Com mais 6,5 milhões de casos entre mulheres no Brasil, segundo levantamento da UERJ do ano passado, a endometriose é doença conhecida, mas que preocupa pelo caráter silencioso e de risco. Caracterizada por pela inflamação com presença de células menstruais no interior da cavidade pélvica, ela traz problemas que se iniciam nas dores menstruais e podem evoluir até a infertilidade.
A definição é dada pelo médico especialista em reprodução humana, Evangelista Torquato. Segundo ele, a endometriose chega a ser simples de compreender.
“Surge a partir do sangramento menstrual que se exterioriza mensalmente, mas que também se interioriza. Pelas trompas, essas células menstruais caem na cavidade pélvica”, pontua.
O problema, no entanto, está exatamente neste movimento. Torquato esclarece que o sistema imunológico é o responsável por expelir essas células a cada novo ciclo de menstruação, porém isso nem sempre ocorre. Em algumas mulheres, “por conta desse sistema ou pela genética”, ele explicita, essas células se acumulam e passam por “proliferação”.
“As células se multiplicam e se tornam focos de endometriose. São elas que passam a causar inflamação, trazendo dor e infertilidade”, continua. A partir daí, a doença passa a se manifestar abertamente no corpo feminino, e os sinais podem ser destacados a cada mês.
Quais os sintomas da endometriose?
De acordo com Evangelista Torquato, os sintomas podem ser diversos, mas, geralmente, surgem por meio das cólicas. “O primeiro deles se mostra, principalmente, com o aumento nas cólicas menstruais. Pode ser na paciente que sempre teve bastante incômodo com as cólicas ou com aquelas que sentiam poucas dores, mas perceberam esse aumento”, relata o profissional.
As dores, entretanto, não se resumem ao período de menstruação. Segundo o médico, as mulheres podem sentir cólicas durante diversos dias aleatórios, além de perceberem a presença de dores pélvicas frequentes, até mesmo durante o ato sexual.
Confira lista dos sintomas básicos:
⁃ Cólicas menstruais fortes
⁃ Dor pélvica
⁃ Dor durante ato sexual
No entanto, estes não são os únicos. A infertilidade, por exemplo, é um dos maiores motivos de preocupação das mulheres que procuram ajuda ginecológica para tratar a endometriose.
“Cerca de 40% a 50% das mulheres com endometriose vão ter dificuldade para engravidar naturalmente e podem acabar precisando de um auxílio dos serviços de reprodução assistida”, explica Evangelista Torquato. Ele ainda aponta que esse sintoma pode se apresentar com gravidades diferentes entre mulheres diagnosticadas.
Outro sintoma comum, que pode ser confundido com outras questões, é a afetação de órgãos como intestino. Em muitos casos, a constipação pode se tornar comum ou até mesmo as idas sempre frequentes ao banheiro durante o ciclo menstrual.
Como diagnosticar a endometriose?
Para o especialista, o primeiro passo é simples: garantir a consulta frequente com o ginecologista a fim de analisar as sensações de cada paciente. “O diagnóstico, muitas vezes, pode ser dado por uma boa anamnese”, cita ao lembrar da entrevista feita pelo profissional de saúde no consultório.
Ele conta que caberá a paciente revelar as experiências e, da parte do médico, será necessário prescrever exames para encontrar a causa exata dos sintomas.
De acordo com levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, diferentes tipos de exames pode ser encaminhados ao diagnóstico. O físico, que inclui avaliação para determinar a posição, tamanho e mobilidade do útero, e o de imagem, que consiste em uma ultrassonografia são bastante comuns.
Entretanto, além deles, a videolaparoscopia também pode ser indicada. Ela "deve ser realizada quando for necessário um diagnóstico definitivo para a escolha da terapia ou tratamento cirúrgico", aponta boletim da agência.
Além disso, segundo Evangelista Torquato, não é possível prevenir a endometriose. “Poderia se dizer que uma forma de prevenir é não menstruar, mas não se pode dizer isso, pois é algo natural à mulher”, inicia ele.
Nesse quesito, ele aponta que mesmo os métodos contraceptivos não podem ser indicados como prevenção, já que também influenciam na questão da fertilidade.
Como tratar a endometriose?
Com a detecção da doença, é necessário agir para contê-la. "Se você não trata, essa paciente pode ter uma progressão da doença. Isso porque na medida que ela vai menstruando, mais células vão caindo na cavidade pélvica e vão se instalando", revela o médico.
A atenção é necessária justamente por conta dos riscos para casos mais graves no futuro. Na endometriose profunda, por exemplo, a doença pode atingir órgãos como o intestino e os rins. "Já vi paciente que teve que retirar o rim porque ele não estava mais funcionando. Claro que isso é um extremo, mas isso é o que pode acontecer", diz Torquato.
Para tratar, ele explica que os caminhos podem ser diversos. Pode existir a "recomendação de um tratamento medicamentoso ou cirúrgico". Ainda assim, ele relata que o principal com o diagnóstico é a abertura de uma possibilidade para definir "programação de cuidados".
"Por exemplo, uma consulta anual em que se analise se a doença está progredindo, se está alcançando cada vez mais os outros órgãos é algo fundamental", finaliza.