Aos 88 anos, cearense Emiliano Queiroz é homenageado com exposição no Museu da Fotografia

Trajetória na rádio, TV e teatro do ator é destaque da mostra que leva 105 fotos da carreira do homenageado. Depois da Capital, ela deve seguir por outras cidades cearenses

São mais de sete décadas dedicadas às artes na trajetória do ator cearense Emiliano Queiroz (88). Nesse caminho, descrito como natural pelo artista em entrevista ao Verso, somam-se centenas de trabalhos em rádio, teatro, TV e cinema. 

Essa rica trajetória é reverenciada na exposição “Emiliano Queiroz - De Aracati para o Mundo”, que traz 105 fotos da carreira do ator em diferentes produções. A homenagem é realizada pelo Sistema Fecomércio Ceará por meio do Sesc e ocorre em parceria com o Museu da Fotografia Fortaleza, onde as imagens históricas estarão expostas.

Exposição passeia por momentos da trajetória do ator

O percurso artístico de Emiliano, como ele partilha na entrevista, teve gênese ainda na primeira infância, em Aracati. Das memórias que guarda da cidade onde nasceu, traz fortemente aquela que foi, talvez, o primeiro contato do então menino com as artes cênicas.

Com a chegada de um pastoril na cidade, um dos atores, que na encenação daria vida ao diabo, visitou a casa da família de Emiliano e ouviu um pedido da mãe dele: “Não grite muito na hora (da apresentação) porque ele acorda e fica querendo ir”. O artista respondeu: “Leva o menino!”.

“Quando cheguei lá, eu vi o diabo todo de azul. Numa hora, começou um barulho esquisito, jogavam uma fumaça e ele arrancou aquela roupa ficou de vermelho. Bati muita palma, não tive medo e ele ficou muito impressionado com aquele menino que parecia que era dali de dentro, do palco”, reconta o cearense. A relação com o palco foi, então, selada. 

“Levei essa lembrança de Aracati muito forte, assim como a lembrança dos dias de Reis, onde saía todo mundo cantando e eu acompanhava. Era uma cidade pequena, todo mundo sabia quem era aquele menino xereta toda hora se metendo nas coisas”, ri-se Emiliano. 

A mostra “Emiliano Queiroz - De Aracati para o Mundo”, após a passagem por Fortaleza — onde fica em cartaz até 19 de outubro — seguirá depois para a cidade natal do homenageado, e ainda deve circular por unidades do Sesc em Juazeiro do Norte e em Sobral.

As 105 obras que compõem a exposição advém do acervo pessoal de Emiliano, cedido por ele ao Sesc, e passeiam por momentos importantes da história das artes cênicas do Brasil. A curadoria é de Caio Quinderé, que escolheu ainda para a mostra peças e troféus da trajetória do ator.

Questionado sobre as possibilidades que existiam para um jovem ator nos anos 1940 e 1950, o cearense é direto: “Nenhuma. Eu que fiz as oportunidades”. Pioneiro em diferentes frentes, Emiliano começou na rádio, foi um dos principais nomes dos anos iniciais da TV Ceará e participou de mais de 80 novelas na TV Globo, além do extenso currículo no teatro e cinema.

Das invenções à ficção

Após Aracati ser o berço do contato com arte, o cearense foi explorando possibilidades em Russas e Fortaleza, cidade nas quais também morou durante a infância.

Do contato infantil com artes cênicas, Emiliano se diverte ao lembrar das histórias que criava, seja em uma radionovela inventada, seja nas tramas mirabolantes que compartilhava com adultos ao redor.

Uma delas, ele partilha, foi quando Orson Welles, célebre diretor dos Estados Unidos, veio a Fortaleza para gravar o jamais finalizado longa “It’s All True”, sobre jangadeiros cearenses que foram navegando até o Rio de Janeiro em protesto por melhores condições de trabalho.

Levado pela mãe para acompanhar as filmagens, Emiliano viu o cineasta de longe. Quando uma foto de Welles na qual havia uma criança foi publicada nos jornais, “eu resolvi inventar que o menino era eu”.

“Minha professora me apresentou na classe no outro dia, ‘essa criança se aproximou de Orson Welles’, e eu constrangido (risos). Eu mentia descaradamente, achava que estava fazendo teatro nas minhas mentiras”, brinca.

O contato, também ainda cedo, com filmes de Hollywood ajudava na imaginação do pequeno Emiliano: “Não sabia a distância que levava indo de Russas até Hollywood, achava que era ali do lado”. 

Apoio dos pais e gosto pessoal foram diferenciais

Das invencionices infantis à prática artística, o caminho foi natural. “Fazia parte dos teatrinhos, dos dramas da escola. Ninguém mandava eu fazer aquilo, era por gosto, por prazer de fazer. As pessoas me chamavam, então eu fui naturalmente me entrosando no teatro. Não tinha um propósito, mas ia”, avalia. 

As histórias também depõem sobre o apoio da família do ator ao percurso artístico dele. “Para eu fazer um papel, precisava ter uma autorização do meu pai e ele falava ‘acho que o Emiliano tem a ver com isso’”, lembra.

“Sempre que precisava de personagens, eu era chamado para fazer. (Batiam à porta) e diziam ‘dona Ana (nome da mãe dele), o Emiliano pode fazer?’ e ela era minha empresária, ‘pode, meu filho, vá!”, segue.

Com o consentimento e apoio direto dos pais, o caminho foi ainda mais natural. “(À época) era visto mais como uma coisa de menina, tinha muito preconceito, mas não sabia nem o que era isso, na minha casa não existia esse código do preconceito”, reforça.

Do "Caju de Ouro" ao aval de Bibi Ferreira

Além da própria família, Emiliano tem acumulado reconhecimentos e premiações de outras instâncias ao longo dos anos. Entre outros, o ator já ganhou troféu pela carreira no Cine Ceará, deu nome a um teatro do Sesc e agora recebe homenagem na exposição.

“Meu caminho de homenagens veio muito cedo e, quando elas não existiam, eu fabricava. Me lembro que uma vez falei com um menino que eu tinha ganhado o Caju de Ouro e ele ‘mas não tem esse prêmio!’”, diverte-se Emiliano.

Um prêmio simbólico também partilhado pelo cearense veio no encontro que ele, ainda adolescente, teve com Bibi Ferreira, grande nome do teatro brasileiro, durante uma visita dela a Fortaleza.

“Fui ao camarim dela, já era ator amador, e ela me perguntou o que eu tinha feito. Eu inventei, para não fugir à regra, personagens (risos). Nessa ocasião, a Bibi falou assim: ‘Você devia estudar teatro’. Nunca ninguém tinha me dado um aval. Aceitei aquilo como uma orientação”, atesta.

Exposição Emiliano Queiroz - De Aracati para o Mundo

  • Quando: visitação de terça a domingo, das 12 às 17 horas
  • Onde: Museu da Fotografia Fortaleza (rua Frederico Borges, 545 - Varjota)
  • Gratuito.
  • Mais informações: @sescce e @museudafotografiafortaleza