Após o cessar fogo, a hora do "socorro"

Corpos de reféns mortos foram retirados do local no carro do vice-prefeito da cidade, que é médico

Escrito por Melquíades Júnior , melquiades.junior@diariodonordeste.com.br

Entre as primeiras mortes e o nascer do sol passaram-se três horas, aproximadamente. Num tempo em que o procedimento comum seria "aguardar perícia", a Polícia recolhe armas, munição e os corpos.

O tenente George, secretário Municipal de Segurança, conhecido por ser "linha dura" no combate ao crime na cidade, considerada calma, nada sabia. Nem a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), Rodoviária Federal (PRF), Polícia Civil e Batalhão Militar local. A operação feita para ninguém mais saber chegou ao avesso da discrição, e do "sucesso", pois havia reféns no meio. E não só: pelo menos naquele espaço, mais reféns mortos (5) que bandidos (até quatro). Independentemente de quem matou, havia um saldo negativo naquele instante.

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O secretário municipal chega ao local e tenta tomar algum pé da situação.

Instantes depois, chega Abraão Sampaio, numa Amarok branca, prestes a entrar na história.

- Quem é ele? Pergunta um policial ao tenente.

- É o vice-prefeito e médico.

Profissional do Serviço de Atenção Móvel de Urgência (SAMU), Abraão já estaria mais acostumado a pós-acidentes do que pós-guerra.

Um dos policiais pede ao vice-prefeito Abraão, único civil em cena, além dos dois reféns vivos, para ajudar a socorrer. Dá uma ré no veículo e os corpos de Vinícius (14) Gustavo (13), Cícero Tenório (60), João Batista (49) e Claudineide (42) Campos, todos da mesma família, são os primeiros a serem levados na caçamba da Amarok para o hospital municipal. Chegando lá, está o Dr. Erlon, impressionado com o empilhado de corpos sendo carregados nas macas para a pedra onde ficam os mortos.

Em seguida, duas ambulâncias transportam quatro bandidos, sendo três mortos e um ferido. Seria levado para o hospital de Brejo Santo, referência em medicina. No entanto, diante do bloqueio com um caminhão da FedEx feito pelos próprios bandidos para evitar o 'Batalhão do Brejo', a alternativa era Juazeiro do Norte. A vítima é parte da quadrilha. Aparentemente imóvel nos primeiros instantes em que tombou, poderia ter fingido morte para sobreviver, pois já na ambulância abre os olhos e é encarado por um policial. O óbito é registrado pouco tempo depois de entrar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Juazeiro.

Moradores da rua que dá acesso ao portão lateral do Hospital Municipal de Milagres amanhecem o dia com as calçadas formigando de gente tentando entender. Era só o começo das dúvidas.

Espera-se para esta semana o trabalho de reconstituição de toda a ocorrência. Comerciantes da Rua Presidente Vargas, onde ocorreu a operação que frustrou o roubo aos bancos, têm recebido avisos de que poderão fechar as portas por até dois dias, para a realização dos trabalhos. A Polícia não confirma.

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