Com os dias de chuva e a aproximação da quadra chuvosa no Ceará, muitas dúvidas surgem quanto às doenças e aos cuidados necessários nesta época do ano.
Será que tomar banho de chuva faz mal?
Segundo a mestre em Microbiologia Médica e doutora em Saúde Coletiva pela UFC, Caroline Florêncio*, tomar banho de chuva não faz mal e não causa gripe. A especialista explica que o vírus da influenza é o único agente causador da doença.
Os principais sintomas da gripe são:
- Febre;
- Dor de garganta;
- Tosse;
- Dor no corpo;
- Dor de cabeça.
Adulto: O quadro clínico em adultos sadios pode variar de intensidade.
Criança: A temperatura pode atingir níveis mais altos, sendo comum o achado de aumento dos linfonodos cervicais. Também podem fazer parte os quadros de bronquite ou bronquiolite, além de sintomas gastrointestinais.
Idoso: Quase sempre se apresentam febris, às vezes, sem outros sintomas, mas, em geral, a temperatura não atinge níveis tão altos.
Mitos e verdades
“Gripe mal curada pode virar uma pneumonia” é um mito. Caroline Florêncio diz que quando uma gripe se complica para uma pneumonia ela sequer foi tratada.
Confira algumas das complicações causadas pela gripe, especialmente em indivíduos com doença crônica, idosos e crianças menores de 2 anos:
- pneumonia bacteriana e por outros vírus;
- sinusite;
- otite;
- desidratação;
- piora das doenças crônicas;
- pneumonia primária por influenza, que ocorre predominantemente em pessoas com doenças cardiovasculares (especialmente doença reumática com estenose mitral) ou em mulheres grávidas.
Banho de chuva
Outros mitos relacionados à gripe estão a de que ir para o sol (ao ar livre), brincar na areia, comer frutas quentes e brincar na chuva favorecem a gripe. É mentira que essas ações podem infectar crianças e adultos com o vírus da influenza.
A mestre em Microbiologia Médica explica que, no caso das crianças, é natural que alguma tenha vírus respiratórios e não apresente sintomas, o que faz com que o vírus seja transmitido para alguma criança que não tenha imunidade adequada. Por isso é comum nessa época existir muitas crianças infectadas.
Caroline Florêncio destaca que os riscos relacionados ao período de chuvas podem ser minimizados com os devidos cuidados e higiene. A profissional ainda alerta que tomar banho de chuva não baixa a imunidade.
O que acontece se pegar chuva?
Quando uma pessoa pega chuva ela pode ter contato com água contaminada por micro-organismos presentes em lixos e dejetos espalhados pela cidade, o que pode causar algumas doenças como leptospirose, hepatite A, febre tifoide e diarreia.
Leptospirose - é uma doença infecciosa grave, causada pela bactéria Leptospira, eliminada principalmente pela urina dos ratos. A transmissão da doença é feita pelo contato com água ou lama contaminada. Os sintomas são febre, dor de cabeça, na panturrilha, fraqueza, sangramentos na pele e mucosa e insuficiência renal.
Diarreia – é causada por vírus ou bactérias. A transmissão se dá pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Fezes moles, aumento do número de evacuações, dor de barriga, vômito, náuseas e febre podem indicar a doença.
Febre tifoide – é provocada por bactéria e está relacionada a condições ruins de saneamento básico e higiene pessoal. É transmitida por meio de água e alimentos contaminados com fezes e urina de pessoas com a doença. Febre alta, dor de cabeça, mal-estar, falta de apetite, intestino preso ou diarreia estão entre os principais sintomas.
Hepatite A – é uma doença que atinge o fígado, transmitida por água ou alimentos contaminados. São sintomas: perda de apetite, febre, dores de cabeça, dor abdominal, mucosas e pele com cor amarelada e fezes brancas.
O que fazer após tomar chuva
Após tomar chuva é importante se enxugar e, assim que possível, tomar outro banho higienizando as áreas do corpo com sabonete e xampu, explica a especialista em epidemiologia.
Diferenças entre alergia, resfriado e gripe
Caroline Florêncio alerta também para as diferenças entre quadro alérgico, resfriado e gripe. Segundo ela, esta época do ano também é marcada por excesso de mofo, o que acaba atingindo pessoas com alergias.
Ela explica que a principal diferença entre o resfriado e a crise alérgica está relacionado à progressão dos sintomas, enquanto o primeiro tem um quadro gradual, ou seja, que vai piorando ao longo do tempo, a crise alérgica tem sintomas abruptos, que surgem de repente.
Cuidados
Além da vacinação, o Ministério da Saúde orienta a adoção de medidas gerais de prevenção para toda a população. Elas são comprovadamente eficazes na redução do risco de adquirir ou transmitir doenças respiratórias, especialmente as de grande infectividade, como vírus da gripe.
- Lave as mãos com água e sabão ou use álcool em gel, principalmente antes de consumir algum alimento;
- Utilize lenço descartável para higiene nasal;
- Cubra o nariz e boca ao espirrar ou tossir;
- Evite tocar mucosas de olhos, nariz e boca;
- Não compartilhe objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
- Mantenha os ambientes bem ventilados;
- Evite contato próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas de gripe;
- Evite sair de casa em período de transmissão da doença;
- Evite aglomerações e ambientes fechados;
- Procure manter os ambientes ventilados;
- Adote hábitos saudáveis, como alimentação balanceada e ingestão de líquidos.
*Caroline Gurgel Florêncio é enfermeira graduada pela UFC, mestre em Microbiologia Médica e doutora em Saúde Coletiva pela UFC. Atua como docente da Faculdade de Medicina da UFC, com as disciplinas de Epidemiologia descritiva e Desenvolvimento Pessoal 2 (Método científico); do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública com a disciplina de Métodos quantitativos; do Programa Rede Saúde da Família (Renasf) em conjunto com a Fiocruz com a disciplina de métodos. Orienta mestrado (4) e doutorado (1). Coordena a Liga de Saúde da Família. Área de atuação: Epidemiologia dos agravos à saúde.