso, Raphael optou por um design mais minimalista para não pesar tanto no olhar e cada Orixá foi atribuído a uma cor. 

Difusão 

Com o propósito de educar, o jogo foi disponibilizado de forma gratuita em um site para download. “Neste primeiro momento, estamos fazendo a divulgação nas redes sociais e a nossa ideia é que chegue nas pessoas e desperte o interesse”. 

Enquanto professor, Raphael visualiza seu projeto sendo usado nas salas de aula futuramente. “O jogo em si pode ser só um entretenimento, mas trabalhado junto com o pedagogo pode ser uma ferramenta muito mais poderosa”, conclui. 

Serviço

Erê – O Jogo dos Orixás 

Disponível em http://www.ereojogo.com/