Escrever sobre aquilo em que se acredita. Lutar para ter voz, seja criando livros, revistas, jornais, zines e até sites. Tudo isso pagando do próprio bolso, ou se virando como pode para financiar o sonho. Existe uma turma que faz o próprio corre na arte de publicar.
O documentário "Ceará Marginal" investiga autoras e autores independentes. Em cena, o resgate da produção editorial alternativa dos últimos 50 anos no Estado. A missão é iluminar as obras e "mentes perigosas" que buscaram a liberdade por meio das autopublicações.
O filme tem sessão de estreia nessa quinta-feira (10), às 19h, no Cineteatro São Luiz. O longa-metragem dirigido por Weaver Lima reúne depoimentos exclusivos destes devotos do “faça você mesmo”. Um registro de que no Ceará do último meio século, inúmeras iniciativas lançaram ideias e vozes consideradas subterrâneas.
A realização de "Ceará Marginal" rendeu mais de 50 horas de filmagem. "Entendemos que esse formato de filme é quase como um cartão de visitas para apresentar essa cena. Para que as pessoas tenham uma noção geral da realidade local. O filme vem para diminuir a lacuna acerca dessa produção mais contemporânea no Estado", descreve o diretor.
Da Ditadura à era dos bytes
"Ceara Marginal" integra a Mostra Cinema LAB Ceará, que realiza exibição de filmes aprovados no Edital de Apoio do Audiovisual Cearense da Lei Aldir Blanc. Até 25 de novembro, serão exibidas 13 obras de realizadores cearenses, entre curtas e longas-metragens, com sessões gratuitas e abertas ao público no Cineteatro São Luiz e no Cinema do Dragão.
O documentário faz um recorte, da década de 1970 aos dias atuais, por meio de depoimentos de artistas que produziram suas publicações. São editores, autores e artistas que criaram, individualmente ou em grupo, os caminhos de propagar suas expressões culturais.
De Fortaleza ao interior cearense, a variedade de trabalhos pesquisados inclui jornais libertários, revistas literárias, quadrinhos underground, fanzines sobre música e até ideais anarquistas. Tem publicações sobre skate, poesia, cordel, política, moda... Seja operando em gráficas ou fotocópias (as populares xerox), editoras e selos autônomos pediram passagem e fizeram história.
"A ideia é mostrar qual a intenção dessas pessoas quando elas se propõem a editar o próprio material. Não temos uma só resposta, resolvemos não focar num tipo de segmento, mas em várias propostas editoriais. O que temos é um painel geral dessa produção independente", destaca Weaver Lima.
Filmar na pandemia
Assim, as entrevistas do "Ceará Marginal" começaram a ser realizadas em fevereiro de 2021. O difícil contexto da pandemia interferiu na captura dos depoimentos. "É um tipo de filme que é legal entrar na casa das pessoas, mexer em papel... O próprio universo da obra é de bisbilhotar, vasculhar a coisa. Na pandemia foi impossível fazer isso. Decidimos escutar, gravar bem mais do que era para o filme especificamente... Temos nesse momento essa história oral de quem fez a coisa", descreve o realizador.
Um dos pontos mais graves durante o processo de gravação foi perder pessoas que fazem parte desse movimento. Nomes importantes no cenário cultural do Ceará, a exemplo do professor e pesquisador Gilmar de Carvalho, referência nacional nos estudos da cultura popular.
Weaver Lima integrou o Seres Urbanos (grupo de fanzineiros que se destacaram no circuito underground brasileiro) e nos 2000 criou o coletivo MONSTRA, que atualmente funciona como uma produtora cultural especializada em projetos de arte (exposições, publicações e filmes).
"Ceará Marginal" nasceu da vontade de pesquisar a produção local independente, aponta o diretor. A promessa é que o material colhido ultrapasse a possibilidade do filme e concretize outros produtos adiante. "O filme é uma pesquisa em movimento, não se encerra. É um tema que não é estático", finaliza Weaver Lima.
SERVIÇO:
"Ceará Marginal". Estreia nessa quinta-feira (10), às 19h, no Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 - Centro, Fortaleza). Acesso gratuito.