Maioria dos brasileiros acredita na Ciência e na eficácia das vacinas, aponta pesquisa

Os números são especialmente mais positivos quando são em relação aos imunizantes contra a Covid-19

Pesquisa divulgada na última segunda-feira (12) pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (INCT-CPCT) mostrou que a maioria da população brasileira acredita na eficácia das vacinas.  

O estudo apontou que 86,7% dos entrevistados consideram as vacinas importantes para proteger a saúde pública, 75,7% dizem que elas são seguras e 69,6%, necessárias. Os números são especialmente mais positivos quando são em relação aos imunizantes contra a Covid-19.  

Apesar dos resultados positivos, 46,4% acham que as vacinas produzem efeitos colaterais de risco. Outros 40% desconfiam que as empresas farmacêuticas esconderiam os perigos das vacinas. E para 46,7% dos entrevistados, o Governo Federal forneceu informações falsas sobre a vacina contra a Covid-19.

Ainda conforme a pesquisa, 13% dos entrevistados indicaram que não pretendem tomar doses de reforços da vacina contra Covid-19 e quase 8% dos que têm filhos ou menos sob sua responsabilidade declaram não ter intenção de vaciná-los.

Pesquisadores informaram que a chance de recusar vacinas aos filhos é muito maior entre homens e cresce entre as pessoas que declaram que o “crescimento econômico e a criação de empregos devem ser prioridades máximas, mesmo quando a saúde da população sofra de alguma forma”.  

Confiança nos cientistas  

Entre as fontes de informação que mais inspiram confiança nos brasileiros e brasileiras, conforme a pesquisa, estão os cientistas, identificados pelos entrevistados como honestos e responsáveis por um trabalho que beneficia a população.

As escolhas mais frequentes dos entrevistados como fontes confiáveis de informação foram médicos (60,1%), seguidos pelos cientistas (47,3%), dos quais 30,6% são de universidades ou institutos públicos de pesquisa e 16,7% que trabalham em empresas, e jornalistas (36,4%). “Artistas e políticos são citados com menor frequência, com 1,5% cada”, indicou. 

Quanto aos nomes de cientistas e instituições de ciência no Brasil mais lembrados pelos entrevistados, 8% disseram conhecer o nome de um cientista brasileiro: entre os mais citados estão os médicos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. As médicas Jaqueline Goes, da Universidade de São Paulo (USP), e Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), também se destacaram durante o período da pandemia por suas atividades de comunicação e divulgação da ciência. 

Apesar de acreditarem que os cientistas permitiram que ideologias políticas influenciassem suas pesquisas sobre o novo coronavírus durante a pandemia, os entrevistados parecem não ter dúvidas sobre os benefícios associados ao desenvolvimento científico. Somente 3,5% revelaram que a ciência não traz “nenhum benefício” para a humanidade. 

Como foi a pesquisa  

Segundo a Fiocruz, entre agosto e outubro deste ano, foram entrevistadas 2.069 pessoas com 16 anos ou mais. A margem de erro da pesquisa é 2,2%, em um intervalo de confiança de 95%. As entrevistas foram domiciliares, pessoais e individuais. O estudo apontou ainda que a maioria dos brasileiros acredita que as mudanças climáticas estão acontecendo e têm como causa a ação humana. 

O trabalho foi coordenado pelos pesquisadores Luisa Massarani, da COC/Fiocruz, Vanessa Fagundes, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Carmelo Polino, da Universidade de Oviedo (Espanha), Ildeu Moreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Yurij Castelfranchi, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

“Isso indica um cenário de desafios para gestores, cientistas, educadores e profissionais de comunicação, que precisam desenhar estratégias de comunicação pública da ciência que levem em consideração as especificidades de local, perfil de público e contexto”, chamaram a atenção, os pesquisadores no resumo executivo do estudo Confiança na ciência no Brasil em tempos de pandemia. 

Na visão dos pesquisadores, “a percepção majoritariamente positiva do público sobre a ciência e os cientistas, bem como a falta de evidências da existência de um movimento organizado de negacionistas da ciência no país, são achados importantes para orientar estratégias mais efetivas de combate à desinformação, direcionadas a grupos específicos de pessoas, que reagem de forma diferente aos diversos tipos de comunicação”, apontaram, destacando que “o interesse pelo tema e a expectativa de benefícios para a população a partir da ciência, como qualidade de vida, oportunidades de emprego, equidade social, podem facilitar processos de aprendizado e apropriação social do conhecimento.” 

Instituições 

O percentual dos entrevistados que se lembraram de alguma instituição dedicada à pesquisa científica no Brasil, superou os 25%. Dentre as instituições mais citadas estão o Instituto Butantan, a Fiocruz e a USP. 

Mudança climática 

A maioria da população brasileira (91%) acredita que estão ocorrendo as mudanças climáticas, enquanto para menos de 6% elas não existem. Nesta última parcela, há diferenças significativas. “Modelos de regressão mostram que a chance de um entrevistado declarar que não há mudança climática aumenta muito entre pessoas que também dizem não confiar na ciência ou cuja confiança na ciência diminuiu durante a pandemia”. 

Os brasileiros e brasileiras também acreditam que as mudanças climáticas estão prejudicando a qualidade de vida no Brasil (78,3%),  elas podem prejudicar a si e a suas famílias (81%) e, também, as próximas gerações (82,8%). 

Para 85,8% dos que acreditam na existência das mudanças climáticas, a causa é a ação humana, enquanto 12,4% acreditam que elas são provocadas por mudanças naturais do meio ambiente. O estudo apontou também que “é mais forte a sensação de consenso na comunidade científica sobre a causa das mudanças climáticas do que de divergências: 68% dos entrevistados afirmam que a maior parte dos cientistas concorda sobre a relação causal com a ação humana”.

Mas quando se trata da opinião sobre os esforços nacionais para preservação do meio ambiente, a avaliação se divide: 30,6% concordam que o Brasil é um dos países que melhor preserva o meio ambiente e 42,8% discordam da afirmação.