O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conseguiu entregar uma performance melhor durante a sua primeira entrevista televisiva após o criticado desempenho no debate contra o ex-presidente Donald Trump, na semana passada. Apesar disso, o democrata não conseguiu acalmar as preocupações que rondam sua candidatura, nem convencer apoiadores e especialistas de que tem as credenciais para vencer o rival republicano e suportar mais quatro anos na liderança da Casa Branca.
"A entrevista de Biden foi muito melhor do que sua aparição no debate. Não mudarei a opinião de que ele não concorrerá por mais quatro anos", disse o cientista político e presidente da Eurasia, Ian Bremmer, em seu perfil no X (antigo Twitter). "Não consigo vê-lo na cédula em novembro. Se os democratas querem vencer - e acredito que realmente querem - Biden precisa se afastar", reforçou.
De Wall Street, grandes apoiadores do Partido Democrata também avaliaram que a aparição de Biden ontem foi melhor. Mas, de novo, voltaram a pedir que Biden deixe a disputa.
"Não consigo imaginar que uma boa entrevista mudará a opinião de qualquer um dos 80% dos americanos que acham que Biden é 'velho demais para ser um presidente eficaz', então minha opinião não mudou", disse o investidor Whitney Tilson. Ex-gestor de um hedge fund americano, ele tem sido um dos importantes doadores aos democratas.
Já o fundador do Venture for America e empresário americano Andrew Yang afirmou que, embora o desempenho de Biden tenha sido melhor, não elimina as preocupações em torno de sua campanha de reeleição. "O desempenho de Biden na entrevista, embora melhor do que o debate, não vai acabar com preocupações bem fundamentadas", escreveu ele, em seu perfil no X.
Apesar de ser pressionado de diferentes maneiras pelo jornalista George Stephanopoulos, da 'ABC News', Biden rejeitou com veemência a possibilidade de deixar a corrida presidencial nos EUA.
Questionado se os democratas Chuck Schumer, Hakeem Jeffries e Nancy Pelosi dissessem: "Estamos preocupados que se você continuar na disputa, perderemos a Câmara e o Senado, como você responderá?", respondeu: "Todos eles disseram que eu deveria continuar na disputa. Ninguém disse que eu deveria ir embora".
Stephanopoulos tentou por outro caminho e perguntou a Biden e se os democratas fizessem isso. O presidente dos EUA afirmou com certeza que eles não fariam esse tipo de pressão e apelou a Deus "Se o Senhor todo-poderoso descesse e dissesse: 'Joe, saia da disputa', eu deixaria a corrida", afirmou.
O jornalista americano então voltou a pressionar Biden, usando do seu próprio apelo a Deus para apertá-lo sobre se sairia de cena caso sua insistência custasse a Câmara e o Senado aos democratas. "Não vou responder a essa pergunta. Isso não vai acontecer", disse.
Durante a entrevista, Biden disse que o debate foi um "episódio ruim", que estava exausto, mas assumiu a culpa por seu criticado desempenho na primeira batalha contra Trump. Afirmou, porém, que ainda está em "boa forma" e que é a melhor pessoa para vencer o Trump nas urnas, em novembro.
Questionado sobre se faria um teste cognitivo e neurológico para apresentar os resultados aos americanos, Biden não respondeu. Disse que é testado todos os dias, não só na campanha, e negou que estivesse insistindo em sua reeleição por questões pessoais. Mas, novamente, não convenceu.
"Não se trata do que é melhor para o país. Trata-se de mim e do quanto tentei ser eleito", criticou o megainvestidor de Wall Street, Bill Ackman.
Resistência em deixar a candidatura
A imprensa americana repercutiu a resistência de Biden a deixar sua candidatura. A rejeição do democrata ocorre em meio ao aumento de pressão e risco de sanções econômicas por parte de grandes doadores do Partido Democrata, que têm ameaçado cortar o apoio financeiro ao partido caso o presidente dos EUA não desista de sua campanha de reeleição.
No mercado, as apostas de que Biden deve deixar a corrida estão em cerca de 70%. A consultoria Capital Economics vê "claramente uma boa chance de que ele desista em breve" e diz que as probabilidades de apostas sugerem que a vice-presidente Kamala Harris tem uma chance tão boa quanto Biden de vencer. Outro nome, menos provável seria o governador da Califórnia, Gavin Newsom, diz.
"Suspeitamos que, dado o quão tarde a mudança seria se acontecesse, ambos Harris e Newsom evitariam fazer grandes propostas e concorreriam em plataformas muito semelhantes às de Biden (pelo menos na medida em que Biden tem uma plataforma)", diz o economista-chefe para as Américas da Capital Economics, Paul Ashworth.
Para o banco britânico Barclays, a questão política mais importante da perspectiva global, ou seja, quem serão os candidatos e o vencedor das eleições de novembro nos EUA, continua não menos incerta do que na semana passada.