Entre as mãos de quem borda, há de caber um novo mundo, reinventado com os fios que conectam memórias recentes a ancestrais. Construí-lo é a proposta de mulheres como Maria Castro, Thayane Reis e Danielle Tavares, gestoras da Pé de Pano, uma escola itinerante de artes manuais.
No Dia Mundial do Bordado, celebrado desde 2011 no dia 30 de julho, elas dão mais um passo em direção a esse propósito de reconstrução, com uma atividade aberta e gratuita a ser realizada a partir das 9h, no Parque do Cocó.
O convite é para que linhas, agulhas e panos se encontrem sob a sombra das árvores, germinando o que pode ser chamado de recomeço.
“Aquele material que tava lá guardado dentro da gaveta, que era da avó, da bisavó, foi tirado de dentro dos móveis, dos armários para ocupar esse espaço de meditação que foi pedido durante a pandemia, esse espaço de retorno para dentro de si mesmo, e aí esse potencial pode ser novamente colocado de volta para o mundo”, afirma a professora Maria Castro.
Para ela, a data simboliza o resgate desse saber antepassado que vinha adormecido, bem como um estímulo à potência criativa interna.
As artes manuais promovem o fortalecimento da vontade, a maior percepção do sentir e o desenvolvimento do pensar, além de criar peças belas”.
Histórias e sementes
O encontro no Parque do Cocó será mediado por Maria, mas contará também com presenças de mestras das manualidades, a exemplo de Efímia Meimaridou, Martha Dumont (Grupo Matizes Dumont), entre tantas outras.
Na ocasião, as participantes poderão bordar livremente, enquanto trocam histórias e sementes, na tentativa de resgatar ainda um cuidado necessário com a terra.
“Um desenho, antes de ser bordado, tem muito cara de semente, porque tá ali parado, mas se as mãozinhas não atuarem em cima dele, não vai florescer. É mesmo como uma semente que aguarda ser regada. Eu vejo essa conexão”, compara Efímia, aos 76 anos, e bordadeira desde os 8.
Ela recorda que, ao longo da história, o bordado já assumiu diversos significados, chegando inclusive a substituir tatuagens antes feitas para pedir proteção aos espíritos da natureza.
“Isso é uma das coisas que eu me lembro, fora o tanto que ele ocupava as mulheres enquanto os homens estavam nas guerras, na Idade Média, além das rainhas que inventaram bordados sobre tules, sobre renda, lá na Europa. Nada mais justo do que ter um dia para se comemorar o bordado”, celebra ela.
Ação terapêutica
Revisitar essa história cultural, para a outra gestora da escola de artes manuais que está promovendo o evento, Thayane Reis, é reforçar a ideia de que este fazer não se trata apenas de pegar um pano e passar a agulha.
"O trabalho manual, a contação de história são terapêuticos. Eles atuam dentro de nós, reverberam, curam. Lá atrás, nossas bizas bordavam, teciam, cozinhavam e, enquanto tudo isso acontecia, com as crianças ao redor, elas contavam histórias! De todos os tipos. Contavam histórias de folclore e também de seus antepassados. Assim o conhecimento e a memória dos antigos seguiam vivas dentro de cada uma daquelas crianças que mais à frente contariam para seus filhos e assim por diante”, lembra Thayane.
Acender essa chama de sentar, bordar e contar, segundo ela, perpassa uma trama de fios invisíveis. “São pontos que bordam uma alma à outra em uma linha de vida que veio e que seguirá além de nós”, finaliza.
Serviço
Dia Mundial do Bordado
Nesta sexta-feira (30), no Parque do Cocó (próximo ao anfiteatro)
Das 9h às 11h30
Mais informações: @pedepano.escola e (85) 98180-4566 (Whatsapp)