Kelly Lidiane Carvalho Moreira, de 36 anos, foi morta na madrugada do domingo (12), em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, vítima de feminicídio. Horas antes do crime, Kelly havia acionado a polícia após ter sido agredida pelo companheiro. A mulher morreu com golpes de faca logo depois dele ter sido liberado.
De acordo com o Boletim de Ocorrência, foram encaminhadas medidas protetivas de urgência a favor da vítima. Entretanto, o delegado plantonista teria entendido que não havia configuração de flagrante, e o suspeito foi liberado. Guilherme Pansardi Grisóstimo foi solto e, em seguida, matou a mulher com quatro facadas nas costas.
Segundo a Polícia Civil, o prontuário médico da mulher apontava uma gravidez, mas o tempo de gestação só poderá ser confirmado com o laudo da necropsia. Ela deixou quatro filhos com idades entre 5 e 17 anos, oriundos de outro relacionamento.
POSSÍVEL FALHA
A delegada regional de Alegrete, Daniela Borba, informou ao G1 que "será apurada eventual falha ou omissão por parte da Polícia Civil, com a devida responsabilização, se for o caso". Esse foi o primeiro feminicídio do ano em Uruguaiana.
Conforme a delegada, o suspeito não foi preso no sábado por falta de "elementos que justificassem a autuação em flagrante."
"Com base nos elementos apresentados à autoridade policial no momento da lavratura da ocorrência, a medida cabível era o encaminhamento à Justiça de pedido de Medida Protetiva de Urgência, o que foi feito ainda na madrugada do dia 12. A Polícia Civil, em sua esfera, adotou de pronto as medidas investigativas preliminares, porém, infelizmente, fatos que não estavam dentro do domínio da Polícia Civil culminaram na morte da vítima."
Por fim, foi informado que "a vítima em princípio não queria ir à delegacia, tendo sido convencida por familiares a comparecer", disse Daniela. Na delegacia, "inicialmente não queria fazer o registro na unidade policial, mas foi devidamente orientada a solicitar medida protetiva e a fazer o registro da ocorrência" concluiu a delegada.
Familiares disseram que as agressões aconteciam, mas o homem ameaçava atear fogo na casa se ela o denunciasse. Os dois estavam juntos a pelo menos um ano.
TESTEMUNHA DO CASO
Uma sobrinha da vítima disse ter testemunhado agressões anteriores sofridas pela tia, de quem era vizinha, e presenciou os fatos no dia do crime. Segundo a familiar, em janeiro desse ano, a mulher teria sido agredida pelo marido, que havia ingerido álcool.
A mulher conta que depois de ser ouvida na delegacia, Kelly voltou para casa e foi surpreendida e atacada pelo suspeito logo após a viatura policial deixar o local. A vítima tentou fugir, mas foi atingida pelas costas. Ela foi socorrida pela Brigada Militar (BM), mas morreu a caminho da Santa Casa de Uruguaiana.
"Eu estava lá e vi tudo. Tentei impedir, mas foram facadas nas costas da minha tia. Ela simplesmente me olhou e disse: 'Me larga, eu já estou morta, pega e te salva, ele vai te matar'", disse a jovem.
A BM estava próximo ao local, prendeu Guilherme Pansardi Grisóstimo em flagrante, que permanece preso na Penitenciária Modulada de Uruguaiana. De acordo com a Polícia Civil, o pedido de conversão da prisão em flagrante em preventiva foi aceito pela Justiça.