Após clima de tensão, Bernardo Arévalo tomou posse como presidente da Guatemala na madrugada desta segunda-feira (15). O congresso do país ficou envolvido em discussões de última hora que atrasaram a posse do social-democrata. Ele foi alvo de manobras judiciais que buscaram invalidar a surpreendente vitória que obteve nas urnas com a promessa de combater a corrupção.
"Os deputados têm a responsabilidade de respeitar a vontade popular expressa nas urnas. Estão tentando violar a democracia com ilegalidades, trivialidades e abusos de poder", escreveu Arévalo nas redes sociais.
Veja cerimônia de posse:
O atraso na posse gerou descontentamento entre os seguidores de Arévalo, incluindo muitos indígenas, que, em meio a empurrões com a polícia, abriram caminho em direção à sede do Parlamento.
Vitória nas urnas
Sociólogo, ex-diplomata e filósofo de 65 anos, Arévalo passou inesperadamente para o segundo turno presidencial em junho para enfrentar uma candidata conservado a aliada ao governo, a quem derrotou confortavelmente com 60% dos votos por sua mensagem anticorrupção.
Desde então, Arévalo e o Semilla enfrentaram uma ofensiva judicial que ele denunciou como um "golpe de Estado", envolvendo a elite política e econômica que tem governado o país por décadas.
O Ministério Público tentou retirar a imunidade como presidente eleito, desmantelar seu partido progressista e anular as eleições, alegando irregularidades eleitorais.
A investida, baseada em casos "espúrios", segundo Arévalo, foi condenada pela ONU, OEA, União Europeia e Estados Unidos, que sancionaram centenas de promotores, juízes e deputados por "corrupção" e "minar a democracia".
Como mostra de apoio, a cerimônia de posse contou com a presença do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, delegados de Washington, o rei da Espanha, Felipe VI, e, entre outros, os presidentes da Colômbia, Chile, Honduras e Panamá.
"O povo guatemalteco e a comunidade internacional estão observando", acrescentou Arévalo nas redes sociais.
Novo presidente enfrentará desafios
Arévalo substituirá o direitista Alejandro Giammattei, que foi vinculado ao chamado "pacto de corruptos", durante cujo governo dezenas de promotores, juízes e jornalistas tiveram de se exilar após denunciarem atos de corrupção.
Filho do primeiro presidente democraticamente eleito da Guatemala, Arévalo reconheceu que enfrentará enormes desafios, pois as "elites político-criminosas, pelo menos por um tempo, continuarão arraigadas" nos poderes do Estado.
Arévalo pedirá esta semana a renúncia da procuradora-geral Consuelo Porras, líder da ofensiva judicial. Analistas não descartam, porém, que o Ministério Público continue a perseguição e insista em pedir ao Congresso que retire sua imunidade presidencial.
"Estará sob cerco permanente. Seu maior desafio é atender ao desejo do povo: não ser governado pelo pacto de mafiosos. Ele precisa desmantelá-lo; caso contrário, não poderá governar", disse o analista Manfredo Marroquín à AFP.