Desde o primeiro álbum da carreira, “Divina Comédia Humana” (1991), ao mais recente trabalho lançado, “Até Que Alguém Me Faça Coro Pra Cantar na Rua” (2020), a cantora Lucinha Menezes sempre reverenciou, de diferentes formas, o cancioneiro cearense.
Retornando aos palcos do Estado após os desafios da pandemia e de um problema de saúde, foi natural para ela optar justamente por celebrar uma produção que não apenas conhece, mas viveu. É essa a proposta que pode ser conferida no show “Cantos do Meu Ceará”, que apresenta na sexta-feira (22), no Cantinho do Frango.
"Comemorar cantando"
“Quis festejar meu aniversário, comemorar cantando”, explica, de partida, Lucinha, que aniversariou no início de outubro. No período, em 2023, a artista esteve internada para tratar de uma doença. Prometeu a si mesma: quando ficasse boa, faria shows no Rio de Janeiro, onde mora, e em Fortaleza, onde se criou.
Pouco mais de um ano depois, Lucinha apresentou no começo do mês passado o show “Belchior e outras bossas” no Rio, cantando músicas compostas ou interpretadas pelo sobralense, a quem pôde chamar de amigo desde os 12 anos.
“Ele era amigo da nossa casa, fazia medicina com um dos meus irmãos, outro era professor dele. Ele vivia lá em casa porque morávamos em bairros próximos. Ia com o violão, tocava. Era um rapaz latino-americano, nem bigode tinha”, ri-se Lucinha.
O álbum de estreia da cearense, de 1991, foi inclusive concretizado a partir do apoio do amigo. “É lado A, Belchior; lado B, Fagner”, resume a cantora, cuja reverência à produção do Estado já era prenunciada no primeiro disco.
Arte cearense no repertório e no palco
Agora, neste fim de novembro, Lucinha consolida o desejo pensado no ano passado com a apresentação de “Cantos do Meu Ceará”, na qual apresenta músicas de nomes como Humberto Teixeira, Lauro Maia, Fausto Nilo, Belchior, Rodger Rogério, Ednardo e mais cearenses.
Entre canções que compõem o show, estão “Terral” (Ednardo), “Dorothy L’amour” (Fausto Nilo), “Dono dos teus olhos” (Humberto Teixeira) e “De primeira grandeza” (Belchior), entre outras.
O espetáculo reúne arte cearense não só no repertório, mas também nas presenças de convidados especiais, como Rodger Rogério, Ednardo, Marta Aurélia, Mona Gadelha e a bailarina Sílvia Moura. “São amigos de muito tempo que vão cantar e participar desse show comigo”, resume.
Lucinha explica que os cantores convidados devem performar músicas solo — “pedi para serem músicas do Ceará, ou de autoria deles ou que eles cantam de outros”, reforça Lucinha —, à exceção de Rodger e Ednardo, que também dividirão os vocais com a cantora.
“Minha relação com o Ednardo é muito forte. Tenho sete discos gravados e, em quatro, tenho músicas dele. Gravei ‘Terral’, ‘Longarinas’, ‘Enquanto engoma a calça’... Sempre fui fã”, atesta. Com o artista, Lucinha cantará “Estaca Zero”.
Planos de circulação e gravação
Os shows no Rio e em Fortaleza marcam os retornos de Lucinha aos palcos desde a pandemia. Foi em 2020, já no período de covid-19, que ela lançou “Até Que Alguém Me Faça Coro Pra Cantar na Rua”.
“Meu disco saiu, lançado só nas plataformas, aquela frustração toda. Quando terminou a pandemia, estava todo mundo querendo ir pra rua, aí fiquei doente, foi muito tempo, tive um longo tratamento antes de fazer cirurgias”, contextualiza a artista.
Perguntada sobre a opção por cantar especialmente música cearense neste movimento de retorno que ganha, pelo contexto, camadas aprofundadas, Lucinha arrisca: “Sei que está me fazendo um bem muito grande fazer isso”.
Os planos, inclusive, incluem circular com ambos os formatos de shows, tanto o “Cantos do Meu Ceará” quanto o “Belchior e outras bossas”, seja por Fortaleza, Rio e outros cantos do Brasil.
Projetos de gravações também não estão descartados — inclusive um dedicado à memória do amigo Belchior.
"Tenho muita vontade. Sei que eu tinha todo esse merecimento, isso eu posso lhe dizer, mas foi um tempo difícil para mim e não pude fazer", explica, ressaltando ter "adorado" discos recentes feitos em homenagem a ele.
"Todas as pessoas que fizeram disco só com versões (de Belchior), tão lindas e tão diferentes, cada uma com sua linguagem… Adoro todos os discos que já ouvi homenageando Belchior — porque, também, como é que vai fazer Belchior ficar ruim? (risos)”
Mais de sete anos após a partida do cantor e compositor, Lucinha se diz impressionada com a forma como a obra do amigo se popularizou ainda mais.
“Talvez ele nunca pensasse que fosse ficar do jeito que está. Em vida, nunca foi assim. Ele virou um mito. Fico muito orgulhosa e emocionada de ter conhecido essa pessoa quando ele nem pensava nisso”, celebra.
O exemplo de Belchior evidencia algo que Lucinha atesta na entrevista: “A música cearense é a música popular brasileira. É tão rica, tão linda. E é algo tão meu”.
“Estão no meu sangue, muito fortemente, todas essas músicas. Estou querendo trazer essa lembrança toda que tenho, para a história ser bem contada. É importante que as pessoas saibam dessa história toda que eu conheço e vivi”, convida.
Show Cantos do Meu Ceará
- Quando: dia 22, às 18h30
- Onde: Cantinho do Frango (rua Torres Câmara, 71 - Aldeota)
- Quanto: R$ 20
- Mais informações: @lucinha_menezes_cantora e @cantinhodofrangooficial