A ruína de uma pretensa família perfeita é o mote de obra que reúne a assinatura de suspense do jovem escritor carioca Raphael Montes — autor de oito livros que já venderam mais de 500 mil exemplares — às reconhecidas figuras de Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini. “Uma Família Feliz”, dirigido por José Eduardo Belmonte, chega aos cinemas nesta quinta-feira (4) buscando lançar luz no que se esconde por trás das fachadas sociais.
No roteiro de Raphael, Vicente (Gianecchini) e Eva (Grazi) são um casal bem-sucedido que vive em um condomínio fechado com Angela e Sara, filhas gêmeas de 10 anos, e aguarda a chegada do terceiro filho.
Advogado prestes a ser promovido, ele é pai biológico das meninas, tendo ficado viúvo há alguns anos. Já Eva é tratada por elas como mãe, tendo boa relação. Profissionalmente, a mulher trabalha em casa construindo “bebês reborn”, bonecos que reproduzem de forma realista uma criança.
A “perfeição” da estrutura passa a ruir quando as crianças aparecem machucadas e não se sabe quem fez aquilo. O fato, na realidade, expõe as fraturas já existentes na família que incluem aspectos que vão da sobrecarga de Eva no cuidado com as crianças ao machismo de Vicente.
O mal-estar expresso pela mulher é latente desde o primeiro momento, provavelmente fruto das pressões sociais e da imposição de se encaixar em papeis esperados para aquele contexto. Em outra ocasião, ela tenta evidenciar a importância que vê no próprio trabalho, que Vicente define como somente “brincar de boneca”.
Quando as suspeitas de autoria dos machucados recaem na própria Eva, ela se vê alvo de julgamentos na vizinhança e na escola dos filhos. O roteiro de Montes evidencia o caso na chave do suspense, oferecendo elementos que ora parecem acusar a mulher, ora inocentá-la.
Essa ambivalência se acentua porque o ponto de vista que mais se destaca no longa é o da própria Eva. Em determinados momentos, ela é mostrada em situações de instabilidade; já em outros, ela passa a suspeitar do próprio marido.
A escalação de Grazi e Gianecchini para o filme agrega à proposta uma vez que os dois são figuras famosas, reconhecidas e marcadas no início das carreiras por serem referências de beleza. Esse imaginário acumulado sobre os dois faz a presença da dupla funcionar em prol da narrativa, emprestando aos personagens o verniz da perfeição aparente.
A partir das temáticas e da intenção de questionar as aparências, situações trazidas pelo filme poderiam, por exemplo, ser lidas à luz de discussões contemporâneas sobre papeis de gênero. Há até um esboço de comentário político na obra, mas, na prática, isso não se desenvolve de forma profunda.
“Uma Família Feliz” se desenrola como um suspense simples e sem grandes simbolismos ou mensagens, sejam elas mais sutis ou diretas — ainda que, como seria de se esperar em uma obra escrita por Raphael Montes, se encaminhe para uma resolução que busca criar uma “revelação chocante” ao final.
Os caminhos narrativos, inclusive, evidenciam o desequilíbrio entre os gêneros com os quais o filme trabalha. Descrito como “suspense dramático”, ele arrisca uma abordagem mais séria e sóbria sobre temas graves em alguns momentos, recaindo em reviravoltas mirabolantes em outros.
Entre senões e pontos de interesse, “Uma Família Feliz” preenche — apesar do envolvimento de equipe e elenco reconhecidos e de empresas como a Globo Filmes e a Telecine — o espaço do chamado “filme médio”: produção que busca estabelecer diálogo com um público amplo ao passo em que não necessariamente se molda pela cartilha do palatável.
Confira o trailer de "Uma Família Feliz"
Ficha técnica de "Uma Família Feliz"
Direção: José Eduardo Belmonte.
Roteiro: Raphael Montes.
Protagonistas: Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini.
Duração: 115 minutos.
Estreia: nesta quinta-feira (4).
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