No Cariri, não se pensa pequeno. E se a ideia vem, também não se perde muito tempo para executar. Nos últimos dois anos, por exemplo, Alemberg Quindins, criador da Fundação Casa Grande, começou a conversar com o secretário da Cultura do Estado, Fabiano Piúba, sobre a possibilidade de tornar a região Sul do Ceará um Patrimônio Cultural da Humanidade. Nesta segunda-feira (19) pela manhã, durante a abertura do Seminário Arte e Pensamento, na 20ª Mostra Sesc Cariri de Culturas, o projeto tornou-se público e os trabalhos oficiais também.
A mesa de abertura contou com a participação de dois pesquisadores portugueses: a arqueóloga Conceição Lopes (Universidade de Coimbra) e o arquiteto Tiago Mota Saraiva, além da mediação de Quindins e contribuição de Piúba. O intercâmbio de experiências além-mar serviu como panorama de fundo para a discussão regional.
Em entrevista exclusiva ao Sistema Verdes Mares, o secretário de Cultura do Estado adiantou que o diálogo com as instituições já está acontecendo. “Estamos conversando com o Iphan sobre o Cariri como patrimônio cultural na perspectiva de território, e juntando os fios, envolvendo instituições como a URCA, a UFCA, universidades particulares, o próprio Sesc e a Fundação Casa Grande, a Secretaria de Cultura do Estado e as dos municípios, na perspectiva de que o Cariri possa ser reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural”, afirmou.
Para a portuguesa Conceição Lopes, dois passos são fundamentais nesse processo: enxergar o patrimônio como algo vivo – não apenas como memória -, e trabalhar a convergência das comunidades, mostrando para o mundo o “valor universal e as diversidades específicas da região”, tais como culinária, manifestações culturais e a própria fauna caririense.
“A gente entende que é um debate muito importante. Estamos falando de uma região que tem patrimônio cultural e natural formidáveis. Pensar em patrimônio cultural para o Cariri tem que estar associado ao patrimônio natural”, reforçou Piúba. O secretário afirmou ainda que um dos planos para a integração desses bens é um metrô de superfície que conecte Juazeiro do Norte e Crato, a partir do Aeroporto Regional do Cariri.
Ainda na tarde desta segunda-feira, os integrantes da mesa devem se reunir para discutir a construção de um dossiê que viabilize o reconhecimento da região pela Unesco. Um seminário internacional também já está previsto para acontecer em junho do ano que vem, no Cariri, com o objetivo de reforçar a ideia.
Para Alemberg, faz-se necessária uma “coroação do Cariri”. “Vamos colocar a coroa na cabeça da Chapada do Araripe”, ressaltou. Da plateia, cerca de 150 pessoas, incluindo estudantes do 1º e do 2º ano do Ensino Médio da Escola Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau, no Crato, acompanhavam o Seminário como testemunhas de um futuro-presente que eles mesmos ajudarão a construir.
* A repórter viajou ao Cariri a convite da Mostra Sesc Cariri de Culturas