Escola de Carnaval no Ceará é a primeira no Brasil a profissionalizar quem faz a folia nas ruas

Cursos da escola incluem aulas sobre gestão cultural, mídias sociais, produção de adereços e fantasias para a festa

O Carnaval de rua vem ganhando força nos últimos anos no Ceará. Mesmo com poucos recursos, as agremiações cearenses resistem há décadas, desfilando na avenida suas belezas e potências. Neste ano, quem promove essa tem a oportunidade de se especializar, por meio de formações da Escola de Carnaval.

A instituição é a primeira do Brasil com foco em conteúdos teórico-práticos. No espaço, agremiações carnavalescas e outros agentes do campo cultural relacionados aos ciclos festivos, como São João, têm acesso a cursos de formação voltados tanto para a gestão, a produção de eventos, artesanias e cenografias. Em um dos percursos, pro exemplo, os alunos aprendem a montar o documento que é submetido em editais, noutro, a fazer um carro alegórico.  

A idealizadora da Escola e gestora cultural, Eliza Guinter, explica que a ideia do projeto, que iniciou as atividades no início de novembro deste ano, surgiu a partir do contato que tem com as agremiações e por conta da paixão pela festa.  

“As agremiações, no geral, encontram muitas dificuldades, tanto na gestão como na produção dos eventos, na elaboração dos projetos, na artesania. Ao mesmo tempo percebi a potência que tem nosso Carnaval. Se com pouco recursos, já fazem uma bela festa, imagina com mais técnica e mais conhecimento”. 
Eliza Guinter
coordenadora pedagógica da Escola do Carnaval

Teoria e prática  

A Escola é estruturada em dois percursos: Gestão Cultural Para Agremiações Carnavalescas e Artesania para o Carnaval. Cada um é composto por três cursos independentes, que podem ser feitos de forma livre, sem a necessidade de realizar os percursos completos.  

Atualmente, as aulas de “Produção de Desfiles Carnavalescos” e “Gestão das Agremiações Carnavalescas” estão com inscrições abertas, com 100 vagas disponíveis. Os interessados devem preencher um formulário disponível no site da Fundação Silvestre Gomes, instituição responsável pela Escola.  

Todas as disciplinas são teórico-práticas e dispõem de atividades que auxiliam na construção do repertório da promoção de eventos. Um dos módulos do segundo percurso tem como foco a divulgação desses grupos, ensinando a gestão de redes sociais, a criar um banco de imagens, entre outros.  

O último curso ofertado concentra no ensino da montagem de um carro alegórico. “Os alunos vão aprender noções básicas de elétrica, mecânica, carpintaria e cenografia. Como trabalho final, vão ter que apresentar um carro alegórico pronto”, detalha Eliza. 

Potências do coletivo  

Apaixonada pelo Carnaval, Eliza teve o primeiro contato direto com as agremiações em 2006, quando foi prestar consultoria aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da Prefeitura de Fortaleza para formar artistas que iriam compor as equipes das unidades.  

“Ali, percebi que o Carnaval tinha uma potência muito grande pra esse grupo. Resolvi juntar as pessoas pra ir pra Av. Domingos Olímpio e reuni 250 pessoas. Então, surgiu o bloco ‘Doido é tu’, que é formado 80% por pessoas com transtorno mental ou psíquico e se tornou uma ferramenta de promoção de saúde mental para essas pessoas. Hoje, saímos com 600 pessoas”, relata.  

Sabendo das dificuldades enfrentadas pelos carnavalescos, Eliza encontrou oportunidade com o edital Escolas Livres da Cultura, lançado pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE) em fevereiro de 2022. “Apresentei o projeto da criação da Escola de Carnaval à Fundação Silvestre Gomes, da qual sou diretora atualmente”.  

Nas aulas práticas, os produtos são feitos a partir de um tema e destinados a algum dos grupos parceiros da Escola, que compõem o conselho pedagógico. É feito um sorteio entre essas agremiações para escolher quem vai ser a contemplada.  

Qualificação do Carnaval  

Além de promover a qualificação das pessoas que compõem as agremiações, Eliza pondera que a Escola deve contribuir com o fortalecimento do Carnaval de rua no Ceará. "É um processo, mas eu tenho certeza absoluta que quem sair daqui, saberá fazer um desfile mais técnico, com autonomia pra fazer e idealizar projetos, entender melhor sobre as fontes de recursos e sobre a importância dos blocos".  

Dessa forma, outro benefício é a troca de conhecimento entre os carnavalescos e outros agentes culturais o que, para a coordenadora, cria um senso coletivo e incita a busca por mais políticas públicas e apoio. "Quando tomamos consciência da potência que temos, a gente contribui pra mudar esse cenário".  

"A consciência e o conhecimento vão sempre gerar bons resultados. Sem falar na coisa mais imediato: se três pessoas de cada bloco estiver na Escola, com certeza os desfiles do ano seguinte já vão melhorar", acrescenta a gestora cultural. 

Serviço

Cursos Escola do Carnaval 
Período das aulas: nov/2022 a out/2023
Local: Fundação Silvestre Gomes (Rua Frei Marcelino, 1511 - Rodolfo Teófilo)
Inscrições gratuitas no site