Javier Milei desvaloriza o peso e anuncia outras medidas do pacote de ajuste fiscal na Argentina

Em vídeo, o ministro da Economia, Luis Caputo, listou dez medidas, entre elas a redução de subsídios e o cancelamento de repasses às províncias

Escrito por Diário do Nordeste/Estadão Conteúdo ,
Javier Milei
Legenda: Milei desvaloriza peso, reduz subsídio sobre tarifas e amplia programa social
Foto: Luis ROBAYO / AFP

O governo de Javier Milei anunciou, nesta terça-feira (12), plano para conter a inflação e tirar a Argentina da crise. Em vídeo gravado, o ministro da Economia, Luis Caputo, listou dez medidas, entre elas a redução de subsídios, o cancelamento de repasses às províncias, a suspensão de obras públicas e a desvalorização do peso em 100%. No fim da mensagem, ele garantiu a duplicação de dois programas sociais: o benefício universal por filho e a assistência alimentar.

Antes de anunciar as medidas, Caputo fez uma contextualização da crise: "A origem do nosso problema sempre foi o déficit fiscal. Dos últimos 123 anos, a Argentina teve déficit em 113. Ou seja, viveu em déficit e teve de encontrar formas de se financiar, o que foi feito com dívida ou emissões." Para o ministro, não adianta reestruturar a dívida argentina. "Já reestruturamos nove vezes. Se isso fosse a solução, seríamos a Suíça."

Após a breve introdução, Caputo anunciou a lista de medidas, a começar pela não renovação dos contratos de trabalho com vigência inferior a um ano, segundo o ministro, "uma prática comum na política de incorporar parentes e amigos antes de uma mudança de governo para manter privilégios".

Aumento das tarifas

Uma das medidas mais explosivas é a redução dos subsídios para contas de energia e transporte. Embora não tenha anunciado o tamanho do corte, a decisão significará um aumento nas contas de eletricidade e gás, além de um aumento nas tarifas de trem e ônibus, o que terá um grande impacto na capital e na Grande Buenos Aires.

Alguns pontos já haviam sido anunciados, como a suspensão por um ano da publicidade oficial na imprensa e a redução drástica dos ministérios, 18 para 9, e das secretarias, de 106 para 54 - que, segundo Caputo, reduzirá em mais de 50% os cargos no serviço público e em 34% do número de cargos políticos.

O dólar oficial, que no governo de Alberto Fernández era vendido a 400 pesos, está duas vezes mais caro, mas ainda abaixo do que é cobrado no mercado paralelo. O "blue", como é chamado, estava cotado, nessa terça, a 1.050 pesos.

Caputo também reduziu drasticamente as remessas de recursos para governos provinciais, que usam o dinheiro enviado pelo Estado para financiar despesas em saúde, educação e segurança. Muitos governadores já expressaram preocupação e alertaram para o risco de uma crise fiscal de consequências graves.

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Controle da corrupção

O governo também não fará mais licitações para obras públicas e cancelará as licitações cujas obras não tiverem começado. O ministro associou essa medida ao controle da corrupção. "Não há dinheiro para pagar por mais obras públicas que, como todos sabemos, muitas vezes acabam nos bolsos de políticos e empresários."

Antes de encerrar a mensagem, Caputo demonstrou preocupação com possíveis distúrbios sociais e prometeu não apenas manter, como ampliar alguns programas, incluindo o benefício universal por filho, criado por Cristina Kirchner, e o "Cartão Alimentar", de assistência aos mais pobres. "Em razão de toda esta situação de emergência que vamos viver, o presidente nos pediu para nos concentrarmos nas pessoas que podem sofrer mais", afirmou.

Promessas

Em seu primeiro discurso para presidente, Milei destacou que pretende conduzir uma política de "choque" e não havia "tempo para gradualismos".

"Para fazer algo gradual é preciso ter financiamento, mas, lamentavelmente, devo dizer, de novo, que não temos dinheiro", afirmou o presidente, que no domingo (10), na sua posse, havia prometido um tarifaço "sem anestesia".

Desde que foi eleito, Milei vem alertando que a situação econômica da Argentina deve piorar muito nos próximos meses, com a inflação escalando a níveis muito acima dos atuais, antes de apresentar qualquer melhora. O país deve fechar o ano com inflação de até 180%, segundo economistas do governo, e a taxa deve continuar subindo com força nos primeiros meses de 2024.

Em um movimento para se blindar de possíveis críticas, caso a situação econômica não melhore no médio prazo, o presidente atribuiu ao governo peronista a culpa por uma "inflação plantada de 15.000%".

O libertário, no entanto, teve de abandonar suas promessas mais ousadas, pelo menos por enquanto: dolarizar uma economia que não tem oferta de dólares e exterminar com o Banco Central em um país que não pode abrir mão de uma política monetária.

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