Filme cearense resgata tradição do humor nordestino e ganha prêmios em festival nacional de cinema

Estrelado por dançarinos da Quadrilha Sertão Junino, ‘Um Amor em Quarentena’ traz referências do universo das festas juninas

Quando chega junho, os casamentos matutos ganham destaque nas quadrilhas juninas. Mas devido a pandemia, os planos de receber as bênçãos de Santo Antônio foram interrompidos. Porém, não para Marizete e Firmino, personagens do filme cearense ‘Um Amor em Quarentena’, que se reinventaram para firmar a união.

Com uma pitada de humor, a produção já recebeu dois prêmios no I Festival Brasileiro de Cinema Cômico (FestCômico) e está disponível no YouTube. Produzido no distrito de Uiraponga, em Morada Nova, com apenas uma câmera de celular, o curta-metragem ‘Um Amor em Quarentena’ resgata a tradição do humor popular nordestino, com requintes do universo junino, revisitado no contexto da pandemia.

Com direção geral de Vanderson Lima, o filme foi vencedor nas categorias Júri Popular da Mostra Competitiva Nacional e Menção Honrosa do Festival FestCômico. 

O enredo da produção perpassa a história do casal de namorados Marizete e Firmino que sonhavam em casar ao estilo do casamento matuto das quadrilhas juninas, mas que tiveram os planos prejudicados por conta da pandemia da Covid-19. Para firmar a união, os noivos contam com as bênçãos do padre e da tecnologia e se casam por intermédio de uma celebração virtual.  

Além da história do amor na quarentena, o curta cearense promove reflexões sobre o comportamento dos brasileiros durante a pandemia. É por meio dos próprios personagens que proporcionam uma experiência de identificação com o espectador, a partir de situações compartilhadas por todos os brasileiros durante o período de distanciamento social iniciado em 2020. 

O curta é uma crônica do Brasil atual, apresentando críticas sociais, mas com um tom bem-humorado. “A gente tem o Jairton, por exemplo, que é um personagem que representa o negacionismo. A gente viu a necessidade de representar essas pessoas que não levam o momento pandêmico com tanta seriedade, mas, ao mesmo tempo,  (procuramos) fazer uma crítica a esse tipo de posicionamento e pensamento”, explica Vanderson Lima. 

Festas juninas

Toda a história por trás da criação de “Um Amor em Quarentena” está relacionada à temática das festas juninas, desde o surgimento do roteiro a conexão do elenco do filme com a tradição do mês de junho. O texto original, escrito por Jonh Darly, foi produzido inicialmente para a Quadrilha Sertão Junino, grupo de Uiraponga, e só depois adaptado para o cinema. 

A ideia de produzir um filme sobre o circuito junino nasceu a partir da inquietação dos quadrilheiros, que foram os responsáveis por dar vida aos personagens e por produzir o curta-metragem. Todos os envolvidos no filme cearense dançam quadrilha anualmente, inclusive o Vanderson Lima, que fez o noivo da Quadrilha Sertão Junino por 10 anos. 

Para passar a energia da festa aos espectadores, o diretor explica que foram utilizados outros recursos, tendo em vista a impossibilidade de recriar um casamento matuto tradicional no contexto de pandemia. A produção foi fomentada com recursos da Lei Aldir Blanc. 

“O casamento junino é representado por meio dos figurinos. A gente usou figurinos bem típicos de quadrilha. O cenário que traz essa coisa mais rústica que é muito presente no universo junino e que representa o Nordeste, que a gente vê muito retratado nesse período junino”, conta. 

Humor

Assim como na festa junina não pode faltar quadrilha, no casamento matuto não pode faltar humor. O diretor-geral explica que o tom humorístico adotado no filme tem origem na própria tradição. Por essa razão, foi necessário apenas “adaptar esse texto junino, que já trazia essa carga de humor, essa carga de representatividade da nossa região, daquilo que a gente vive de forma humorada, de forma dinâmica, de forma teatral mesmo, para o cinema”, acrescenta. 

Além da inspiração na própria tradição, “Um Amor em Quarentena” traz referências humorísticas da internet, a partir da linguagem dos memes, mesclada com o jeito cearense de ser. 

“Foi até um medo que a gente teve de retratar com humor um momento tão problemático. Como fazer isso sem se tornar ofensivo? Sem se tornar pejorativo? Foi o cuidado que tivemos e acho que a gente conseguiu alcançar esse objetivo. Trazemos críticas também com o próprio curta. Ele não se resume a um humor solto. Ele traz uma crítica por trás da história, da fala e por trás dos personagens”, completa. 

Serviço

Um Amor em Quarentena

Disponível no YouTube