Julian Assange, fundador do WikiLeaks, faz acordo com autoridades dos EUA e deixa prisão

Ele vai se declarar culpado de uma única acusação de conspiração para obter e disseminar informações de defesa nacional

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, concordou em se declarar culpado em um tribunal dos Estados Unidos por revelar segredos militares, em troca da sua liberdade, encerrando uma longa novela legal, segundo documentos judiciais divulgados na noite dessa segunda-feira (24).

Assange, que estava preso no Reino Unido, vai se declarar culpado de uma única acusação de conspiração para obter e disseminar informações de defesa nacional, indica o documento apresentado no tribunal das Ilhas Marianas do Norte, um território americano no Pacífico.

O WikiLeaks informou, na manhã desta terça-feira (25) (horário do Reino Unido), na rede social X, que "Julian Assange está livre" e deixou o país. A organização, que divulgou um vídeo de 13 segundos que mostra o australiano embarcando em um avião, informou que ele iniciou o voo no aeroporto de Stansted e ficou feliz por ter encontrado a esposa, Stella Assange, e os filhos.

O avião pousou em Bangcoc às 12h30 (2h30 de Brasília) para uma escala técnica, segundo correspondentes da AFP. O avião seguirá para Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, às 21h (11h em Brasília), segundo uma fonte tailandesa.

Está previsto que ele compareça, na manhã de quarta-feira (26) (horário local), a um tribunal das Ilhas Marianas do Norte.

Espera-se que Assange seja sentenciado a 62 meses de prisão, com crédito pelos cinco anos que passou preso no Reino Unido. Isso significa que ele poderia retornar à terra natal, a Austrália.

O editor de 52 anos era procurado por Washington por publicar centenas de milhares de documentos secretos dos Estados Unidos desde 2010, como chefe do site de vazamentos WikiLeaks. 

Liberdade de expressão

Durante seu calvário judicial, Assange tornou-se um herói dos defensores da liberdade de expressão em todo o mundo, e um vilão para aqueles que acreditam que seus vazamentos prejudicaram a segurança nacional dos Estados Unidos e suas fontes de inteligência. As autoridades americanas queriam levar Assange a julgamento por divulgar segredos militares dos Estados Unidos sobre as guerras no Iraque e Afeganistão.

Esse acordo de confissão de culpa presumivelmente encerrará a novela jurídica de quase 14 anos envolvendo Assange. O ativista foi indiciado por um grande júri federal dos Estados Unidos em 2019 com 18 acusações decorrentes da publicação pelo WikiLeaks de uma coleção de documentos de segurança nacional.

O anúncio do acordo chega duas semanas antes da audiência de Assange, que estava marcada em um tribunal no Reino Unido para analisar seu recurso contra a extradição aos Estados Unidos.

Prisão

O editor-ativista estava detido no presídio de segurança máxima de Belmarsh, em Londres, desde abril de 2019. Ele foi preso pela polícia britânica após passar sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, onde buscava evitar sua extradição à Suécia em uma investigação por supostos crimes sexuais, que acabou sendo arquivada.

O material vazado pelo WikiLeaks incluía um vídeo que mostrava civis sendo assassinados por disparos vindos de um helicóptero militar americano no Iraque em 2007. Entre as vítimas havia dois jornalistas da agência Reuters.

Os Estados Unidos acusaram Assange com base na Lei de Espionagem de 1917. À época, seus apoiadores alertaram que isso poderia render ao fundador do WikiLeaks uma pena de 175 anos na prisão. O governo britânico, por sua vez, aprovou sua extradição em junho de 2022.

Na última reviravolta desta saga, dois juízes britânicos assinalaram em maio que ele poderia recorrer da decisão de sua extradição aos Estados Unidos.

O recurso pretendia abordar a questão de se, como um estrangeiro julgado nos Estados Unidos, ele se beneficiaria das proteções à liberdade de expressão concedidas com base na Primeira Emenda da Constituição americana.

O acordo judicial não era algo totalmente inesperado. O presidente americano, Joe Biden, vinha sendo pressionado a abandonar o caso de longa data contra Assange. Em fevereiro, o governo da Austrália fez um pedido oficial nesse sentido e Biden assinalou que iria considerá-lo, aumentando as esperanças dos apoiadores de Assange de que seu longo calvário estaria chegando ao fim.