Os últimos dias de 2021 trouxeram outra perspectiva para o audiovisual cearense. A Lei Nº17.857 cria o Programa Estadual de Desenvolvimento do Cinema e Audiovisual. Batizado de “Ceará Filmes”, seu objetivo é promover políticas públicas específicas para o setor.
Após aprovação da Assembleia Legislativa do Ceará, essa demanda recorrente dos trabalhadores da área foi sancionada pelo governador Camilo Santana (PT) no dia 29 de dezembro. Outra novidade é a efetivação do Sistema Estadual do Cinema e Audiovisual. Independente da gestão à frente do governo, o programa deve fortalecer a sétima arte do Ceará. Atuando nas etapas de criação, ensino, exibição, distribuição, preservação, pesquisa e intercâmbio.
A efetivação do “Ceará Filmes” foi recebida em meio a expectativas positivas. Procuramos instituições que atuam em Fortaleza com a formação na área de cinema. Para a coordenadora da Escola Pública de Audiovisual da Vila das Artes, Kennya Mendes, incentivar a cadeia produtiva do audiovisual é sinônimo de emprego e renda para mercados e artistas que trabalham em outros campos além do audiovisual.
Já a coordenadora do Curso de Cinema e Audiovisual da Unifor, Bete Jaguaribe, aponta que o programa reconhece a importância do audiovisual na economia local. O cinema e as suas demandas produtivas, descreve, dialoga diretamente com a tradição do Ceará no setor de serviços.
Temos exemplos em vários países que investiram no audiovisual como liderança de suas economias, no sentido de criar perspectivas de desenvolvimento: a Coreia do Sul é o exemplo que ganhou visibilidade, mais recentemente, em decorrência da vitória do filme ‘Parasita’, o grande ganhador do Oscar 2020. Uma vitória que está diretamente relacionada com as políticas públicas de fomento ao setor cinematográfico, desenvolvidas pelo Governo coreano, há mais de 20 anos"
Surgimento
O programa “Ceará Filmes” resulta de articulações consolidadas ao longo dos anos pela Câmara Setorial do Audiovisual. Criada em 2012, a primeira do Brasil, reúne representantes e setores públicos e privados e atua enquanto órgão colegiado na Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece). A proposta é que mais histórias sejam contadas nas telonas por artistas da região, promovendo assim a imagem e cultura dos cearenses para o mundo.
Outro foco é recuperar o tempo perdido na compreensão da importância estratégica dessa área junto a gestores estaduais e municipais. De acordo com o presidente da Câmara temática do Audiovisual, Geroge Frota, a indústria criativa do Audiovisual já é mais potente economicamente que setores como o farmacêutico e representa, além da expressão da cultura, a geração de "patentes intelectuais, inovação e negócios disruptivos".
Reúne mais de 15 diferentes áreas de negócios com empresas de produção, salas de cinema, empresas de locação, plataformas de streaming, canais de televisão aberta e TV paga, além de autores, artistas, técnicos, todos representados na Câmara Setorial do Audiovisual", explica.
Outra iniciativa bastante aguardada pela Câmara Setorial envolve a administração da capital cearense. A “Film Commission de Fortaleza” foi anunciada pela Secretaria da Cultura de Fortaleza em dezembro. Essa comissão já acontece em outras cidades brasileiras, caso do Rio de Janeiro, e atua no apoio e captação de filmagens em espaços públicos.
Uma "Film Commission", detalha George Frota, divulga a cidade, porém as produções precisam gerar emprego e renda. "A ideia é trazer produções audiovisuais de outros estados e países a Fortaleza. Gerando assim, oportunidades para quem trabalha, por exemplo, com hotelaria, locação de equipamentos, alimentação, segurança, entre outros vários setores da economia local".
Futuro
Segundo Kennya Mendes, o Ceará Filmes é uma grande conquista, mas é importante destacar que a atuação do poder público no audiovisual não pode se resumir só a fomento.
“É também preciso pensar essa política pública de modo que passe pela universalização do acesso, pelo fortalecimento das produções independentes, pela regionalização, pela internacionalização e pela defesa da diversidade", conclui a gestora.
Para Bete Jaguaribe, o programa também contempla ganhos simbólicos. “Favorece a produção de profissionais cearenses, construindo a imagem do Ceará, a imagem da nossa gente, para fazer o contraponto às imagens estereotipadas, produzidas pela indústria midiática nacional”, estipula a docente.
Enquanto mercado, destaca George Frota, o audiovisual impulsiona cadeias culturais e econômicas de países como EUA e foi o motor que mudou a percepção de economias como a do Japão e Coreia do Sul. O programa "Ceará Filmes" reúne o aporte jurídico, orçamentário e estrutural básico. Ele descreve as expectativas para o futuro.
"Esperamos que essa base estrutural seja implantada com velocidade e venha acompanhada de um robusto e permanente conjunto de ações, como a iniciativa 'Soul Ceará', gerada no ambiente da CS Audiovisual, e que promove a interlocução do Audiovisual com os clusters econômicos do Ceará, permitindo a implantação de uma produção em escalas maiores, características da indústria Audiovisual, e trazendo atração de investimentos, apoio a empresas, capacitação técnica e financiamento", finaliza.
Em nota, o secretário da Cultura do Ceará, Fabiano Piúba, enfatiza que o "Ceará Filmes" é uma política perene de estado e não só de governo. “A Lei do Ceará Filmes cria o Sistema Estadual do Cinema e Audiovisual, uma instância com a participação da sociedade civil com o objetivo de organizar, articular e integrar as políticas e ações para uma área estratégica à economia criativa da cultura e para o próprio desenvolvimento social e econômico”, compartilhou o gestor.