Com foco na difusão da arte contemporânea nordestina e brasileira, um novo espaço para entusiastas das artes visuais chega a Fortaleza. A Cave Galeria, dirigida por Pedro Diógenes e com produção de Lari Brandão, inaugura seu espaço físico nesta quinta-feira (22), no Meireles, em evento aberto ao público. A estreia da galeria recebe a mostra coletiva “Delírio Ardente”, que tem curadoria de Lucas Dilacerda e conta com obras de 35 artistas, entre cearenses e nomes cuja trajetória artística tem forte relação com o Estado.
Criada em 2020, a Cave funcionou de forma itinerante nos últimos anos, com o acervo alocado em uma casa da família de Diógenes e ações em feiras e mostras nacionais e internacionais. Agora, além de funcionar como galeria comercial, o espaço tem como intuito se tornar ponte entre destaques da arte brasileira e o público – além das visitas, o programa da casa inclui debates, rodas de conversa e atividades formativas com escolas e universidades.
“Falar de mercado de arte em Fortaleza é um desafio. São poucos espaços, poucas galerias. Mas é um mercado que tende a atrair novos públicos”, afirma Pedro Diógenes. “Dentro da estratégia do programa da galeria, a gente tem esse viés também de formar público, formar pessoas que vão consumir de alguma forma, seja adquirindo algum trabalho, seja acompanhando os artistas”, completa.
A galeria também busca estimular um intercâmbio artístico: não só levar o nome de artistas cearenses para outros estados e países, mas também trazer novos autores e pesquisas para Fortaleza. “A gente quer desenvolver arte cearense, mas a gente também quer se colocar como uma galeria de arte brasileira que está aqui no Ceará, em Fortaleza. E que a gente possa apresentar essas produções para o Brasil e para o mundo”, pontua Pedro.
Delírio ardente: a cultura do Ceará em ebulição
Ao abrir as portas azuis que dão acesso à Cave Galeria, o visitante se depara, de pronto, com a obra “A semana de um século”, do artista Arivanio, de Quixelô. Impactante e construída em um toá, barro tradicional indígena, a imagem faz referência a três momentos decisivos da história do Brasil: 1822, ano em que o Brasil se tornou independente; 1922, ano da Semana de Arte Moderna; e 2022, que marca uma das mais acirradas disputas eleitorais do País.
Os elementos que compõem a imagem traçam um panorama sobre a história da arte brasileira, com referências à própria história do artista – um cearense em retomada indígena. A obra, não à toa, é a peça “de entrada” da exposição “Delírio Ardente”, que elabora um diálogo entre as diferentes ancestralidades cearenses – indígenas, negras, travestis e tantas mais – e o cenário artístico contemporâneo do Estado.
“‘Delírio Ardente’ fala de uma espécie de uma cena artística que está em estado de ebulição”, explica o curador Lucas Dilacerda. “Eu acho que a gente está vivendo um período único no Ceará, de nascimento de novos artistas, mas também de uma profissionalização maior desses artistas. A gente está vendo cada vez mais os trabalhos artísticos se tornando mais multifacetados, tanto em experimentações da linguagem, mas também nos temas”, completa.
As obras escolhidas para a mostra buscam dar conta dessa multiplicidade. Há um núcleo dedicado, por exemplo, a artistas que trabalham a temática da infância em diferentes pontos de vista, como Alexia Ferreira, Blecaute e Samuel Macedo; outro núcleo investiga a diversidade de gênero e as sexualidades, com obras de artistas como bento ben leite, Raoni Freitas, Bárbara Banida e Charles Lessa – um dos artistas cearenses representados pela Cave.
Artistas indígenas de diversas etnias e idades, como Merremii Karão Jaguaribaras, Gerson Ipirajá e Navegante Tremembé também fazem parte da curadoria, destacando plataformas, materiais e pesquisas que destacam a relevância artística e histórica dos povos originários e das culturas tradicionais do Ceará.
“É uma festa, porque são muitos delírios, são muitas trajetórias. E a gente vai encontrar um pouquinho de tudo na exposição. Acho que é uma abertura de muitos caminhos”, afirma Dilacerda.
Confira os artistas que compõem a exposição:
- Acidum Project
- Alexia Ferreira
- Amanda Nunes
- Ana Cristina Mendes
- Arivanio
- Arthur Siebra
- Bárbara Banida
- bento ben leite
- Blecaute
- Charles Lessa
- Cristina Vasconcelos
- FluxoMarginal
- Francisco Graciano
- Geovani Cardoso
- Gerson Ipirajá
- Gi Monteiro
- Igor Sabá
- Jane Batista
- Julia Debasse
- Júlio Jardim
- kulumym-açu
- Letícia Façanha
- Corrinha Mão na Massa
- Merremii Karão Jaguaribaras
- Navegante Tremembé
- Nicolas Gondim
- Pedra Silva
- plantomorpho
- Ramon Alexandre
- Raoni Freitas
- Samuel Macedo
- Sara Costa
- Sérgio Gurgel
- Telma Gadelha
- VORS
Serviço
Inauguração da Cave Galeria
Quando: Quinta-feira, 22 de agosto, das 18h30 às 22h
Onde: Rua Pereira Valente, 757 - Casa 03 - Aldeota (Travessa Ana Benevides)
Gratuito e aberto ao público
Exposição "Delírio Ardente"
Quando: 22 de agosto a 19 de outubro
Horário de visitação: Terça a sexta-feira, das 13h às 19h, e aos sábados, das 10h às 13h
Mais informações: @cavegaleria