A sétima arte realizada no Ceará foi destaque na noite de terça-feira (20) do 47° Festival de Cinema de Gramado. "Pacarrete", de Alan Debertton, estreou nacionalmente em grande estilo. O filme rodado em Russas concorre com mais seis produções nacionais na categoria de Melhor Longa Metragem. A estreia em solo brasileiro foi marcada por uma reação tocante da plateia.
Ao fim da sessão, a obra foi aplaudida de pé e mesmo minutos depois de encerrada a projeção o público se manteve no saguão do Palácio dos Festivais para saudar a equipe do longa. Antes de Gramado, "Pacarrete" foi exibido no 22º Festival Internacional de Cinema de Xangai (“Shanghai International Film Festival”), onde disputou com outras 15 produções ao Golden Goblet Award.
Estrelada por Marcélia Cartaxo ("A Hora da Estrela"), a obra é baseada em fatos reais e investe na história de uma icônica moradora do município localizado a 165 km de Fortaleza. Ela tinha o sonho de ser bailarina profissional, abrir uma escola de dança no Interior e promover as artes em sua cidade natal.
O apelido pelo o qual gostava de ser chamada advém da palavra francesa "pâquerette", que significa "margarida". O elenco ainda conta com João Miguel, Zezita Matos, Soia Lira e Rodger Rogério. As locações foram na própria cidade e também teve cenas rodadas na capital cearense.
"Estou aqui representando do Nordeste"
Marcélia Cartaxo foi sem dúvidas uma das figuras mais celebradas. A comovente interpretação de sua "Pacarrete" a posiciona como uma forte concorrente ao prêmio de melhor atriz. Minutos antes da exibição, a estrela da noite enalteceu a necessidade de apoio ao trabalhador da cultura. Dividiu também a relação poética do personagem com a região onde é retratada.
“Estou muito emocionada. É uma responsabilidade muito grande e ao mesmo tempo é uma loteria. Fazer protagonista no cinema brasileiro é uma grande sorte é estou aqui representando o Nordeste, esse personagem nordestino, tão lindo, tão forte, tão intenso que eu quero dividir com vocês", compartilhou a paraibana.
“Uma felicidade de estar neste festival pela primeira vez, estive por conta de outros trabalhos, mas não presencialmente”, disse o ator João Miguel. O artista baiano enalteceu o profissionalismo e o clima de afeto no set de filmagens. “Zezita, Marcélia e Soia fazem parte da minha formação como artista. Então, ter a oportunidade de fazer cinema com essas pessoas é afirmar que é importante estar com pessoas que nos ensinam nesse momento. Isso ninguém nos impede de fazer e vamos continuar fazendo”, concluiu.
Força do cinema nordestino
A atriz Zezita Matos destacou a força da narrativa presente na personagem “Pacarrete”. Uma mulher que movida pelo amor à arte enfrenta a ignorância e a credulidade de quem a cerca. Entre outras produções, a paraibana também esteve em Gramado por “Mãe e Filha”, do cearense Petrus Cariry. “Estar aqui, trazendo uma história real e que dá pra saírmos pensando o que é ser atriz neste momento e neste País”, comentou.
Outra figura importante do elenco, Soia Lira, que vive Maria na produção, enalteceu a participação do longa cearense na recente produção audiovisual nordestina. "Já é a segunda vez que eu participo. Estive com 'O Quinze', também lá do Ceará. É um prazer sempre estar em Gramado, neste festival maravilhoso. E essa resistência que temos que ter, por que o Nordeste está com tudo”, aponta Soia Lira.
"Esse filme foi feito com baixo orçamento"
A noite também foi marcada pela indignação de toda a equipe presente no Festival. Alertaram contra a atual política do Governo Federal destinada à cultura.O desmonte do Ministério da Cultura e as declarações em prol da censura por parte do presidente, Jair Bolsonaro, foram algumas das questões levantadas em Gramado. O mandatário atacou filmes com discurso LGBT que buscavam autorização da Ancine (Agência Nacional do Cinema) para captar recurso pela Lei do Audiovisual. Uma das obras questionadas é Transversais, filme que o diretor de "Pacarrete" também participa e relata as dificuldades de cinco transgêneros que moram no Ceará.
Em sua fala de apresentação, o diretor Alan Debertton elogiou o trabalho de todo aquele grupo e apontou como indescritível a sensação de participar e concorrer no Festival realizado na Serra Gaúcha. A crítica também fez parte. "Queria agradecer ao ex-Ministério da Cultura porque foi por meio do edital de Edital Longa BO, esse filme foi feito com baixo orçamento, através deste edital de baixo orçamento conseguimos realizar esse filme", denunciou o realizador.
Os cearenses terão a chance de ver a obra no Cine Ceará que acontece que acontece de 30 de agosto a 6 de setembro. O filme será exibido no dia 6 de setembro, no Cineteatro São Luiz. Trata de sessão imperdível e uma chance do público local conferir uma elogiada produção realizada totalmente no Ceará.
* O repórter Antônio Laudenir viajou a convite do Festival de Cinema de Gramado