Eleições na Argentina: Massa e Milei disputarão 2º turno em novembro
O primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina aconteceu neste domingo, 22.
O ministro da Economia argentino, Sergio Massa (centro-esquerda), obteve 36,47% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais, e irá disputar o segundo turno com o líder ultraliberal e antissistema Javier Milei (30,10%), segundo a apuração de 94,92% das mesas eleitorais.
Massa, advogado de 51 anos candidato da coalizão União pela Pátria, recebeu mais votos do que nas primárias de agosto, quando ficou com 27%, contra Milei, que obteve 30%.
Nos arredores da sede da campanha da União pela Pátria, ouvia-se trombetas e tambores. Cerca de dois mil simpatizantes reunidos do lado de fora gritavam "Massa presidente!".
"Massa fez uma campanha muito boa, especialmente no final. Ele se conectou com as pessoas e o peronista percebeu que do outro lado está o inimigo do povo", disse à AFP o pedreiro Jonatan Pagano, de 36 anos.
Dora Castro, uma médica de 69 anos, afirmou que "votar em democracia é sempre maravilhoso, e queremos continuar vivendo assim".
Massa, a principal figura do governo de centro-esquerda argentino, optou por permanecer no cargo de ministro com a ideia de que "a campanha é a gestão".
Estas eleições foram marcadas pelo crescimento de Milei, que era o favorito nas pesquisas após sacudir o cenário político deste país imerso em uma crise econômica aparentemente interminável, com uma inflação de quase 140%.
"Estamos preparados para fazer o melhor governo da História", declarou Milei ao votar neste domingo, dia em que completou 53 anos.
A chegada do candidato da coalizão Liberdade Avança em seu local de votação agitou a multidão, que o aclamou e lançou flores.
Consolidar a democracia
Em um ambiente mais tranquilo, Massa votou acompanhado da esposa, Malena Galmarini, na cidade de Tigre, norte de Buenos Aires.
"Hoje é um dia que nos obriga a trabalhar pensando na consolidação de 40 anos de democracia", afirmou, às portas do centro eleitoral.
Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança e candidata da aliança de centro-direita Juntos pela Mudança, ficou em terceiro lugar (23%).
Massa e Milei disputarão o segundo turno em 19 de novembro. Para vencer no primeiro turno, alguém teria que obter 45% dos votos ou 40% com uma diferença de 10 pontos em relação ao segundo colocado.
Com presença na política desde 2021, quando foi eleito deputado, Milei atraiu em especial o voto de homens jovens de classes média e baixa, segundo pesquisas de opinião, ainda que sua figura tenha influência em todos os setores da sociedade.
Esteban Montenegro, um vendedor de 24 anos, é um dos eleitores de Milei. "Não é que eu tenha total confiança nele, nem que eu pense que ele será bom em tudo, mas é o único que apresenta propostas", disse à AFP.
Juan Negri, cientista político da Universidade Torcuato di Tella, destacou que a sociedade argentina vive “um momento de muita frustração” e atravessa “um período de antipolítica”.
Contra o status quo
Milei pretende dolarizar a economia, acabar com o Banco Central, reduzir drasticamente os gastos públicos, eliminar o Ministério da Mulher e revogar a lei de aborto, entre outras propostas.
Vivendo na terceira maior economia da América Latina, historicamente os argentinos têm orgulho de sua ampla classe média. Porém, a tendência mudou na última década, e a taxa de pobreza chega a 40% da população.
Com a economia estagnada, em 2018 o país assinou um compromisso com o Fundo Monetário Internacional para um programa de crédito de 44 bilhões de dólares (R$ 160,8 bilhões, na cotação da época), que exige uma redução significativa do déficit fiscal.
Além da presidência, os argentinos definiram neste domingo metade das cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. A participação foi de 74% dos 35,8 milhões de eleitores.
O novo presidente assumirá o cargo em 10 de dezembro, para um mandato de quatro anos.