Os familiares da idosa de 82 anos, Arlene Marques da Silva, que morreu em unidade de saúde durante uma confusão generalizada, pedem justiça pelo caso. A paciente sofreu um infarto no Hospital Francisco da Silva Teles, em Irajá, Rio de Janeiro, enquanto a única médica do plantão estava sendo agredida por outros dois pacientes.
Arlene tinha oito filhos e 42 netos e bisnetos. Conforme uma das netas, a avó era a alegria da família, e gostava de dançar e cantar. "Para ela não tinha tempo ruim".
"Foram desumanos fazendo isso. Simplesmente só pensaram neles e não pensaram em outros pacientes. Foi minha avó, mas poderia ter sido até pior", acrescentou a neta de Arlene.
Em entrevista ao Fantástico, a médica agredida, Sandra Lúcia Boyer, revelou que Arlene não tinha um quadro clínico que indicasse riscos de morte. Ela estava se recuperando bem e logo teria alta.
"Ela estava acordada, falando, chamando a enfermagem. Batia na cama com a mão", disse. Por isso, a suspeita foi de que a idosa sofreu o infarto por presenciar a confusão no hospital. A hipótese foi posteriormente confirmada pelo Instituto Médico Legal.
Entenda o caso
A médica Sandra Lúcia foi agredida por pai e filha que chegaram à unidade hospitalar procurando atendimento para um corte em um dedo da mão esquerda. André Luiz do Nascimento Soares, de 46 anos, e sua filha, Samara Kiffini do Nascimento Soares, de 23 anos, foram presos em flagrante no dia 16 de julho.
O delegado responsável pelo caso Geovan Omena informou ter ficado surpreso com a agressividade da dupla. "Quando tem um caso de vida ou morte, a gente até entende a pessoa ficar desesperada pelo atendimento. Nada justifica a agressão. No caso, ele tinha um corte no dedo. Um band-aid resolvia o caso dele a noite toda", disse.
Ainda conforme a Polícia, a médica estava em atendimento quando escutou a confusão e foi ver o que estava ocorrendo, a partir daí, as agressões começaram.
André Luiz só parou as agressões após a chegada da Polícia. "Quando Samara, filha do André, tomou conhecimento que iria permanecer presa, ela virou para a médica e disse: 'você toma cuidado que você está marcada, quando eu sair, vou lá e te matar de porrada'. Os dois não possuem passagem pela polícia, mas nada justifica as agressões que fizeram", completou Omena.
Quando a situação se acalmou, os policiais voltaram ao hospital e verificaram a sala grave.
"Ao retornarem à Sala Vermelha, encontraram uma paciente que estava mais grave. Ela estava sendo monitorada o tempo todo pela equipe medica e foi encontrada já em óbito por conta dessa ausência de atendimento e acompanhamento médico", contou o delegado.
Prisão por homicídio doloso
Conforme o Fantástico, André e Samara vão responder por homicídio doloso por conta do óbito de Arlene. Além disso, responderão por dano ao patrimônio público, lesão corporal, coação e desacato dos funcionários do hospital.
A defesa dos agressores afirma que a culpa da morte da idosa é da Prefeitura do Rio de Janeiro, responsável pela unidade de saúde.
"Primeiramente [vamos] afastar o homicídio, que é uma coisa descabida, desmedida. Uma coisa que a defesa entende que é muito equivocada. Afastar a responsabilidade objetiva do estado no qual nossa Constituição garante o direito à saúde", declarou o advogado dos dois, Claudio Luiz Rodrigues de Souza.