Eleições na Itália são decididas, e Giorgia Meloni, da extrema-direita, vence

É a primeira vez, desde 1945, que a Itália será governada por uma liderança pós-fascista

A líder pós-fascista Giorgia Meloni, cujo partido Irmãos da Itália (Fratelli d'Italia) conquistou uma grande vitória nas eleições legislativas desse domingo (25), reivindicou o papel como futura chefe de Governo e prometeu trabalhar para todos os italianos.

A extrema-direita conquistou a terceira maior economia da União Europeia (UE), que pela primeira vez desde 1945 será governada por um líder pós-fascista.

Em seu primeiro discurso após o triunfo histórico, a líder celebrou o resultado sem precedentes obtido e tentou tranquilizar os eleitores que não votaram em seu partido. "Não somos um ponto de chegada, e sim de partida [...]. A Itália nos escolheu e não vamos traí-la [...]. Governaremos para todos", disse. 

A formação de Meloni, que procede da tradição neofascista, se consolidou como a maior força do país, passando de modestos 4,3% obtidos há quatro anos para 22%-26%, um resultado sem precedentes, conforme os resultados de boca de urna.

"Os italianos enviaram uma mensagem clara de apoio a um governo de direita liderado pelo Irmãos da Itália", disse.

O partido pós-fascista supera com folga os aliados da extrema-direita da Liga de Matteo Salvini (8,5%-12,5%) e do Força Itália (6%-8%) do magnata conservador Silvio Berlusconi.

Primeira vez desde a Segunda Guerra

Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, um partido neofascista vai governar a Itália, graças ao fato de ter se apresentado com uma coalizão de direita que obteria no total entre 36,5% e 46,5% dos votos. 

"Temos uma vantagem clara, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado", comemorou Salvini no Twitter.

O Partido Democrático (PD), principal formação de esquerda, não conseguiu mobilizar o eleitorado para frear o avanço da extrema-direita, e precisou se conformar com uma cifra que oscila entre 17% e 21%.

O antissistema do Movimento 5 Estrelas (M5E) obteve entre 13,5% e 17,5% dos votos, abaixo da marca histórica de mais de 30% alcançada em 2018, porém acima do que apontavam as pesquisas de opinião. 

Giorgia Meloni

A ascensão vertiginosa de Giorgia Meloni se deve em grande parte ao fato de ela ter sido a única que se opôs ao governo do economista Mario Draghi por 18 meses, o que a favoreceu em recolher o descontentamento dos italianos diante da inflação, guerra e restrições durante a pandemia.

Fundada no fim de 2012 com ex-apoiadores de Berlusconi e figuras da direita neofascista, a formação superou o Partido Democrático (PD), de Enrico Letta, que estabeleceu apenas com uma aliança com um pequeno setor da esquerda ambientalista.

A líder pós-fascista, 45 anos, admiradora durante sua juventude de Benito Mussolini e conhecida por sua linguagem direta e eficaz desde seus anos como líder estudantil em Roma, também pode se tornar a primeira mulher a assumir o posto de chefe de Governo na Itália.

Com seus aliados, ela promete cortes de impostos e o bloqueio dos imigrantes que cruzam o Mediterrâneo, além de uma política familiar ambiciosa para aumentar a taxa de natalidade em um dos países com mais idosos no mundo.

'Deus, pátria e família'

A vitória de uma líder antieuropa e nacionalista levanta muitas questões no continente e muda a face da Itália, uma vez que colocaria em questão sua posição sobre a União Europeia, pois Giorgia defende a revisão de seus tratados e até a sua substituição por uma "confederação de Estados soberanos". 

A representante do pós-fascismo, que não tem medo de defender uma direita pura e dura, identifica-se com o lema "Deus, pátria e família" e promete lutar contra os grupos de "pressão gay" e as "teorias de gênero".

"Giorgia Meloni mostrou o caminho para uma Europa orgulhosa, livre e de nações soberanas, capaz de cooperar para a segurança e prosperidade de todos", reagiu no Twitter o espanhol Santiago Abascal, do ultraconservador Vox. 

A vencedora das eleições se converte em figura-chave para um eixo radical de direitas na Europa, que passa por Suécia, Polônia e Hungria. 

"Precisamos mais do que nunca de amigos que compartilhem uma visão e uma abordagem comuns da Europa", reagiu um porta-voz do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban.

O governo que sair das eleições tomará posse no fim de outubro e terá um caminho cheio de obstáculos e sem muita margem de manobra. Terá que administrar a crise causada pela inflação galopante, enquanto a Itália já está em colapso sob uma dívida que representa 150% do PIB, a mais elevada da zona do euro, atrás da Grécia.