Covid-19: Brasil ultrapassa a marca de 100 mil mortes pela doença

Apenas nas últimas 24 horas, foram registrados 905 óbitos causados pela infecção

O Brasil superou, ontem, 100 mil mortes pelo novo coronavírus, em 145 dias de contagem de óbitos pelo Ministério da Saúde. É o segundo país do mundo a alcançar essa trágica marca, após os EUA.

"Sem dúvida nenhuma, 100 mil pessoas chegarem a óbito por causa de uma doença é um número muito marcante, muito forte. Principalmente quando a gente sabe que uma parte importante desses óbitos é o que a gente chama de óbitos evitáveis", avaliou o professor Luciano Pamplona, biólogo, epidemiologista e docente da Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Certamente muitos desses óbitos teriam sido evitados. É um aprendizado muito importante pro Sistema Único de Saúde, uma marca lamentável para a sociedade", acrescentou. O especialista considera que esta é "provavelmente a maior pandemia que a nossa geração vai ver".

No século passado, a gripe espanhola (1918-1919) deixou um saldo estimado em cerca de 35 mil mortos no Brasil, que tinha 30 milhões de habitantes. "Cem mil pessoas deixarem de estar entre nós é um desastre na perspectiva de saúde pública, considerando-se uma doença transmissível", observa o professor da UFC.

Na última semana, o Governo Bolsonaro, que assumiu uma posição negacionista no começo da pandemia da Covid-19, se opondo às medidas de confinamento, anunciou a expectativa de que, em dezembro, mais de 15 milhões de brasileiros sejam vacinados contra a grave doença respiratória, que já matou quase 730 mil pessoas no mundo.

O Brasil pretende gastar quase R$ 2 bilhões na aquisição de 100 milhões de doses da vacina inglesa, desenvolvida pela Universidade de Oxford.

Só que, por enquanto, esse antídoto ainda não teve a eficácia comprovada cientificamente, pois ainda está na fase de testes em seres humanos.

"A gente tem pouquíssima possibilidade de ter uma vacina a curto ou médio prazo", acredita Pamplona.

"A gente ainda não chegou ao fim dessa pandemia. É preciso corrigir esses erros para que não aumente ainda mais esse número e lembrar sempre que não é só um número, mas 100 mil pessoas que deixaram de estar entre nós", destacou o professor.

OMS

Cerca de 26 possíveis vacinas estão sendo testadas em diferentes fases, das quais seis estão "em um bom estágio, em ensaios clínicos", disse o diretor de emergências de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan.

"Não há garantia de que uma dessas seis nos dê a resposta, e provavelmente precisaremos de mais de uma vacina para fazer esse trabalho", disse o epidemiologista, expressando cautela com as previsões otimistas divulgadas por alguns governos.

Nos últimos meses, diversos estados e cidades do País reabriram suas economias e flexibilizaram medidas de isolamento social, após o registro de uma trégua nas estatísticas de casos e óbitos. Mesmo assim, os riscos de ressurgimento de contágios ainda são crescentes, segundo especialistas.

"A situação no Brasil ainda é crítica, ainda não se pode cantar vitória, e o importante é continuar implementando as recomendações", declarou o diretor de Doenças Transmissíveis da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS), Marcos Espinal.

Outubro

Caso o Brasil se mantenha no ritmo atual, esse balanço de mortes pela Covid-19 deverá dobrar em meados de outubro, segundo projeção de Domingos Alves, especialista em estatísticas relacionadas com a pandemia. "Devemos chegar a esse número (200 mil mortes) entre os dias 15 e 16 de outubro, se as tendências não mudarem", afirmou.

O coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP critica as autoridades pelo "sacrifício da população". E atribui a catástrofe à falta de medidas duras para reduzir o número de contágios e à suspensão precipitada do confinamento.

"O Brasil rejeitou sistematicamente, tanto por parte do Governo Federal e agora mais recentemente por parte dos governos estaduais, a adoção das medidas que foram sugeridas pela OMS e que funcionaram em vários países europeus", criticou Alves.

Já o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu, na última quinta, que o País enfrenta uma segunda fase da pandemia, que agora atinge com mais força os estados do Centro-Sul. "São duas etapas bem distintas. O Norte e o Nordeste do País foram impactados no começo do ano, de março até junho, e agora o impacto do Centro-Sul: Sudeste, Sul e Centro-Oeste, em alguns casos, em que nós vamos ter o recrudescimento, o aumento dos casos, e com isso necessidade de tratamento maior nesses estados, por causa do inverno. Tem a ver com o inverno no Sul, que aumenta os casos", disse Pazuello.