Já são 33 edições consecutivas de realização do Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, principal evento audiovisual cearense. Mesmo consolidado no calendário do Estado e do País, o festival segue em busca de expansões. Em 2023, há recorde de presença de longas cearenses e de filmes em exibição. O 33º Cine Ceará acontece gratuitamente entre 25 de novembro e 1º de dezembro com programação no Cineteatro São Luiz e no Cinema do Dragão.
A permanência do Cine Ceará é um dos pontos de celebração do discurso de Wolney Oliveira, realizador de cinema e diretor do evento. “São 33 anos seguidos, sem faltar nenhum. Somos o único grande festival que em 2020 e 2021 funcionou presencial e virtual. São conquistas importantes”, ressalta.
A seleção deste ano traz mais de 80 filmes em diferentes mostras. Entre eles, seis compõem a Mostra Ibero-americana de Longa-metragem. São produções de 10 países, incluindo um representante brasileiro: o longa mineiro “Sou amor”, de André Amparo e Cris Azzi.
“A nossa tarefa foi encontrar uma unidade dentro da grande diversidade estética e temática apresentada. Acabamos encontrando nas diferentes propostas uma casualidade: o olhar comum e franco sobre a família, principalmente a infância”, elabora o cineasta Vicente Ferraz, curador da mostra neste ano.
Além de só ter um filme nacional, uma diminuição em comparação a edições recentes, a competitiva de longas não traz nenhum cearense. Vicente destaca que “vários” longas do País e do Estado foram inscritos, mas o critério de ineditismo do festival afunilou as possibilidades.
“Fazer a seleção de um festival sempre é um grande desafio para qualquer curador”, reconhece. O olhar curatorial, ele define, se guiou em busca de “realizar um panorama” da produção ibero-americana. “Seis filmes foram escolhidos para seleção principal e cada um deles, de alguma forma, representa uma cinematografia distinta”, segue Vicente.
Wolney lembra que o caráter ibero-americano do festival começou em 2006 para “diferenciar a programação". “Exibir esse cinema é uma oportunidade única porque você não vê no circuito comercial um filme peruano, dominicano, panamenho. Foi uma estratégia para ter um diferencial, valorizar o cinema ibero-americano e poder apresentar filmes inéditos ao público”, afirma o diretor.
Além da mostra de longas, o Cine Ceará também promove a Competitiva Brasileira de Curta-metragem, na qual figuram os filmes cearenses “Circuito”, de Alan Sousa e Leão Neto, e “Os finais de Domingos”, de Olavo Junior.
Junta das exibições competitivas, o festival promove ainda uma série de sessões especiais, mostras paralelas, momentos de debates e homenagens a nomes do audiovisual cearense e brasileiro.
Olhar do Ceará
O recorde batido em 2023 de participação de longas cearenses, por sua vez, comprova a força do audiovisual do Ceará mesmo em meio ao enfraquecimento das políticas públicas federais e impactos da pandemia.
Neste ano, o festival conta com 29 produções do estado no total, somando 17 curtas e 12 longas nas três mostras competitivas e exibições paralelas. Parte significativa da robustez da seleção cearense se dá pelo fortalecimento da Mostra Olhar do Ceará.
Dedicada inteiramente à produção do Estado, ela vem desde 2019 em expansão. Antes voltada apenas à produção em curta-metragem, passou no 29º Cine Ceará a incluir longas. Na atual edição, traz oito filmes no formato, além de 15 curtas.
“Ela vai se fortalecendo e aumentando em tamanho e relevância à medida que o cinema cearense vem se fortalecendo”, resume a produtora Camilla Osório, que assina a curadoria da mostra. “Isso vem de uma esteira de políticas públicas contínuas que aconteceram aqui — apesar da gente ter tido uma descontinuidade a nível nacional”, destaca.
Na visão da curadora, a busca do recorte da seleção foi por filmes que mais “conversam por contrastes do que por semelhanças”. Isso porque o gesto curatorial, define Camilla, é “traçar um panorama e contar um pouco da diversidade da produção” local.
Neste sentido, Camilla destaca não um tema ou uma questão formal no grupo de produções, mas sim a presença forte de obras produzidas em âmbito formativo. “O fortalecimento da Olhar do Ceará se deve muito às escolas de formação. A gente tem quantidade e diversidade grande de espaços acessíveis à população”, aponta.
A produção advinda da formação, para Camilla, se particulariza por depor sobre a “subjetividade coletiva da comunidade de aprendizagem que está se estabelecendo”. “Filmes de escolas de formação dão a ver um caminho de desenvolvimento da linguagem, nos contam essa história de construção que vem sendo possibilitada nas escolas”, sustenta.
Pela descentralização
Historicamente, o Cine Ceará também desponta como espaço de debate e reflexão sobre mercado e políticas públicas de audiovisual. Nesta toada, o festival promove nos dias 27 e 28 o seminário “Os Desafios da Produção Audiovisual: Descentralizar e Diversificar com Sustentabilidade”, no Porto Iracema das Artes.
Com agentes e instituições do setor como convidados, a programação é promovida a partir de parceria entre o festival e a Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste (CONNE), com apoio da Ceará Audiovisual Independente (CEAVI).
Em 2023, o seminário busca pautar a defesa do aprofundamento da descentralização de políticas públicas para o audiovisual. Representantes do Ministério da Cultura, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, da Secretaria da Cultura do Ceará, da Agência Nacional do Cinema e da Cinemateca Brasileira, entre outros, compõem as mesas de debate.
33º Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema
Quando: de 25 de novembro a 1º de dezembro
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500, Centro) e Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema)
Entrada gratuita; para sessões no Cineteatro, até dois ingressos por pessoa serão disponibilizados na plataforma Sympla a partir de 12h do dia que antecede a sessão; para sessões no Cinema do Dragão, os ingressos serão disponibilizados na bilheteria a partir de 13 horas, uma hora antes do início de cada sessão
Mais informações: no site, Instagram e Facebook