Diante de um mundo cada vez mais digital, o jornalismo também acompanha essa realidade em transformação e se mostra ainda mais relevante para a sociedade, é o que avalia o jornalista Chico Amaral, sócio-diretor da TricMedia, consultoria jornalística especializada em transformação de mídia digital. Para ele, a demanda cada vez maior por informação imediata e digital traz também a oportunidade para empresas jornalísticas e profissionais de imprensa de chegar a um número maior de leitores. "Com a digitalização, amplia-se o perímetro de circulação do jornal", aponta.
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Amaral já atuou como consultor em projetos desenvolvidos em veículos de comunicação da Europa e América do Sul, incluindo no Brasil. Ele trabalha em parceria com o Sistema Verdes Mares no planejamento e na execução da digitalização de todos os produtos do Diário do Nordeste, lançado na quinta-feira (18).
"Nunca se leu tanta notícia quanto atualmente. Isso graças a uma mudança radical na sociedade, que é a digitalização. Nossa vida está digitalizada, seja no banco, no cinema, nas compras ou na relação com as pessoas. Então a tecnologia impulsiona uma mudança social muito grande, muito profunda, e os jornais não ficam fora disso", acrescenta. "A maneira como as pessoas se informa mudou, os jornais acompanham onde as pessoas estão e isso afeta a forma de produzir notícia, conteúdo e a forma de distribuição. Você não espera mais o dia seguinte para entregar as notícias de ontem. Entrega-se no momento que elas acontecem", afirma.
Essa tendência começou inicialmente nas redes de televisão, quando surgiram os primeiros canais de notícias ininterruptos, aponta o consultor. "Foi a primeira mudança em termos de fluxo, de notícias instantâneas, de deixar de existir distância entre o que acontece e as pessoas serem informadas do que aconteceu", diz.
Segundo ele, a partir daí, as outras mídias foram se modernizando para cumprir a função de compreender o que está ocorrendo e informar. "Mantendo sempre a característica de oferecer uma informação com valor agregado. Nos jornais há uma cultura de um aprofundamento da informação. Os jornais entram nesse cenário procurando manter esse tipo de serviço ao leitor, porque é uma das marcas principais", aponta.
Conteúdo
Conforme o Relatório de Notícias Digitais 2020 do Instituto Reuters, de 2013 a 2020, o consumo de notícias por meios impressos no Brasil caiu de 50% para 23%, enquanto o consumo por meio de redes sociais cresceu de 47% para 67%. O uso de smartphones para consumo de notícias no País também teve expressivo crescimento: passou de 23% para 76%.
"O negócio do jornal é o conteúdo servido na qualidade que o leitor espera. Onde vai se concretizar é outra questão, pode ser no celular, no aplicativo, na rede social ou em um arquivo digital, vai depender de como a pessoa quer consumir. A distribuição é uma questão que não está relacionada necessariamente à notícia", destaca.
De acordo com Chico Amaral, o formato digital se mostra mais promissor no momento justamente por conseguir, além de dar agilidade, fornecer aos meios de comunicação informações sobre o comportamento do leitor.
"Os jornais passam a ter recursos para saber o que você lê e gosta, então esse conhecimento ajuda a fazer um jornalismo mais relevante. É o conhecimento desse comportamento que auxilia na produção do conteúdo e na distribuição, de forma que chegue com mais facilidade à audiência, a uma audiência que o jornal impresso não conseguiria chegar nunca", avalia.
Crises
Diante de uma crise global provocada pela Covid-19 e dos impactos econômicos da pandemia, Amaral ressalta que o jornalismo se apresenta como ainda mais relevante para a sociedade, por isso a necessidade de se fazer presente em diversas plataformas com rapidez e credibilidade. "É histórico que em momentos de crise a audiência e venda de jornal aumente, porque as pessoas buscam informações confiáveis, e só os jornais são capazes de oferecer o volume de informação confiável que se espera nesses momentos de crise com rapidez, credibilidade e confiança", afirma.
O consultor, no entanto, pondera sobre a necessidade de que os profissionais de imprensa se mantenham em constante atualização e abertos às mudanças. "Os novos cenários exigem um processo de capacitação permanente. As redações se preparam para as mudanças, mas a tecnologia muda o tempo inteiro e a capacitação precisa ser constante", conclui.