O novo coronavírus apresenta maior risco para pessoas mais velhas, mas nem por isso causa menos medo e dúvida entre os mais jovens. Com a confirmação de três casos da doença em São Paulo, a ansiedade em relação ao assunto cresceu.
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Para o professor de psiquiatria da infância e adolescência da Faculdade de Medicina da USP, Guilherme Polanczyk, a primeira coisa a se fazer diante de situações como a epidemia do novo coronavírus é facilitar o acesso de crianças e jovens a informações precisas e confiáveis sobre a doença.
Ele explica que é possível que diante de tanta informação, crianças passem a fantasiar sobre o assunto, o que pode levar ao medo e também a segregação entre elas. Ele cita como exemplo outras escolas de São Paulo que, contrariando as entidades de saúde nacional e internacional, pediram que alunos que voltaram de viagens à Itália não fossem para a escola por duas semanas.
"Eu atendi crianças que viajaram para a Itália e foram orientadas a não ir para a escola, mas essas crianças não tinham nenhum sintoma, nada. Nas escolas é preciso ter um manejo sensível, porque as crianças mais sensíveis ou que estão em momento de desenvolvimento podem ficar mais assustadas. É importante abordar essas fantasias, perguntar o que elas imaginam que vai acontecer e tentar as tranquilizar com dados da realidade", diz.
COMO FALAR SOBRE CORONAVÍRUS COM CRIANÇAS
Antes de tudo, informe-se e controle seus próprios medos
As crianças precisam ter acesso a informações confiáveis. Para isso, os adultos precisam estar preparados para responder às dúvidas, desmentir boatos e não aumentar a ansiedade delas
Pergunte o que a criança sabe a respeito
É possível que as crianças escutem fragmentos de informações. Ela pode ter ouvido que as pessoas no mundo todo estão morrendo ou o fato de que a doença parece com uma gripe, e isso vai definir os rumos da conversa para acalmá-la
Diga a verdade e sem alarmismo
Fale com elas sobre o coronavírus de forma clara e simples. Explique que o coronavírus parece com uma gripe nova que as pessoas estão pesquisando ainda e que as pessoas mais afetadas têm sido as mais velhas
"E se o vovô ou a vovó ficarem doentes?"
É bom lembrar que o Brasil só tem dois casos até agora, e os pacientes estão em boas condições, em casa. A maioria das pessoas (80%) se recupera da doença sem nenhum tratamento especial. E se acontecer com eles, um(a) médico(a) vai ajudá-los a se curarem também, então não é preciso ficar com medo
Dê atenção aos medos da criança
Demonstre que está escutando e que está tudo bem em ter medo. Acolha a criança para que ela se acalmar, explique que ela que está segura e diga para ela sempre procurar a família em caso de dúvida. Não valorize informações dos amiguinhos ou que recebeu pelo WhatsApp
Conte histórias de superação
Lembre que mesmo os brasileiros que estavam na China voltaram para cá e não ficaram doentes, e um radialista americano disse que mesmo com a doença não se sentiu tão mal: não tinha dores, não ficou com nariz entupido e às vezes tossia
Valorize a higiene como prevenção
Enfatize que a melhor forma de prevenir a doença é lavar bem as mãos e evitar esfregar os olhos ou colocar a mão no rosto, nariz e boca. O CDC (órgão de saúde americano) diz que a lavagem das mãos deve ter a duração da música "Parabéns a você" cantada duas vezes. E diga que não é preciso usar máscaras
Desencoraje qualquer tipo de preconceito
Lembre as crianças que elas não podem discriminar ninguém por causa da doença –especialmente os asiáticos, por exemplo, que sofreram mais preconceito