Com ajuda de IA, pesquisadores encontram mais de 300 novos geoglifos em Nazca, deserto no Peru

Foram usados ainda drones para mapear toda a região, além de pesquisa de campo para confirmar a descoberta

Grupo de pesquisadores identificaram 303 geoglifos no deserto peruano de Nazca. A equipe liderada pelo arqueólogo Masato Sakai, da Universidade de Yamagata, no Japão, fez uso de inteligência artificial e de drones para mapear cerca de 630 quilômetros quadrados. 

Conhecidos como Linhas de Nazca, acredita-se que os geoglifos tenham sido produzidos entre 200 a.C. e 700 d.C por uma civilização anterior aos incas. As incisões feitas ao longo das colinas de Nazca foram identificadas, pela primeira vez, na década de 1920.

Até 2020, tinha sido descobertos cerca de 430 geoglifos na região. Em apenas seis meses, a pesquisa liderada por Sakai, e publicada em setembro na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", conseguiu quase dobrar o número. As informações são do O Globo. 

Métodos para descoberta

Um dos pesquisadores envolvidos na descoberta, o físico da IBM Marcus Freitag disse que seria possível ter identificado as imagens antes, por meio de voos, mas seria necessário saber onde procurar. Contudo, o tamanho da planície acabava fazendo com que fosse como "encontrar a agulha no palheiro". "Torna-se praticamente impossível sem a ajuda da automação", completa.

Os novos geoglifos — com média de 9 metros de largura — são menores do que os identificados no século passado. 

Para mapear a região, foi usado um aplicativo capaz de discernir contornos em fotografias aéreas, mesmo que elas fossem quase imperceptíveis, por meio de IA. Com isso, foi possível eliminar quase 98% das imagens, segundo os pesquisadores. "Os especialistas humanos agora só precisam confirmar ou rejeitar os candidatos plausíveis", explicou Freitag. 

Os 2% identificados pela IA ainda somavam mais de 47,4 mil locais em Nazca. A análise de fotos feita pelo time de pesquisadores diminuiu o número para 1.309 candidatos por meio da análise das fotos em alta resolução. 

"Esses foram então classificados em três grupos com base no potencial, permitindo prever a probabilidade de serem geoglifos antes de visitar os locais", explicou Sakai.

Em 2022, foi dada início a exploração dos locais a pé e com drones. Assim, os investigadores chegaram aos novos 303 geoglifos de Nazca. Destes, 204 foram sugeridas pela tecnologia, enquanto 59 foram identificadas no trabalho de campo sem ajuda da IA. 

O que foi desenhado em Nazca? 

Os novos geoglifos seguem temáticas parecidas com os que tinham sido mapeados anteriormente. Animais, por exemplo, estão bem presentes. Foram descobertos desenhos de plantas, cobras, macacos, gatos, papagaios e até uma cena de uma orca armada com uma faca decapitando um ser humano. 

Desenhos de pessoas também estão presentes. Entre os já conhecidos, aparecem desenhos de beija-flores, aranhas e até um gato com cauda de peixe. 

É possível ver também formas geométricas como trapézios, espirais e ziguezagues. Os desenhos eram feitos raspando a superfície pedregosa e avermelhada, expondo o solo amarelo-acinzentado abaixo.

Sem registros escritos dessa civilização de Nazca, a motivação por trás dos desenhos segue um mistério. As teorias vão desde religiosas e ambientais até as mais conspiracionistas, que envolvem a criação de pistas de pouso de estacionamento para aeronaves alienígenas. 

Sakai disse que os geoglifos foram desenhados próximos a trilhas de peregrinação de templos, o que fortalece a ligação com a teoria de que poderia ser espaços sagrados para rituais comunitários e, segundo ele, podem ser considerados uma arquitetura pública planejada. 

O arqueólogo considera que ainda existam mais de 500 figuras não detectadas. "Acredito que mais fatos surpreendentes irão surgir", projeta.