A alteração na grade programação da TV Globo devido à pandemia do novo coronavírus traz a re-exibição de uma das temporadas mais assistidas de Malhação nos últimos 10 anos, que se inicia nesta segunda-feira (6). Vencedora do Emmy Kids Internacional, a edição ‘Viva a Diferença’ fez sucesso com o público ao apostar em um grupo de cinco garotas como protagonistas, além de abordar conteúdos relevantes para os jovens.
Originalmente apresentada entre 2017 e 2018, a novela, escrita por Cao Hamburger e dirigida artisticamente por Paulo Silvestrini, foi criada com a proposta de celebrar a diversidade do Brasil. Para isso, reuniram as atrizes Manoela Aliperti (Lica), Heslaine Vieira (Ellen), Ana Hikari (T ina), Daphne Bozaski (Benê) e Gabriela Medvedovski (Keyla).
A trama apresenta a amizade das ‘Five’, como o grupo era chamado, ao mesmo tempo em que narra as experiências e as descobertas das cinco adolescentes. Logo no início da trama, Lica, Keyla, Ana, Benê e Ellen são colocadas em uma situação inusitada ao se conhecerem: uma pane no metrô faz as cinco ficarem presas no mesmo vagão e tendo de lidar com Keyla em trabalho de parto.
Para elas, a re-exibição vem em um momento importante, já que os assuntos abordados são atemporais, além da oportunidade de se verem em cena. Hoje, dois anos depois, em entrevista ao Verso, ressaltam a importância da novela na carreira e como o sucesso é visto por elas.
“A gente sabia do desafio que seria, mas, conforme a gente foi vivendo, gravando, fomos vendo a grande responsabilidade. Trabalhamos muito em conjunto e, cada vez que vai passando o tempo, consigo ver a importância disso na careira de todas nós”, afirma Daphne em entrevista coletiva virtual. Já Gabriela acredita que foi entendendo esse sucesso com a resposta do público, que interagia bastante pelas redes sociais.
Revisitar esse trabalho é também comemorado por elas. “Vai ser muito importante, porque nesses últimos dois anos nós mudamos, não sei nem como vai ser rever com esse olhar. Já vem um misto de sensações e de lembranças sobre como foi na época”, opina Manoela. Os bastidores também serão recordados, de acordo com Heslaine. “Acho que a gente vai lembras das cenas, das piadas internas, dos processos para entrar no personagem”.
A condição de espectadora para Ana vai ser um exercício de autoestima, já que a atriz diz julgar-se muito.
“Vamos ter que ter um olhar muito carinhoso, porque foi um grande aprendizado, o que desenvolvemos durante as gravações, o método de trabalho”.
É por meio desse roteiro que a narrativa segue e é explorada a partir das características de cada uma do grupo: a rica de estilo alternativo, a hacker da periferia, a mais rebelde e artista sansei, a tímida e solitária que quer muito ter amigas e a mãe adolescente.
Além das cinco, a novela traz no elenco Juan Paiva, Gabriel Calamari, Daneial Galli, Isabella Scherer, Talita Younan, além de nomes conhecidos como Lúcio Mauro Filho, Marcello Antony e Mouhamed Harfouch.
Relevância
Esse desafio do qual elas se referem tem relação às dificuldades de abordar assuntos como autismo e homossexualidade com uma linguagem voltada para o público juvenil. Para Manoela, que protagonizou o primeiro beijo gay da novela adolescente com a atriz Giovanna Grigio, é importante mostrar por se tratar de algo que existe.
“A realidade é isso, são amizades complexas, são indivíduos, questões profundas. Limantha [junção dos nomes do casal: Lica e Samantha] entra na questão da orientação sexual e também entra no quesito da amizade. Elas são amigas, livres e tiveram coragem de experimentar. O mais importante é que as pessoas se sentissem representadas. Tivemos uma resposta imensa dos fãs quando elas começaram a se aproximar na novela e isso foi conduzindo a trama”, explica.
Daphne aponta para o desafio de interpretar a Benê, personagem que tem Síndrome de Asperger, enquadrada dentro do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). “Quando a gente gravava a novela, tinha preocupação se o que fez estava dando certo, me cobrava muito nesse lugar de estar acertando. Agora não tem a responsabilidade, mas a gente vai acabar se julgando do mesmo jeito. Na novela, você conseguia mudar algumas coisinhas, agora a gente vai falar: 'que bom que eu fiz isso ou por que que não cortaram?", ressalta.
Entretanto, as cinco acreditam que as narrativas de alguma forma se assemelham com experiências que elas mesmas viveram na adolescência e, por serem histórias mais próximas da realidade, a atuação se tornou mais fácil.
Em meio à pandemia do coronavírus, as atrizes levantam a questão para o papel que as produções culturais e artísticas têm nessa ocasião de entreter o público, principalmente o audiovisual. “É um momento curioso para gente ter uma grande lição enquanto sociedade, são as áreas mais sucateadas e não valorizadas pelo governo e pela sociedade e que estão sendo fundamentais nesse período”, analisa Manoela.
Desdobramentos
Com o sucesso da trama, a história das cinco meninas ganhou continuidade com a série ‘As Five’, também escrita por Cao e produção para o Globoplay, a estreia está prevista para acontecer ainda este ano. O enredo apresenta o quinteto no início da vida adulta e os desdobramentos a partir dos acontecimentos no fim da novela.
As expectativas das atrizes para o lançamento são altas e adiantam que o público vai se surpreender. “A cada episódio vai ter uma surpresa. Ficamos nos perguntando como aquelas ideias saíram da cabeça do Cao. Acho que assim como a gente ficou muito surpresa, o público também vai ficar”, afirma Ana.
Daphne destaca que as atrizes estão em outra fase, o que contribuiu para as gravações. “A gente teve toda uma preparação para chegar aonde estamos e foi muito legal para entender quem eram essas ‘novas’ personagens, já que muita coisa mudou”.
Hoje, a amizade das meninas segue mesmo fora das telinhas e revelam manter um grupo no Whatsapp, onde “trocam muitas figurinhas”, brinca Ana. “Depois da novela, não tinha como a gente se separar, criamos um laço que se manteve, uma cumplicidade. Estamos sempre conversando sobre todos os assuntos”, finaliza Daphne.