"Vejo que você está continuamente procurando imitar esse estilo de Deus", escreveu o Papa Francisco em uma carta ao padre jesuíta James Martin, que atua com católicos LGBTQIA+. O manuscrito, escrito em espanhol, foi compartilhado nas redes sociais pelo sacerdote no domingo (27).
"Você é um pregador de homens e mulheres, assim como Deus é um Pai para todos os homens e mulheres. Rezo para que continue assim, sendo próximo, tendo compaixão e com grande ternura", disse o Sumo Pontífice no documento datado de 21 de junho.
As palavras veem após o Vaticano dizer que a Igreja Católica não abençoa uniões homoafetivas. A declaração foi feita em março pela Congregação para a Doutrina da Fé, órgão responsável por formular normas para os fiéis da maior vertente cristã do mundo.
Na época, a decisão foi criticada por católicos LGBTQIA+. A decisão foi de encontro a afirmação de Francisco que, em 2013, ao ser escolhido como novo Papa se declarou inapto a rejeitar os homossexuais que buscassem o conforto divino. "Quem sou eu para julgar?", disse. No entanto, neste ano, a comunidade desaprovou a negativa do Vaticano e da posição de "quem sou eu para abençoar?" assumida pelo Padre Santo.
Segundo o jornal O Globo, duas pessoas que apoiam os direitos de homossexuais e são próximas do Papa afirmam que o Santo Padre disse que cedeu à pressão da congregação, uma decisão que Francisco lamentou e esperava retificar.
No entanto, ainda conforme a publicação, o cardeal Gerhard Ludwig Müller, demitido por Francisco em 2017 da posição como o principal defensor da doutrina, disse que a ideia era absurda.
“O Papa é o Papa”, afirmou, acrescentando que o Santo Pontífice estava no comando em tais assuntos.
Além do cardeal Müller, outros prelados dizem que Francisco, a nível pessoal, simplesmente não gosta de ferir os sentimentos das pessoas.
Padre James Martin, que é autor e um livro sobre como alcançar católicos LGBTQIA+, tornou a carta pública após apresentá-la em uma conferência digital para pastores leigos que administram católicos homoafetivos.
No documento, Francisco disse que o sacerdote jesuíta faz eco a Jesus ao afirmar que seu ensino estava “aberto a todos”. No fim, ele encerra com a promessa de orar pelo "rebanho" do padre Martin.
"Todos aqueles que o Senhor colocou ao seu lado para que você possa cuidar deles, protegê-los e fazê-los crescer no amor de nosso Senhor Jesus Cristo", escreveu o Papa.
União civil
Em outubro de 2020, o Papa Francisco manifestou em defesa pela união de pessoas homossexuais em um filme que entrou em cartaz na Itália, segundo publicação do G1. Na produção, Francisco afirma que os homossexuais precisam ser protegidos por leis de união civil.
"As pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser infeliz por isso", disse o Papa no documentário "Francesco".
Ainda segundo o G1, a fala surgiu enquanto ele discorre sobre temas com os quais se importa, como o ambiente, pobreza, migração, desigualdade racial e de renda e pessoas mais afetadas por discriminação.
"O que precisamos criar é uma lei de união civil. Dessa forma eles são legalmente contemplados. Eu defendi isso", complementou o Papa.
Foi a primeira vez que Francisco, como Papa, fez uma declaração mais clara a favor da união de homossexuais.